Topo

Com fim da privacidade, há quem defenda venda de dados pessoais

Especialistas defendem que as pessoas deveriam lucrar com as próprias informações pessoais já que não possuem privacidade. - Getty Images
Especialistas defendem que as pessoas deveriam lucrar com as próprias informações pessoais já que não possuem privacidade. Imagem: Getty Images

Michelle Jamrisko e Mark Miller

06/09/2018 13h01

Se a privacidade é realmente uma coisa do passado, então as pessoas deveriam pelo menos lucrar com as próprias informações pessoais.

Esta é a visão sobre os direitos de dados defendida por Brittany Kaiser, que veio a público neste ano para testemunhar sobre como seu ex-empregador, a Cambridge Analytica, consumiu indevidamente os dados de milhões de usuários do Facebook. Esta perspectiva é compartilhada por um número cada vez maior de usuários da internet em todo o mundo, que estão se dando conta de que os impérios online do Facebook e do Google se baseiam nos dados concedidos por eles sem nenhuma compensação.

VEJA TAMBÉM:

Do busão ao aeroporto: reconhecimento facial é realidade no Brasil
Smart TV pode rastrear o que você vê e ganhar com anúncio
Por que o Facebook não para de entregar nossos dados?
Entenda por que anúncios te perseguem após pesquisas na internet

A questão é como. O Facebook, por exemplo, poderia distribuir tokens digitais para seus 2,2 bilhões de usuários em troca das informações íntimas usadas todos os dias pelos anunciantes na rede social, sugere Kaiser.

"A privacidade não existe em uma era de crise pós-Facebook", disse Kaiser na cúpula Sooner Than You Think, organizada pela Bloomberg em Cingapura. "Os ativos digitais que você produz todos os dias são seu próprio valor humano. Você deveria poder ser dono deles e receber uma parcela dessa monetização."

Do ponto de vista pessoal, a propriedade e o controle reais dos dados implicaria colocar todas as suas informações - desde inclinações políticas e preferências sobre produtos até histórico médico - em um lugar, para que as pessoas possam decidir quem terá acesso e em quais condições. Isso pode significar qualquer coisa: da venda ao uso limitado em troca de um serviço gratuito (como o Facebook) - ou mantê-los completamente privados.

A privacidade simplesmente não é possível nesta era de crise pós-Facebook, disse Kaiser. No entanto, os consumidores devem evitar o "fomento ao medo" ou se apegar à ideia de que nenhum dado é seguro. Como exemplo, ela mencionou o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados da União Europeia, que entrou em vigor em maio e se concentra na proteção de dados pessoais. As empresas agora enfrentam regras mais rígidas sobre o consentimento e multas maiores por quaisquer violações de dados. Essa estrutura está ajudando a levar os EUA a adotar uma legislação mais rigorosa, disse ela.

Em última análise, trata-se de afirmar o controle sobre seus próprios bens valiosos.

"É exatamente como com o Airbnb: se alguém for usar seus ativos físicos, seria normal chegar a um acordo sobre o preço e sobre o que eles vão fazer com o imóvel antes de entregar as chaves de sua casa", disse Kaiser. "Por que seria diferente com seus dados?"