Entenda o Sarahah, o app de "feedback honesto" que está causando na web
Quem acessou as redes sociais nos últimos dias deve ter se deparado com menções ao novo app sensação do momento, o Sarahah. Apesar do nome parecer aquela saudação da umbanda, não é nada disso: trata-se de mais uma plataforma para as pessoas comentarem anonimamente sobre você, para o bem e para o mal.
A plataforma, de origem árabe (seu nome significa "franqueza"), foi criada em janeiro deste ano, mas só nos últimos dias vem chamando a atenção do público a ponto de escalar para o topo das paradas de apps mais baixados.
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No Android e no iOS, lidera a categoria de apps gratuitos no Brasil. Nos EUA, ele também vai bem, figurando atualmente no segundo lugar para iOS e também em segundo no Android, perdendo para YouTube e Facebook Messenger, respectivamente.
Funcionamento do Sarahah
O funcionamento dele é simples. Primeiro, cria-se uma conta com um e-mail, como em quase todo app. Ao concluir essa parte, você ganha uma URL personalizada, no estilo "fulano.sarahah,com", para que as pessoas possam opinar sobre o usuário. Se este resolver divulgar este endereço entre os amigos, logo poderá receber comentários anônimos. Há ainda uma busca para achar usuários que sejam conhecidos seus.
Quem acessar a tal URL verá um campo para escrever qualquer coisa sobre a pessoa e o seguinte pedido: "Leave a constructive message :)" (deixe uma mensagem construtiva). Não é necessário logar no Sarahah para comentar. E a única forma do autor do comentário se identificar é se decidir assinar com seu próprio nome no comentário, mas se isso acontecer, nada garante que ele usará um nome falso.
Os feedbacks não ficam expostos publicamente. Só quem poderá vê-los é o próprio usuário após o login. E quem criar uma conta por lá e resolver comentar logado nas páginas dos outros continuará na condição de anônimo. E não poderá editar ou deletar os comentários, apenas acrescentar outros. Não há ainda opção para responder aos feedbacks.
Mas o usuário pode deletar os comentários recebidos, além de favoritá-los, compartilhá-los com outras pessoas nas redes sociais --o comentário vira uma imagem com balão de quadrinhos-- ou mesmo bloquear o usuário via endereço de IP, que identifica a conexão de internet usada. Ou seja, anônimo ou logado, o computador e o usuário do qual foi feito o comentário não poderão mais enviar feedbacks, segundo os testes do UOL.
Nas configurações do app há um botão chamado "permitir pessoas não autorizadas a postar", que por padrão está ligado. Se você desligá-lo, poderá parar de receber textos anônimos. Mas essa informação ainda é pouco conhecida dos usuários.
Controvérsia
O Sarahah se define como uma "ajuda para descobrir seus pontos fortes e áreas de melhoria, recebendo feedback honesto de seus funcionários e seus amigos de forma particular". A empresa também promete não divulgar a identidade das pessoas que enviaram os feedbacks.
Na prática isso é muito bonito, mas a julgar pela repercussão nas redes sociais, a brincadeira pode descambar rapidamente para a zoeira ou mesmo o cyberbulling, como era de se esperar.
#Sarahah@Sarahah_com sera? pic.twitter.com/
— Marizinha (@Mari131099) 30 de julho de 2017
#Sarahah@sarahah_com hetero pic.twitter.com/
— thiago vergara (@thiagohnv) 30 de julho de 2017
#Sarahah@Sarahah_com Não que eu lembre ué SJKSNSJSJJSJSJ pic.twitter.com/
— Julia (@FranciscaoJulia) 30 de julho de 2017
Ainda não ficamos sabendo de nenhum grande problema envolvendo o Sarahah, mas o histórico recente sobre apps deste tipo revelam o potencial perigoso por trás das boas intenções.
Em 2010, a plataforma Formspring prometia quase a mesma coisa: no caso, estimulava perguntas mais "honestas" sob anonimato, para que o usuário possa responder mais sobre ele e seus pontos de vista.
O jornal "The New York Times" disse na época que o site se tornou-se, em dois meses, uma obsessão de milhares de adolescentes nos Estados Unidos, um lugar para comentários do tipo "você não é tão legal quanto acha que é" ou "você parece estúpido quando ri". Ele foi descontinuado em 2013.
Em 2014, o polêmico aplicativo Lulu deixou o mercado brasileiro. Nele havia a possibilidade de as mulheres avaliarem anonimamente todos os seus amigos homens do Facebook. Naquele ano, a Justiça do Distrito Federal havia concedido liminar para que o Lulu retirasse os dados e imagens de pessoas que não tenham consentido sua avaliação.
No ano seguinte, foi a vez do app Secret polemizar. Ele permitia a publicação de segredos sem a necessidade de identificação. Um juiz do Espírito Santo determinou que o aplicativo deveria ser removido das lojas de aplicativos no Brasil porque "diversas pessoas estão sendo vítimas de constrangimentos e ilícitos contra a honra sem que possam se defender, dado o anonimato das postagens no aplicativo".
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