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Os mistérios do Sol revelados pela sonda Parker, a 1ª a 'tocar' borda da nossa estrela

A sonda Parker não pode enviar foto do Sol à Terra porque sua câmera derreteria ao mirar a estrela - Getty Images
A sonda Parker não pode enviar foto do Sol à Terra porque sua câmera derreteria ao mirar a estrela Imagem: Getty Images

06/12/2019 09h55

Reportagem da revista Nature dá pistas do porquê a atmosfera do Sol é muito mais quente do que sua superfície, entre outras respostas.

A sonda espacial Parker foi lançada em 2018 com uma missão e tanto: desvendar os mistérios de um dos lugares menos explorados do Sistema Solar, sua própria estrela central.

E um ano depois, a missão da Nasa publicou nesta quarta-feira suas primeiras observações a partir da borda da atmosfera do Sol, onde nenhuma outra missão havia chegado antes.

As revelações, distribuídas em quatro artigos publicados pela revista científica Nature, oferecem pistas sobre mistérios que intrigam a comunidade científica há décadas.

Uma delas é: por que a atmosfera do Sol é muito mais quente que sua superfície?

A superfície solar tem uma temperatura de aproximadamente 5.500º C. Sem dúvida, extremamente quente, mas isso pode parecer fresco quando comparado à temperatura da chamada coroa (parte mais externa da atmosfera solar), onde ela pode chegar à casa do milhão de graus Celsius.

Uma 'explosão' constante

As observações da Parker revelaram que em vez de serem irradiadas, as partículas do vento solar parecem ser liberadas como jatos explosivos. Tim Horbury, um dos membros da equipe de pesquisadores da missão, descreve o processo como uma constante "explosão".

"Apenas analisando os dados de duas órbitas, ficamos realmente surpresos com o quão diferente é a coroa vista de perto, quando comparamos com a observação feita a partir da Terra", explica Justin Kasper, professor de Ciência e Engenharia Espacial da Universidade de Michigan (EUA) e líder da equipe que desenvolveu o SWEAP (Solar Wind Electrons Alphas and Protons) da sonda, conjunto de instrumentos sensoriais dedicado à medição do vento solar.

Anteriormente, acreditava-se que a vibração dos campos magnéticos do Sol tinha um papel fundamental no aquecimento da coroa.

E as publicações recém-divulgados mostram que, de fato, as vibrações ficam mais fortes à medida que se aproxima do Sol.

No entanto, além das vibrações, a equipe da Nasa notou o papel adicional de ondas poderosas, que Kasper compara a "ondas enormes e irregulares no oceano".

Essas "ondas" fariam com que a velocidade do vento solar aumente cerca de 500 mil quilômetros por hora. É possível que cada uma delas dure de segundos a minutos, portanto, em questão de segundos, o vento solar retornaria à normalidade.

"Estamos realmente empolgados, porque acreditamos que provavelmente isto abre um caminho para entendermos como a energia se move do Sol para a atmosfera, aquecendo-a", diz o professor.

Em um período de observação de 11 dias, a equipe que monitora o SWEAP também verificou diferentes picos na velocidade das partículas relacionadas com estas alterações no campo magnético.

A equipe da Parker pôde observar ainda que o movimento rotacional das partículas ao redor do Sol chega a 35 e 50 quilômetros por segundo, uma velocidade 10 vezes maior que a estimada no passado.

A origem do vento solar

A origem do vento solar é outra descoberta da sonda solar.

Existem ventos rápidos, cuja origem é sabida nas manchas solares ou buracos coronais (regiões onde a coroa solar é escura).

E há ventos mais lentos, que sopram menos de 500 quilômetros por segundo e cuja origem permanece desconhecida.

Algumas teorias sugerem que os ventos lentos podem se originar das serpentinas de capacete, grandes estruturas magnéticas presentes em áreas ativas do Sol. Mas a missão da Nasa sugere agora que os orifícios coronais de baixa latitude constituem uma fonte para este tipo de vento solar.

Nos próximos seis anos, a sonda seguirá uma órbita elíptica cada vez mais próxima do Sol até que tecnicamente o "toque".

As novas observações foram feitas quando a Parker estava a cerca de 24 mil quilômetros da superfície da estrela, mas no futuro espera-se que a sonda se chegue a 6 mil quilômetros, um recorde de aproximação para uma nave.

Devido à proximidade com a estrela do Sistema Solar, a Parker não pode enviar fotos para a Terra porque sua câmera derreteria se mirasse o Sol.

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