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Empresa brasileira está em busca da fonte da juventude no Vale do Silício

Sócios da OneSkin trabalham para manter a sua pele sempre jovem - Divulgação
Sócios da OneSkin trabalham para manter a sua pele sempre jovem Imagem: Divulgação

Gabriel Francisco Ribeiro

Do UOL, em São Francisco (EUA)*

01/04/2018 04h00

Lembra quando surgiu a primeira ruga na sua pele? Ou aquelas linhas de expressão no rosto? Até manchas, flacidez... Pois é, estes são só alguns dos sintomas do envelhecimento da pele que todos nós passamos ou iremos passar um dia. Mas isso pode ser reversível no futuro. Ao menos é o que brasileiros de uma startup que atualmente está em São Francisco (EUA) querem.

A OneSkin é uma empresa que busca tornar real a possibilidade de um produto cosmético diminuir o nosso envelhecimento na aparência. A companhia diz que busca “reprogramar o código da vida” e criar novos meios de viver e envelhecer. E alguns frutos já foram colhidos.

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A história da empresa começou na época do doutorado de três de suas fundadoras. Inicialmente, queriam produzir pele humana para substituir testes realizados em animais. Dessa ideia passaram para testes de substâncias que supostamente diminuem o envelhecimento até, agora, a busca por um produto próprio capaz de manter as pessoas com aparências jovens.

A estratégia é fugir do que já existe no mercado e é considerado pouco eficaz: os pesquisadores brasileiros buscam produtos capazes de reverter o envelhecimento ao combinar um modelo de pele humana reproduzida e envelhecida em laboratório a uma análise de eficácia de compostos. Ou seja: antes de lançar no mercado, o produto terá que ter sua eficácia provada cientificamente.

“Produzimos pele envelhecida e vimos que poderíamos medir se algo estava funcionando na pele envelhecida no laboratório. Temos uma ferramenta que é capaz de medir a idade do tecido, se está envelhecendo. Podemos testar tudo que está no mercado e ver se funciona”, aponta Carolina Oliveira, CEO da companhia,

Como funciona?

Por meio de tecnologias de última geração, a OneSkin consegue criar peles artificiais onde testa suas substâncias. Nesse processo, as células de um doador são replicadas ao serem misturadas com colágeno, ganhando também a adição de queratinócitos (células mais presentes na pele). Toda essa substância é colocada em um “ar líquido” que simula os estímulos que temos no ar.

Após 12 dias, a pela recriada por meio de tecnologias fica pronta para testes. Contudo, só dura uma semana e depois todo o processo é feito novamente. Com a ajuda de biomarcadores ligados ao DNA, a empresa consegue identificar a idade da pele – e se um composto está dando resultados ou não. Tudo isso é feito com a ajuda de um algoritmo que prevê a idade da pele.

“Estamos na fase de encontrar o composto. Estamos validando agora na pele e testando diferentes compostos. Os compostos precisam ser idealmente novos ou que sejam algo do mercado, mas reposicionados. Queremos ir para os estudos clínicos em seis meses”, afirma Carolina Oliveira.

OneSkin está atualmente em uma incubadora de São Francisco - Divulgação - Divulgação
OneSkin está atualmente em uma incubadora de São Francisco
Imagem: Divulgação

A ideia da OneSkin é ou criar o próprio produto ou vender para uma empresa de cosméticos futuramente. Em até 12 meses, a companhia já quer estar com um produto lançado no mercado.

O foco inicial da empresa é combater o envelhecimento da pele, mas há uma probabilidade (“grande”, segundo Carolina) de que as tecnologias aplicadas pela OneSkin funcionem também em outros tecidos. Com isso, poderiam ser apresentados produtos para combater infecções, por exemplo.

Do Brasil para São Francisco

Apesar de a maior parte da equipe da empresa ser de brasileiros, a OneSkin tem grande parte de seu funcionamento atualmente em São Francisco, na Califórnia. Dos oito funcionários da empresa, seis trabalham por lá e dois atuam no Brasil. Segundo Carolina, sair do país foi uma necessidade para a empresa crescer.

“Na biotecnologia você precisa validar uma hipótese científica para seu negócio e alguns recursos mínimos são necessários. No Brasil nós não tínhamos um investimento inicial para desenvolver o produto até um estágio mínimo, um laboratório com infraestrutura básica, uma mentoria de pessoas que entendem de um negócio na área de biotech e uma rede de contatos que permita que você tenha interações com potenciais clientes, parceiros e investidores”, explica.

Após participar de programas de crescimento de startups no Brasil como SEED e StartUp Brasil, a OneSkin foi aprovada na IndieBio, uma das maiores aceleradoras de startups de biotecnologia em São Francisco. Ficaram no projeto por quatro meses, nos quais Carolina destaca principalmente a mentoria que tiveram. Foram dicas de mentores que fizeram a companhia se recolocar no mercado de cosméticos e entender mais de negócios.

Agora, a empresa está na incubadora MDC Biolabs, onde aluga um espaço e equipamentos – todo o material básico é comprado pela própria OneSkin. Na incubadora, mantêm contatos e trocam experiências com outras startups. A falta de um produto para gerar lucros para a empresa, por sinal, não incomoda.

“O investimento é essencial. Estamos há dois anos trabalhando e ainda não temos um produto. Você vê empresas aqui com R$ 150 milhões em investimentos e não venderam nada há 10 anos. Investimento de biotech é gigante e dá retorno”, conta.

Em busca do seu composto, a OneSkin abriu recentemente um desafio para universidades. A ideia é buscar tecnologias para a área de envelhecimento, com um prêmio de US$ 10 mil para o melhor projeto. Interessados podem se inscrever no site da companhia.

*O repórter viajou a convite do Airbnb