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Robôs substituem alguns empregos, mas não sabem lidar com pessoas

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Ashutosh Pandey (fc)

Deutsche Welle

05/04/2018 10h35

Robôs substituirão menos trabalhadores do que o que se pensava, aponta um estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os pesquisadores afirmam que 14% dos empregos nos países-membros da organização apresentam "alto risco de serem automatizados", enquanto pesquisas anteriores indicavam que a inteligência artificial iria eliminar quase metade das vagas.

Segundo o estudo, o risco de automação é altamente concentrado em empregos que exigem baixa qualificação, como faxineiros, preparadores de alimentos e trabalhadores agrícolas.

O relatório constatou que será difícil automatizar a maior parte dos empregos pois eles requerem a habilidade de lidar efetivamente com relações sociais complexas, incluindo o cuidado a outras pessoas e o reconhecimento de sensibilidades culturais.

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Ao contrário de outras pesquisas, o novo estudo levou em consideração as diferenças entre empregos que têm o mesmo nome. "A principal diferença é que o estudo se concentra nas tarefas individuais, e não no ofício", afirma Glenda Quintini, uma das duas autoras do estudo, em entrevista à DW.

Como exemplo, ela cita a diferença entre um mecânico que trabalha em sua própria oficina e outro em uma grande fábrica. "Eles têm o mesmo ofício, mas realizam tarefas diferentes", afirmou Quintini, acrescentando que o primeiro profissional pode ser menos vulnerável à automação do que o segundo.

Requalificação profissional

Os empregos em países de língua inglesa, escandinavos e na Holanda são menos propensos a serem automatizados do que as vagas no Leste e no Sul da Europa, bem como na Alemanha, Chile e Japão, segundo o estudo.

Quintini sublinha que a maior vulnerabilidade à automação não se dá só porque países como Alemanha – onde a inteligência artificial representa uma ameaça a 18% dos empregos – têm setores industriais maiores, mas também por causa da diferença em tarefas realizadas por trabalhadores em ocupações similares.

"Um trabalhador na Noruega, que enfrenta um risco extremamente baixo, está propenso a realizar trabalhos que já se adaptaram às mudanças tecnológicas e exigem mais inteligência social e cognitiva, além de criatividade, ao contrário de um trabalho na Alemanha", conta Quintini.

Ao mesmo tempo, o relatório cita a Alemanha como exemplo para mostrar como a requalificação pode apoiar a mudança de um emprego com mais para outro com menos vulnerabilidade.

"Na Alemanha, onde quase 40% de todos os funcionários passaram pelo menos por uma requalificação ocupacional em sua carreira, a segunda qualificação é para ocupações com risco sistematicamente menor de automação do que a primeira", afirma o relatório.

Educação reduz risco do desemprego

Os robôs representam uma ameaça sobretudo para os adolescentes, segundo o estudo. Hoje, a maioria dos adolescentes trabalha como operários, pessoal de vendas, garçons e ajudantes – funções com maior probabilidade de serem automatizadas.

"Os alertas em alguns países desenvolvidos de que os adolescentes têm tido mais dificuldades de encontrar empregos nos últimos anos devem ser levados a sério e ser estudados no contexto da automação de empregos", escrevem Quintini e sua coautora, Ljubica Nedelkoska, no relatório.

Quintini afirma que, enquanto a proporção de empregos em risco pela automação é muito menor do que anteriormente sugerido, ela ainda é um número muito grande para ser ignorado: 66 milhões de trabalhadores nos 32 países pesquisados.

Outros 32% dos empregos provavelmente sofrerão mudanças significativas, exigindo que trabalhadores e empresas se adaptem. As ocupações com maior risco de serem automatizadas são aquelas que exigem apenas nível básico a baixo de escolaridade.

Quintini enfatiza que os governos precisam fortalecer seus programas de educação de adultos para ajudar aqueles que são mais afetados a se adaptarem melhor às mudanças nas exigências do trabalho.

"A geração de empregos sempre será mais forte do que a eliminação de vagas", sublinha Quintini. "Mas trata-se de salvaguardar aqueles trabalhadores que enfrentam a perda de seus empregos e podem não ter qualificação suficiente para assumir os novos empregos que serão criados."