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Em meio a tensões com hotéis, Airbnb ignora grandes redes em novo serviço

Airbnb deixou grandes redes hoteleiras de fora da nova organização do site - Divulgação
Airbnb deixou grandes redes hoteleiras de fora da nova organização do site Imagem: Divulgação

Gabriel Francisco Ribeiro

em San Francisco (EUA)*

25/02/2018 04h00

Principal plataforma de hospedagens alternativas a preços usualmente mais baratos, o Airbnb anunciou na última quinta-feira (22) que passará a oferecer hotéis e pousadas entre as categorias de acomodações disponibilizadas em seu site. Mas não espere achar quartos de grandes corporações no serviço: ao menos por enquanto, o site quer ficar longe das redes hoteleiras gigantes.

A estratégia da plataforma passa, em um primeiro momento, pelos valores da companhia. Em conversa com o UOL Tecnologia, Jordí Torres, diretor regional da plataforma para a América Latina, deixou bem claro que as grandes cadeias hoteleiras simplesmente não se encaixam nos propósitos do Airbnb.

“As hospedagens em nosso site, inclusive as de pousadas e hotéis, precisam ser únicas, pessoais e locais. Isso significa que os espaços não são comoditizados. Eles precisam ter um toque único, e os proprietários têm que ser relevantes e conectados com a comunidade local. Não vemos isso vindo de grandes cadeias de hospitalidade, como os hotéis. Eles não se encaixam na nossa proposta”, afirmou.

O Airbnb já oferece em seu site há um tempo quartos em pousadas e hotéis. A mudança anunciada na última quinta envolve uma nova categorização em seu site, que é específica para essas e outros tipos de acomodações. A ideia é que a pesquisa do viajante tenha resultados mais “transparentes” com a realidade.

Airbnb x hotéis

O Airbnb e os hotéis travam uma batalha similar à que ocorre entre Uber e taxistas – por sinal, ambos os serviços que balançaram suas respectivas indústrias foram criados na cidade norte-americana de San Francisco. Apesar da disputa, Torres aponta, assim como o app de transportes, que há espaço para os dois competirem no mercado de turismo.

“Não acho que eles tenham um lugar no Airbnb pela proposta de valor, mas têm um lugar na indústria. Competimos, mas oferecemos as duas opções. Há momentos para ambas as propostas. A nova onda de viajantes que o Airbnb atrai é uma onda que está buscando experiências transformadoras”, opina.

Assim como com o Uber, o Airbnb também enfrenta alguns problemas com regulamentações em cidades pelo mundo. Na Europa, principalmente, vários municípios já sinalizam que passarão a controlar o número de hospedagens oferecidas na plataforma para gerenciar o turismo local. O Airbnb diz que isso é algo “natural e necessário”.

“Com o Airbnb crescendo como modelo, nós definitivamente somos relevantes para os ecossistemas das cidades que enviamos viajantes. Queremos ser bons para elas. Vamos trabalhar e ajudar todas as partes, não só acionistas. Visitantes, proprietários, governos, comunidades locais. Vamos achar um jeito de crescer como plataforma e para isso precisamos de conversas e regulamentações progressistas”, explica Jordí Torres.

Outra polêmica do Airbnb envolve a questão de pessoas que compram propriedades apenas para servirem como uma hospitalidade do Airbnb. O diretor da plataforma afirma que esses casos específicos, que podem causar deturpações no mercado imobiliário de cidades com limitações de propriedades, devem ter uma solução buscada pela plataforma em conjunto com as cidades.

Com a entrada da categoria de hotéis no site – e com as baixas taxas de comissões cobradas pelo Airbnb -, é possível que a guerra com grandes hotéis aumente, assim como com sites como o Booking e o Expedia. Em entrevista à Bloomberg, um representante da indústria hoteleira norte-americana já condenou o novo serviço do Airbnb. Vem mais pano para a manga por aí.

“Não importa se chamam de ‘pousada’ ou Plus, é só mais uma prova de que a companhia quer entrar no serviço hoteleiro enquanto evita regulamentações da indústria”, criticou Troy Flanagan, vice-presidente de uma organização que representa hotéis como Marriott, Hyatt e Hilton.

E o Brasil?

No Brasil, o Airbnb sofre até aqui menos tentativas de regulamentações do que, por exemplo, o Uber. Contudo, algumas cidades tentam buscar uma forma de controlar o serviço. Tudo isso em conversas com participações de hotéis também.

“Têm algumas conversas rolando. O Brasil é um mercado importante, muito valor virá das decisões que forem tomadas. Rio e São Paulo são grandes cidades para nós, o Nordeste também é uma grande oportunidade. Nós estamos conversando com várias jurisdições no Brasil. Tem uma indústria forte hoteleira que participa das conversas, mas estamos otimistas para o futuro”, afirma Jordí.

Atualmente, a empresa conta com 4,5 milhões de acomodações disponíveis em todo o mundo, das quais 160 mil estão no país. A empresa afirma que contou com mais de um milhão de hóspedes no Brasil em 2016, movimentando, segundo dados do FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), R$ 2,5 bilhões na economia nacional, incluindo a renda dos anfitriões e os gastos de hóspedes.

*O repórter viajou a convite do Airbnb