Treme, YouTube: como o Instagram quer ser o novo rei do vídeo na internet
Como você procura assistir a vídeos pela internet atualmente? A resposta a essa pergunta, desde pelo menos 2006, envolve um grande nome: o YouTube. Mas o reinado do site do Google vai ganhar um concorrente de peso: o Instagram lançou nesta terça o IGTV e abriu um caminho para um duelo poderoso.
Você lembra quando seus amigos ou parentes usavam o Snapchat? E quando o Vine era popular e criava influenciadores? Pois é. O Instagram diminuiu bastante o poder das duas plataformas e agora chamou o YouTube para a briga. A nova plataforma IGTV funcionará tanto como um novo aplicativo quanto como uma opção dentro do Instagram, ao lado do ícone de Directs.
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Nesta novidade, produtores de conteúdo e usuários em geral poderão criar e postar vídeos de até uma hora - bem diferente dos tempos em que o app possibilitava apenas 15 segundos de vídeos. Será possível criar canais, seguir outros usuários e muito mais. Me diz se não lembra bastante o YouTube? Então...
A rede social, é claro, não afirma que quer roubar criadores e usuários do YouTube - só diz que o novo formato faz sentido para a ideia do aplicativo.
A ideia e a razão de existir vem muito pelo que a gente já viu no Instagram. Vemos mais como uma extensão do produto. Criamos em cima de algo do Instagram que já existe, não tentando ser outro aplicativo, bater de frente com outros. É mais como um próximo passo, assim como foi com o Stories Mike Krieger, brasileiro cofundador do Instagram
As armas do Instagram contra o YouTube
A batalha, de fato, promete. O Instagram, de um lado, anunciou juntamente com a IGTV que chegou a 1 bilhão de usuários. Já o YouTube possui 1,8 bilhão de usuários mensais ativos e conta com um modelo de negócio bem definido – e extremamente bem-sucedido - ao longo dos últimos quase quinze anos. E como então o Instagram pode ameaçar esse reinado online?
O caminho pode ser na base de usuários do próprio Instagram. Atualmente, muitos influenciadores da rede social acabam criando um canal no YouTube para divulgar vídeos mais longos (o famoso “link na bio”). O diferencial dessa nova plataforma é que todos os seguidores do ex-aplicativo de fotos já automaticamente seguirão as mesmas pessoas no IGTV. Para os criadores, essa base pode ser gigante.
“Esse é o público, esses criadores, a @lelepons tem 25 milhões de seguidores. Ela vê o Instagram como sua casa. São esses influenciadores que a gente vê com sucesso no primeiro dia e nos primeiros meses. Eles já veem o Instagram como sua casa”, afirma Krieger, ao tentar negar que buscará tirar criadores do YouTube.
Ele não quis falar, mas é óbvio que essa será a estratégia – fazer o consumo de vídeos passar do YouTube, que às vezes servia como uma extensão do Instagram, para o próprio app ou para o recém-lançado IGTV. Chances de sucesso existem, mas não será fácil.
O YouTube não é simplesmente um Snapchat, que na época era um aplicativo recente e extremamente popular que crescia bastante, principalmente entre jovens. O site do Google possui uma base de usuários gigante – e fiel – que pode ficar reticente em trocar a plataforma por outra.
Propriedade da Alphabet (a mãe do Google), o YouTube tem mais de 1,8 bilhão de usuários mensais, um número que rivaliza com o Facebook. Só que ao contrário da maior rede social do mundo, a plataforma de vídeos interessa a jovens e crianças, responsáveis pela criação de celebridades da internet que muitos adultos sequer sabem quem são.
Para os criadores, uma má notícia: a princípio, não haverá monetização do Instagram pelos conteúdos, como o YouTube já faz ao pagar os usuários. Segundo Krieger, isso será conversado nos próximos meses com os criadores para definir o que é melhor para a plataforma. O mesmo vale para anúncios – a princípio não existirão, mas a longo prazo eles podem aparecer.
