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O Spotify entrou na Bolsa e vários de seus segredos foram revelados

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Imagem: Reprodução

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

01/03/2018 17h17

O Spotify, maior empresa global de streaming de músicas, pediu nesta quarta-feira (28) um registro para iniciar suas operações na Bolsa de Valores de Nova York.

Segundo o site TechCrunch, a estreia pública do Spotify na bolsa deve ocorrer entre o final de março e início de abril, mas os valores das ações ainda não estão claros. A estratégia do Spotify envolve permitir que os acionistas atuais (funcionários e investidores) possam vender suas ações diretamente na bolsa ao invés delas serem intermediadas por bancos, o que é considerada uma prática pouco comum no mercado financeiro.

Usando a sigla SPOT em suas ações, a empresa precisou abrir uma série de informações (a maioria até então desconhecidas do grande público) para que o processo fosse autorizado. Assim, alguns dos principais segredos da companhia sueca se tornaram públicos -  tudo foi tirado do documento oficial feito pela empresa para seu pedido de registro na Comissão de Segurança e Câmbio dos Estados Unidos. Acompanhe!

Brasil-il-il

O Spotify nasceu na Suécia em 2008 e hoje atua em mais de 61 países. Agora, o curioso mesmo é a fatia de mercado que o Brasil ocupa para a firma.

A companhia descreve em seu documento que sua participação no mercado brasileiro de streaming de música foi de 42% em 2016. Nos Estados Unidos e Reino Unido, essa fatia ficou entre 41% e 59%, respectivamente.

Com essa relação, a empresa acredita que Reino Unido, Brasil e Estados Unidos são os três mercados que mais possuem usuários ativos mensalmente entre os países em que o serviço funciona. Os dados acimas, diz a empresa, foram baseados em estimativas e relatórios feitos e divulgados por empresas especializadas.

“A Europa é a nossa maior região com 58 milhões de MAUs [usuários ativos mensalmente], representando 37% de nossa base de usuários total em 31 de dezembro de 2017. [...] Na América do Norte, os MAUs aumentaram 23% [de 2016 para 2017] e agora representam 32% de nossos MAUs”, descreve a empresa.  

“Nossas duas regiões de crescimento mais rápido são a América Latina, com 21% de nossos MAUs, um aumento de 37% de 31 de dezembro de 2016 para 31 de dezembro de 2017”, acrescentou.

Quantos usuários ele tem?

Até dezembro de 2017, o Spotify havia registrado o fluxo de 159 milhões de usuários ativos por mês, volume que cresceu 29% em 2016, quando tinha 123 milhões.

A base de usuários pagantes é bem menor de quem ouve o conteúdo de graça, mas ainda é considerável. Ao todo, 71 milhões de usuários assinam o serviço mensal. De acordo com a empresa, o plano pago cresceu uma média de 46% ano a ano.

Para se ter uma ideia, em 2015 o serviço era pago por “só” 28 milhões de pessoas. Em 2016, subiu para 46 milhões. A Apple Music, serviço de streaming concorrente, possui 36 milhões de assinaturas.

Um dado curioso é sobre a quantidade de horas de conteúdos transmitidos para cada usuário ativo por mês. Durante os últimos três meses de 2017, cada pessoa ouviu em média 25 horas de som.

Tamanho do acervo

Algum chute? Bom, até 31 de dezembro do ano passado, o serviço contava com 35 milhões de faixas e o que mais faz sucesso entre os usuários são as playlists temáticas.

Sabe aquelas músicas para ouvir em uma segunda-feira? Ou então quando está triste? Ou ainda conhecer os hits mais populares em qualquer país do mundo?

Então, são conteúdos nestes formatos que fazem a alegria da galera, segundo a empresa. Calcula-se que 31% de tudo o que é ouvido via o serviço vem destas listas.

Quem domina o Spotify?

Com um acervo deste tamanho, o próximo passa é descobrir quem são os donos dessas obras. E deu o óbvio: as três grandes gravadoras (Universal Music Group, Sony Music Entertainment, Warner Music Group) e mais o Merlin (principal representante global de artistas independentes) dominam o serviço. Juntas elas representaram 87% das músicas tocadas e transmitidas no ano passado.

Direitos autorais

Na indústria musical existem várias discussões sobre como os serviços de músicas online vão remunerar os artistas que as criaram e as produtoras responsáveis, entre outras coisas, pela comercialização e divulgação.

