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Por que a panela de pressão elétrica virou o utensílio mais vendido nos EUA

Ela não parece muito atraente, mas ganhou o apelido de "panela mágica" -
Ela não parece muito atraente, mas ganhou o apelido de "panela mágica"

Do UOL, em São Paulo

05/05/2018 16h44

Muitos utensílios de cozinha têm fãs ardorosos, mas é raro uma mania se espalhar nos EUA como a da panela de pressão instantânea (Instant Pot ou IP). Ela está no mercado desde 2010, mas há meses virou moda e foi surpreendentemente o item mais vendido durante o dia promocional Prime Day, da Amazon.com, em julho do ano passado.

O dispositivo, especificamente o modelo 7 em 1 com capacidade de 5 litros, dominou o mundo da culinária doméstica com uma promessa ambiciosa: cozinhar lentamente, cozinhar no vapor, saltear e fazer iogurte --tudo de forma mais rápida e segura. 

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Em novembro, a CNBC noticiou que 5 milhões de panelas Instant Pot haviam sido vendidas em um período de três anos.

No Facebook, uma comunidade de fãs da panela reúne 400 mil pessoas, que compartilham receitas, histórias de sucesso e frequentemente declaram que a panela instantânea mudou suas vidas.

Por falar em receitas, no mundo dos livros de culinária, com apenas duas palavras cria-se um best seller: "Instant Pot".

Dois dos 10 principais livros de culinária de 2017 foram dedicados ao aparelho, segundo a revista Publishers Weekly. O livro "Dinner in an Instant" (Clarkson Potter, US$ 13,93), de Melissa Clark, vendeu 150 mil cópias --a colunista do New York Times estima que o último sucesso superou as vendas de seus 39 livros de receitas anteriores combinados.

Mas se você comentar sobre o aparelho para um chef, provavelmente verá uma cara de interrogação. Oficialmente, o dispositivo não deveria estar em uma cozinha profissional. "Nossos produtos atuais são projetados e certificados apenas para uso doméstico", disse YiQin, da InstantPot, à Bloomberg. 

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Um motivo óbvio pelo qual o aparelho não foi adotado pela comunidade dos restaurantes é a escala. A maior InstantPot tem capacidade de 7,5 litros, o que é pouquíssimo para a maioria dos restaurantes.

Um dos poucos chefs profissionais que admitem ter uma Instant Pot no restaurante é Jonny Hunter, do Underground Food Colective, de Madison, Wisconsin. Na verdade, ele tem cinco. Hunter é fã dos tempos de cozimento oferecidos pelo aparelho. "Normalmente são necessários 40 dias para fazer alho negro", diz, em referência ao intenso e pegajoso tempero asiático. "Eu consigo prepará-lo em seis horas."

A maioria dos pratos não pode ser acelerada pela Instant Pot, mas Hunter argumenta que até mesmo modestas economias de tempo são válidas para um cozinheiro ocupado. Os ovos cozidos são um exemplo:

Você leva oito minutos em um Instant Pot; do jeito normal, são 12 minutos. Os chefs dizem 'quem se importa com essa diferença?', mas eu economizo quatro minutos a cada vez e o cozimento é perfeito

Garrison Price, do il Buco Alimentari, de Nova York, também considera o aparelho útil para fazer iogurte de leite de cabra. "Você não precisa ficar de babá do iogurte que está sendo preparado em uma Instant Pot."

E por que a Instant Pot não cria um modelo para profissionais? A empresa parece já ter feito a mesma pergunta. "Estamos analisando todas as oportunidades para expandir o mercado de multipanelas de pressão elétrica. Nada é impossível", disse Qin.

Mas funciona mesmo?

Decidi testar, conta a repórter da Bloomberg Priya Krishna:

"Passei um dia inteiro cozinhando nela --de receitas básicas (risoto) a complexas (cheesecake)-- para conferir se os elogios rasgados procedem.

Existem alguns tipos de Instant Pot, incluindo uma sem a função de preparação de iogurte (6-em-1) e uma com Bluetooth (Smart). Optei pela campeã de vendas: 7-in-1 Pressure Cooker, que consiste de panela elétrica, grelha para vapor, copo para medida e diversos utensílios para servir.

O funcionamento é intuitivo: ligue na tomada, escolha o estilo (entre os botões pré-programados estão Sopa, Carne/Ensopado, Feijão/Chili, Aves, Cozimento Lento, Sauté, Arroz, Multigrãos, Mingau e Vapor) e ajuste tempo e configurações de pressão/aquecimento conforme necessário. Depois dessas definições, começa o cozimento. Quando termina, a máquina apita e pode se despressurizar sozinha ou o usuário tem a opção de soltar o vapor manualmente.

Fiz diversas experiências e convidei meus amigos para jantar e classificar os pratos --do melhor para o pior. Pato e porco foram os campeões, seguidos do risoto e do cheesecake. O pão foi para o lixo.

Se você for daqueles que temem comprar cortes de carnes mais caros por medo de errar na hora do preparo, a Instant Pot é ótima novidade. Sua capacidade de preparar alimentos embalados a vácuo e produzir pratos com carne como se viessem de um restaurante é inovadora. 

O sucesso do risoto entre meus amigos justifica os elogios que a panela recebe por preparar feijão, grãos e outros ensopados em muito menos tempo do que no fogão.

Outra vantagem é a limpeza. Como a maior parte do preparo ocorreu em uma única panela, eu tinha pouca louça para lavar após um dia inteiro de testes.

Como esperado, a Instant Pot deixou a desejar na hora de assar. Para alimentos de preparo rápido, também não faz sentido. Faço mingau de aveia em minutos no micro-ondas, mas a IP demora uns 10 minutos para acumular pressão e iniciar o timer.

A função sauté jamais substituirá minha frigideira. A Instant Pot não é um mestre-cuca. Mas para pessoas ocupadas que desejam colocar refeições completas e saborosas na mesa em pouco tempo, eu devo concordar com meus novos amigos no Facebook que se trata de uma panela mágica."

Panela inteligente ensina quem não sabe cozinhar

BBC Brasil