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Ausência de caixa-preta dificulta investigação em carros Tesla

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Imagem: Reprodução/Twitter

Alan Levin

04/04/2018 12h06

Quando um Tesla Model X bateu em uma barreira rodoviária de concreto na Califórnia, no mês passado, os computadores do veículo guardavam um rico conjunto de informações sobre os instantes que antecederam o acidente fatal.

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O problema dos investigadores de acidentes dos EUA é que o acesso a essas informações não é fácil. Os dados armazenados no Tesla estão em formato próprio que só pode ser acessado pela empresa. Do mesmo modo, as informações que os veículos transmitem regularmente aos computadores da Tesla não podem ser obtidas sem a cooperação da empresa.

"Isso torna a investigação ainda mais desafiadora", disse Peter Goelz, ex-diretor administrativo do Conselho Nacional de Segurança dos Transportes dos EUA (NTSB, na sigla em inglês), atualmente vice-presidente sênior da O'Neill & Associates, uma firma de lobby e relações públicas de Washington.

Ao contrário do valioso conjunto de informações contido nos gravadores à prova de colisões de um avião -- as chamadas "caixas-pretas", que captam dados de voo e sons da cabine do piloto em formato de fácil acesso --, o NTSB precisa da ajuda de fabricantes de veículos como a Tesla para visualizar as informações do crescente número de veículos autônomos e semiautônomos.

Isso exige uma relação de cooperação que parece estar sendo testada pelo acidente mais recente, ocorrido em 23 de março. A agência afirma que a Tesla tem colaborado, mas a decisão da empresa, na sexta-feira, de divulgar informações sobre a investigação sem a permissão do NTSB e a crítica do presidente do conselho e CEO da empresa, Elon Musk, ao conselho de segurança, feita na tarde de segunda-feira pelo Twitter, aumentaram as tensões.

Musk defendeu a decisão de sua empresa de divulgar informações. "Muito respeito pelo NTSB", disse, no Twitter, acrescentando: "a Tesla divulga imediatamente dados fundamentais sobre colisões que afetam a segurança pública, e sempre agirá assim. Seria inseguro fazer o contrário."

A divulgação de dados por um participante oficial de uma investigação do NTSB é proibida por lei e pelos acordos que as partes da investigação são obrigadas a assinar. Além disso, é bastante incomum que um participante faça críticas ao NTSB durante uma investigação em andamento.

Padrão para dados

A tensão surge em um momento em que o NTSB busca um acesso maior às informações dos veículos autônomos. No ano passado, nas conclusões sobre outro acidente fatal envolvendo um Tesla, o NTSB pediu que os órgãos reguladores do transporte rodoviário criem padrões para a coleta de dados em veículos com sistemas automatizados e os tornem "disponíveis rapidamente".

A Administração Nacional de Segurança do Tráfego Rodoviário dos EUA (NHTSA, na sigla em inglês) respondeu que está trabalhando com grupos do setor para definir esse padrão. Até lá, a agência dependerá da orientação voluntária das empresas, como ocorre atualmente, informou a agência, em carta ao NTSB, em 7 de fevereiro.

A Tesla divulgou comunicado em seu website, na sexta-feira, afirmando que o motorista do Model X morto em acidente na Califórnia estava usando o sistema semiautônomo da empresa e não segurou o volante nos seis segundos que precederam o impacto. A empresa também jogou a culpa pela gravidade do acidente na condição da barreira rodoviária, que segundo a Tesla, carecia de um dispositivo para absorver o impacto.