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Parece uma borrachinha, mas este pequeno robô anda, salta, nada e cura

Pequeno robô tem movimentos inspirados em lagartas e consegue rastejar, andar e nadar dentro do corpo humano - NYT
Pequeno robô tem movimentos inspirados em lagartas e consegue rastejar, andar e nadar dentro do corpo humano Imagem: NYT

James Gorman

02/02/2018 04h00

Pesquisadores na Alemanha desenvolveram um robô milimétrico que, à primeira vista, parece apenas uma tira de algo borrachudo. Então, ele começa a se mexer.

O robô caminha, salta, engatinha, rola e nada. Ele até consegue sair de uma poça, indo de um ambiente aquoso para outro seco.

O protótipo de robô é pequeno o bastante para se locomover no sistema urinário ou digestivo, diz Metin Sitti, diretor do departamento de inteligência física do Instituto Max Planck para Sistemas Inteligentes, em Stuttgart, Alemanha, que chefiou a equipe de pesquisa.

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O robô ainda não foi testado em humanos, mas o objetivo é aprimorá-lo para fins médicos – por exemplo, levar medicamentos a um alvo dentro do organismo.

Segundo Sitti, o mais extraordinário na pesquisa é que um "robô minimalista" tenha a capacidade de se deslocar "de todas as formas para navegar em ambientes complexos".

Leif Ristroph, matemático do Instituto Courant, da Universidade de Nova York, que desenvolveu um pequeno robô voador capaz de imitar o movimento de uma medusa, escreveu em e-mail: "O conjunto de comportamentos e capacidades é realmente impressionante e o distingue da maioria dos outros".

Essas criaturas são fofas. Adoro como os autores colocam esses sujeitinhos em percursos com obstáculos minúsculos

"Meu outro pensamento é que o piloto, que não vemos, também é bem impressionante. Claramente, quem quer que esteja controlando os campos magnéticos conquistou uma intuição obtida a duras penas e habilidades refinadas baseadas em uma série de experiências de tentativa e erro", acrescenta Ristroph, que não participou da pesquisa.

A pesquisa foi divulgada na revista científica "Nature". A seguir, trechos de uma conversa telefônica com Sitti. O diálogo foi editado por razões de tamanho e clareza.

P: Do que o robô é feito e como ele funciona?

R: Nosso robô é feito de borracha elastomérica, preenchida com muitas partículas magnéticas pequenas. Nós programamos as propriedades magnéticas dessas partículas de tal forma que de fora, quando aplicamos um campo magnético, o robô elástico cilíndrico muda seu formato para qualquer coisa desejada.

Com isso, ele faz todos esses movimentos diferentes. Quando se observa essa coisinha rastejando, pulando e tudo mais, parece uma criatura.

P: Que tipo de trabalho esse novo robô deve fazer? E as versões futuras?

R: Uma das metas principais é colocar esse minúsculo robô macio em nosso sistema digestivo ou urinário – e, no futuro, no sistema vascular –, pois ele tem a capacidade de navegar por todos esses tecidos complexos, superfícies completamente cobertas com fluidos ou quase cheias ou sem fluidos.

Se você examinar os equipamentos médicos como nós, verá que os menores são cateteres, que tem um milímetro de diâmetro, e eles sempre estão presos. Então, o principal objetivo ao produzir esses robôs minúsculos é alcançar áreas de difícil acesso ou de acesso impossível em nosso corpo, com invasão mínima.

Os robôs já são pequenos o suficiente para nossos sistemas digestivo e urinário. Gostaríamos que fossem ainda menores, chegando a dezenas de mícrons, para atingirmos praticamente qualquer lugar dentro do organismo.

P: E o senhor acha que um dia ele poderá carregar medicamentos?

R: Uma das funções que estamos explorando é como transportar uma carga, que poderia ser um remédio, dentro do corpo. Existem métodos diferentes. Com uma mudança de formato do robô, podemos agarrar a carga e liberá-la ao mudar sua forma.

A segunda maneira seria criando um bolso pequeno no robô que somente abriria com uma mudança especial de formato que nós podemos controlar.

P: A pesquisa foi inspirada no movimento da medusa, lagartas e outros animais?

R: Em resumo, pegamos todas essas inspirações e as fundimos em um robô. Esse é outro desafio científico que vencemos neste estudo: como combinar lagartas, medusas e todos esses minúsculos organismos moles em um robô relativamente minimalista que pode realizar todos os tipos de movimentos para navegar em ambientes complexos.

P: E se ele se perder no organismo?

R: Esta versão não era totalmente biodegradável. Um dos projetos em que estamos trabalhando é a criação de um robô totalmente biodegradável. No final, ele seria dissolvido no corpo, sem efeitos colaterais, sem toxicidade e nenhum tipo de material que prejudicasse nosso organismo.

Esse é um dos objetivos centrais do meu grupo, e é possível. Quer dizer, temos elastômeros e nanopartículas magnéticas completamente degradáveis no corpo. É só uma questão de integrá-los.