O quanto precisa ser pago é relativo e varia conforme o acordo feito entre cada parte. Em sua história, o Spotify afirma ter gasto mais de € 8 bilhões em royalties (pagamento pelo direito autoral) para artistas, selos de música e editores.

E esse quesito não para de encarecer. Os custos com royalties aumentaram 27% entre 2016 e 2017. Aqui vale lembrar que no período a empresa teve que refazer uma série de contratos, com muitos deles cobrando royalties maiores do que o contrato anterior.

“Mesmo que possamos garantir os direitos, gravadoras e outros proprietários de direitos autorais, artistas e/ou grupos de artistas podem se opor e podem fazer pressão pública ou privada sobre terceiros para interromper os direitos de licenciamento para nós [serviço de streaming], [...] ou aumentar as taxas de royalties. Como resultado, nossa capacidade de continuar a licenciar os direitos de gravações de som está sujeita a convencer uma ampla gama de partes interessadas do valor e qualidade do nosso Serviço”, descreve a empresa. 

Segundo o site Fortune, os direitos autorais são responsáveis por 79% das despesas da empresa para viabilizar o seu serviço. O Spotify não divulgou detalhes sobre os custos específicos com royalties.

É grande, mas perde

Apesar do Spotify ser a maior empresa em seu segmento, seu prejuízo operacional (despesas com tudo o que faz a organização funcionar) nos últimos três anos só aumentou. Em 2015, a companhia registrou perdas de  235 milhões. E isso deixando de lado as despesas com pesquisa e desenvolvimento; vendas e marketing; e verba administrativa (ex.: contas de água, luz, aluguel).

O que já não era nada baixo, continuam crescendo nos anos posteriores: € 349 (2016) e € 378 (2017).

Se considerarmos a perda financeira da empresa como um todo, os índices são bem mais altos. Entre 31 de dezembro de 2015, as perdas financeiras foram de € 230 milhões. Um ano depois, o número saltou para € 539 milhões 2016. Finalmente, em 2017, a cifra quase dobrou para € 1,23 milhão. 

Perde, mas também cresce

Mesmo com o alto índice de perda financeira, é importante dizer que a receita da empresa no mesmo período cresceu. Indo de  1,94 milhões em 2015 para  4,09 milhões em 2017. Este fluxo representou um crescimento de 45%, de acordo com o Spotify.

Para os investidores que se interessem por suas ações, a empresa lembra no documento que não tem como garantir que a taxa de crescimento seja maior do que suas despesas. O que é até óbvio.

“Nós tivemos perdas operacionais significativas no passado, e talvez não possamos gerar receita suficiente para sermos rentável, ou para gerar fluxo de caixa positivo de forma sustentada. Além disso, nossa taxa de crescimento da receita pode diminuir”, descreve a empresa.

De qualquer forma, logo em seguida o Spotify destaca que o investidor não deve considerar apenas o histórico de receita ou despesas operacionais como indicativo de desempenho no futuro. Por isso, antes de você sair investindo por aí seja no Spotify (ou qualquer outra empresa), é importante estudar bem o mercado e levar em conta todos os riscos.

Investimento em pesquisa cresceu

A alta concorrência com os serviços de streaming da Apple, do Google, Deezer talvez tenham impulsionado o crescimento de recursos para a área de pesquisa e desenvolvimento do Spotify.

Nos últimos três anos, o valor destinado ao setor saltou de  136 milhões para € 396 no ano passado.

O mesmo pode ser observado no investimento com vendas e marketing, que subiu de  219 milhões para  567 milhões entre 2015 e 2017.

Afinal, quanto custa o Spotify?

De acordo com o documento de registro, a empresa fez uma reserva de US$ 1 bilhão na Bolsa de Valores de Nova York. Mas é aí que surge a dúvida: quanto será que a empresa vale no total e o quanto ela poderá valer no futuro próximo?

Em dezembro do ano passado, fontes ligadas ao tema afirmaram que a empresa foi valorizada em pelo menos 20% nos últimos meses de 2017. Com essa alta, a empresa foi avaliada em US$ 19 bilhões. No primeiro semestre, esta estimativa era de US$ 16 bilhões.

Isso tudo foi antes do pedido para entrar na bolsa. Com isso, a expectativa é que o seu valor de mercado cresça ainda mais. Há quem acredite que seu valor chegará a US$ 23 bilhões. Vamos aguardar!