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China observa escândalo do Facebook em meio à batalha pela IA

Marc Champion e Keith Zhai

02/04/2018 16h39

O escândalo do suposto uso abusivo de informações de usuários do Facebook se desenrola muito longe da China, mas ainda assim os órgãos reguladores de privacidade de Pequim observam tudo com atenção.

O interesse deles mostra como os três grandes atores do mundo da tecnologia - os americanos, os chineses e os europeus - avançam com cautela para equilibrar as exigências de privacidade dos consumidores e de segurança dos governos.

Mas eles também competem para ver quem definirá as regras do jogo para as empresas de internet e, especialmente nos casos dos EUA e da China, para ampliar o acesso aos dados em busca de um objetivo maior: dominar a inteligência artificial, a próxima fronteira da aprendizagem de máquina.

"Todos esses governos e empresas tentam descobrir como deve ser a governança de dados", disse Samm Sacks, membro sênior do programa de tecnologia do Center for Strategic and International Studies, um think tank de Washington. "E isso está acontecendo em um contexto global que terá implicações no comércio, na pesquisa e no desenvolvimento em IA."

Os novos padrões de privacidade da China entram em vigor em 1º de maio. O abrangente Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados da União Europeia entra em vigor pouco mais de três semanas depois.

Agora, a perspectiva de uma legislação mais rígida para privacidade de dados nos EUA ficou ainda mais próxima. O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, se prepara para prestar depoimento no Congresso para informar como a Cambridge Analytica, empresa que trabalhou na campanha eleitoral de Trump, conseguiu dados de 50 milhões de usuários do Facebook. A notícia ajudou a derrubar as ações do setor de tecnologia nos EUA e na China na semana passada.

"Esse incidente com o Facebook soou o alarme dos órgãos reguladores e controladores de dados da China", disse Lu Chuanying, pesquisador de cibersegurança do Shanghai Institute for International Studies, que ajudou a redigir o projeto do novo padrão de privacidade de dados para as empresas de tecnologia da China.

"Se isso for um problema para a maior plataforma de rede social dos EUA, pode ser um problema para as empresas chinesas", que enfrentam uma possível responsabilidade pelo abuso de dados por terceiros, disse.

A IA explodiu nos últimos anos porque há cada vez mais conjuntos de dados disponíveis para serem explorados por algoritmos.

Na robótica, no reconhecimento de linguagem e de imagem, na saúde e nas aplicações militares, muitos acreditam que a IA impulsionará o crescimento econômico futuro e definirá uma grande competição por poder. Como disse o presidente russo, Vladimir Putin, no ano passado, "aquele que se tornar líder nessa esfera dominará o mundo".

O presidente da China, Xi Jinping, estabeleceu o plano ambicioso de dominar a IA até 2030 e ultrapassar os EUA. Com isso, a produção bruta da indústria de IA chinesa aumentaria 10 vezes nos próximos três anos, para 150 bilhões de yuans (US$ 24 bilhões), e para 1 trilhão de yuans até 2030.