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Castigo no Equador: ninguém dá a senha do wi-fi para Assange

Foto: AFP
Imagem: Foto: AFP

30/03/2018 12h50

O governo do Equador restringiu o acesso de Julian Assange às comunicações em sua embaixada em Londres, por ele ter violado um acordo no qual se comprometia a não opinar sobre questões de outros países. O fundador da plataforma WikiLeaks está refugiado na representação equatoriana no Reino Unido desde 2012.

"O governo suspendeu os sistemas que permitem que Julian Assange se comunique com o exterior da embaixada equatoriana em Londres", informou Quito nesta quarta-feira (28), em comunicado de imprensa, acrescentando que a decisão começara a ser aplicada no dia anterior.

As autoridades argumentam que "a medida foi adotada diante do descumprimento, por parte de Assange, do compromisso escrito que assumiu com o governo em dezembro de 2017, com o qual se comprometia a não emitir mensagens que representassem uma ingerência em relação a outros Estados".

O comunicado foi emitido depois que Assange criticou, pelo Twitter, a detenção do líder catalão Carles Puigdemont na Alemanha. Entre outros comentários, o fundador do Wikileaks escreveu que "a Alemanha tem seu primeiro preso político".

Horas depois, o Ministério do Exterior equatoriano informou que se reunirá na próxima semana, em Londres, com os advogados de Assange, a fim de explorar "medidas adicionais”.

Antecedentes

Apesar de sucessivos apelos das autoridades equatorianas, Assange voltara a se manifestar sobre questões políticas que afetam outros países na última segunda-feira, quando criticou pelo Twitter a decisão do governo britânico de expulsar diplomatas de Moscou, em resposta ao envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal.

"Embora seja razoável Theresa May pensar que o Estado russo é o principal suspeito, até agora as provas são circunstanciais", comentou o ativista.

O governo do Equador adverte que "o comportamento de Assange, com as suas mensagens através das redes sociais, põe em risco as boas relações que o país mantém com o Reino Unido, com os demais Estados da União Europeia e outras nações".

Esta não é a primeira vez que a atividade política de Assange causa incômodo ao Equador. Na campanha eleitoral de 2016 nos Estados Unidos, o governo Rafael Correa cortou temporariamente a internet de sua embaixada em Londres, pois Assange estava difundindo mensagens prejudiciais à candidata democrata Hillary Clinton.

O jornalista de 46 anos mora na embaixada do Equador em Londres desde junho de 2012, obtendo asilo em agosto seguinte. Desde 2010 era procurado pelas autoridades suecas, acusado de estuprar duas mulheres.

A Justiça sueca acabou arquivando o processo em maio de 2017, por não poder avançar na investigação das acusações. Entretanto, a Justiça britânica continua pedindo que Assange responda por não ter se comparecido a tribunal em 2012, como determinado pelos termos de sua liberdade condiciona. Essa infração pode ser punida no Reino Unido com até um ano de prisão.