Futuro da TV é no celular
Outra aposta do Instagram para bater o YouTube está no formato dos vídeos: serão exibidos todos na vertical, formato que usamos no celular diariamente. O YouTube, é bom lembrar, tem vídeos na horizontal, o que força você a rotacionar o smartphone. O site, comprado pelo Google em 2006 por mais de US$ 1 bilhão, foi fundado em 2005 e pensado para computadores. O YouTube até passou a exibir alguns vídeos na vertical pelo celular, mas a solução ainda não é a principal nem no app.
Não é o caso do Instagram, plataforma que já nasceu como um aplicativo. E por isso pode simplesmente ignorar telas na horizontal. O sucesso do novo IGTV pode estar exatamente nisso: smartphones têm se tornado a primeira tela da maioria das pessoas em detrimento do computador e até da televisão.
De acordo com estudo da Ericsson de 2017, 70% dos consumidores assistem a TV e vídeos no celular atualmente, mais do que o dobro do registrado em 2012. A mesma pesquisa aponta que smartphones são um quinto do total de visualizações, com aproximadamente seis horas por semana gastas vendo vídeos no dispositivo na média da pesquisa feita em 40 países.
Mas o estudo vai além: a Ericsson aponta que em 2020 metade das visualizações serão feitas em uma tela mobile, sendo metade desse número apenas em smartphones. A previsão é de que sete em 10 consumidores vão preferir serviços on-demand e outros formatos de vídeo no celular do que a TV linear tradicional.
Baseado nisso, o Instagram vai ameaçar também a televisão. E, por que não, a Netflix, ao criar mais uma plataforma para o usuário comum consumir vídeos online. Mas a plataforma é clara ao dizer que pretende focar só em conteúdos de usuários.
“Vemos o IGTV como só conteúdo de usuário não pago. É importante diferenciar e não tentar ser tudo. Tem diferentes lugares, pode assistir a uma série de uma hora bem produzida em um local e tem nosso diferencial dessa área de conteúdo de usuário, que sempre foi legal no Instagram. O IGTV terá um nível mais alto, mas não chegará a ser uma coisa multibilionária como são séries”, aponta Krieger.
O foco desse público que trocará a televisão pelo smartphone envolve principalmente os jovens. Não à toa, o Facebook – que também tem perdido usuários jovens – pode ver o Instagram como um aliado para a empresa permanecer “cool”. E, ao mesmo tempo, oferece suas próprias armas contra o YouTube, como o novo lançamento de ferramentas de enquetes e jogos para vídeos.
O estilo Facebook de eliminar a concorrência
A novidade do Instagram é mais um sinal de como o Facebook, como empresa, ataca a concorrência. Com o Vine bombando, o Instagram anunciou, em junho de 2013, que vídeos passariam a fazer parte da plataforma. Três anos depois, o Vine era fechado pelo Twitter, por ter sido engolido pela concorrência e perdido relevância.
No mesmo 2013, só que em novembro, o Facebook ofereceu US$ 3 bilhões para comprar o Snapchat, que fazia sucesso com vídeos instantâneos que desapareciam depois de serem visualizados. Evan Spiegel, executivo-chefe do Snapchat, rejeitou a compra na ocasião e viu sua própria rede social crescer e se popularizar com um público mais jovem, que passou a rejeitar ou usar menos o próprio Facebook.
Mark Zuckerberg começou pelo Instagram em agosto de 2016, introduziu as Stories popularizadas pelo Snapchat em literalmente todas as redes sociais controladas pelo Facebook. No final de 2017, Instagram e WhatsApp já superavam o próprio Snapchat naquilo que o fez popular. A derrocada final parece ter sido dada com um simples tuíte de Kylie Jenner,em fevereiro de 2018, que perguntou se alguém ainda usava o aplicativo.
O Instagram é a flecha do Facebook para atacar rivais em ascensão. Ou será que são rivais em geral? Com o anúncio do IGTV, a rede social famosa por seus blogueiros mira diretamente o YouTube como adversário a ser derrubado.
Comprado pelo Google por US$ 1,6 bilhão em 2006, o YouTube jamais seria vendido hoje em dia – um analista do Google opinou em 2017 que a plataforma valeria US$ 75 bilhões. Para não perder o público para a concorrência, restou ao Facebook uma competição franca contra seu maior adversário até agora.
Qual vai se dar melhor?
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