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Ricardo Cavallini

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Censurados nas redes, museus colocam obras de arte com nudez no OnlyFans

Coleção de obras de Egon Schiele no Leopold Museum, em Viena - Peter Rigaud/ WienTourismus
Coleção de obras de Egon Schiele no Leopold Museum, em Viena Imagem: Peter Rigaud/ WienTourismus

22/10/2021 11h11

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É relativamente frequente termos notícias de conteúdos erroneamente considerados impróprios nas redes sociais. Peças de arte, que já foram muito censuradas fora da rede, passam bastante por isso.

O Vienna Tourist Board, órgão que concentra as informações sobre turismo e lazer em Viena, resolveu mover o conteúdo "explícito" dos museus da cidade para a plataforma OnlyFans, conhecida pelo material adulto e pornográfico. O motivo da ação foi a constante punição às obras de arte que expõem nudez nas outras plataformas.

Não deixa de ser também uma ação de marketing, para chamar atenção e divulgar o conteúdo explícito que existe em vários museus da cidade. Porém, apesar do marketing, o movimento levanta uma discussão maior que conteúdo adulto em si. Um museu precisando botar suas obras de arte no OnlyFans mostra como as redes sociais estão distorcidas.

As big techs, em especial o Facebook, precisam melhorar muito suas regras, sua inteligência e até seu trabalho de revisão humana do conteúdo que rola em suas plataformas.

Enquanto fake news e outros absurdos continuam rolando soltos nas redes, regras burras são usadas para definir o que pode e o que não pode na rede.

Tem um seio à mostra? Não pode. Mas é arte a obra "A Liberdade guiando o povo" que está exposta no Louvre, em Paris. Não pode, mesmo assim. E mulher amamentando? Não pode também.

Esta semana um amigo disse no Facebook que "fui comer esfiha naquele árabe sujo". Ele se referia ao restaurante sujo, não era uma agressão ao povo árabe. Mas a rede social não conseguiu notar a diferença, pois obviamente a frase caiu em uma regra simples de palavras-chave.

Como essas empresas, que investem bilhões em inteligência artificial e têm os melhores especialistas do mundo no assunto, não conseguem resolver problemas simples como esses?

Enquanto isso, algumas celebridades têm chancela da rede para quebrar as regras da comunidade como quiserem. E, claro, as fake news continuam rolando soltas, principalmente via robôs.

Por outro lado, o Twitter resolveu proibir justamente os robôs cujos serviços ajudam a sociedade. Caso do robô do projeto Operação Serenata de Amor, cuja função é analisar gastos parlamentares suspeitos e alertar a sociedade —foi suspenso por marcar os políticos em seus tuítes.

Considerado pela empresa como spam, o robô precisou parar de marcar os políticos, se tornando muito menos efetivo. A comunidade se juntou para defender o serviço, mas o Twitter simplesmente ignorou os pedidos.

Segundo a advogada especialista em direito digital Flavia Penido, "o Twitter confunde, não sabemos se propositalmente ou por desconhecimento, o conceito de spam com o de jornalismo. Spam é a mensagem indesejada ou não autorizada, realizada em massa; jornalismo é dar ciência à parte citada do seu texto veiculado, postado —e postagem é publicação— para que referida parte tenha o direito de rebater aquele conteúdo. São conceitos claramente distintos".

"Além disso, figuras públicas (caso dos parlamentares) têm o direito à privacidade restringido quando tratamos de fatos de ordem pública. Não há sentindo em afirmar que marcar o perfil de uma figura pública configura spam; e é isso que o Twitter faz: coloca na mesma cesta 'veja o meu disco' disparado para 10.000 pessoas com a marcação de uma figura pública a respeito de matéria publicada sobre ela."

No final das contas, nas redes sociais, se proíbe o que não deveria e não se pune quem abusa. O ambiente mais selvagem movimenta as redes e, consequentemente, seu lucro.

Não é falta de dinheiro, não é falta de talento, nem mesmo parece ser descaso. Parece mais algo pensado, estratégico.