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OPINIÃO

Animal Crossing é conflito entre a Nintendo genial e a que parou no tempo

Cultiva flores híbridas é uma loteria: nem sempre funciona como deveria - Reprodução
Cultiva flores híbridas é uma loteria: nem sempre funciona como deveria
Imagem: Reprodução

Rodrigo Lara

Colaboração para o START

25/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Apesar de ser um ótimo jogo, o novo Animal Crossing derrapa em diversos aspectos técnicos
  • Interações online entre os jogadores são pouco intuitivas e bastante trabalhosas
  • Problemas de design e interface também fazem o jogador perder tempo com tarefas repetitivas

Nós já falamos aqui sobre como Animal Crossing: New Horizons, estreia da franquia no Switch, tem a capacidade de ser uma vacina para o estresse, capaz de fascinar quem joga e uma ótima opção para reunir os amigos em tempos de distanciamento social.

E, falo por experiência própria: basta um leve deslize que te coloque no mundo de Animal Crossing e fica difícil sair. De uma hora para outra, suas prioridades se tornam cultivar campos de flores, capturar insetos, ampliar sua casa, vender turnips pelo maior preço possível e por aí vai. E, claro, lidar com o capitalismo sem limites do empresário do ramo de ilhas desertas Tom Nook.

Mas, com o perdão do trocadilho, nem tudo são flores no game. Ao mesmo tempo em que Animal Crossing é um exemplo claro de como a Nintendo tem um poder ímpar de encantar, ele também mostra que a empresa parou no tempo em aspectos importantes.

E o pior: alguns deles têm o potencial de definir negativamente a experiência dos jogadores, especialmente os menos pacientes.

Online engessado

Vamos começar por aquele que parece ser o pesadelo da Nintendo na última década: o modo online. Uma das partes mais bacanas de Animal Crossing é receber amigos na sua ilha, visitar as criações alheias e trocar itens.

O problema é que, para isso, o processo é relativamente longo, conforme descrevo a seguir:

  1. Use algum meio de comunicação da vida real, como telefone ou WhatsApp, para chamar a pessoa cuja ilha você quer visitar;
  2. Peça para que ela vá até o aeroporto da ilha e gere um Dodo Code e escolha deixar os portões do aeroporto aberto para todos;
  3. De posse desse código, vá você até o aeroporto da sua ilha, escolha visitar uma ilha online, insira o código recebido e comece a viagem;
  4. Torça para o Switch da pessoa dona da ilha não entrar em modo de espera, do contrário a conexão é encerrada.

Detalhe: pouco importa se você quer jogar com pessoas que estão na sua lista de amigos do Switch. Seja com quem for, o processo é exatamente o mesmo e só é relativamente simplificado se você adicionar os visitantes ou a pessoa que você está visitando na lista interna de amigos do game.

Animal ilha - Reprodução - Reprodução
Para ter visitantes na sua ilha é necessário gerar um código específico, num processo trabalhoso e burocrático
Imagem: Reprodução

Uma vez que você esteja em uma partida online, toda e qualquer comunicação com os visitantes se dá por mensagens escritas —quem precisa de chat de voz, não é mesmo?— e, o mais irritante: sempre que há um novo visitante ou alguém está indo embora da ilha o game mostra a mensagem de partida e passa por uma pausa.

O jogo permite criar apenas um arquivo de salvamento por videogame, então contas secundárias acabam ficando atreladas à ilha criada pelo perfil principal

Há, porém, uma forma de visitar ilhas aleatórias e inabitadas (ao menos por ocupantes controlados por jogadores), que é usar um item chamado Nook Miles Ticket. O problema é que, nesse caso, você fica limitado a lugares no mesmo hemisfério que a sua ilha, o que impede a obtenção de itens diferentes.

Por fim, ainda no quesito multiplayer: se você divide o Switch com algum familiar, tenho más notícias. O jogo permite criar apenas um arquivo de salvamento por videogame, então contas secundárias acabam ficando atreladas à ilha criada pelo perfil principal, o que impede, por exemplo, que o jogador com esse perfil secundário consiga avançar no jogo.

Processos burocráticos

Outro problema crônico de Animal Crossing: New Horizons é a sua interface extremamente burocrática.

Se você está em uma loja e quer comprar duas unidades de, vejamos, uma vara de pescar, você terá que comprar uma unidade por vez. Se quiser comprar itens diferentes, o processo é o mesmo: um a um. Na hora de vender, mais problemas. Supondo que você tenha coletado dez unidades de uma fruta, você não tem qualquer opção na loja para vender, sei lá, sete dessas dez unidades. A única forma de fazer isso é separar essas frutas no próprio inventário, uma a uma.

Pode parecer uma tremenda bobagem, mas é aquele tipo de situação que irrita pouco a pouco e mina parte do dinamismo do jogo. E eu garanto que essa burocracia surge nos mais diversos formatos e em muitos momentos do jogo.

Animal inventário - Reprodução - Reprodução
Organizar o inventário é um sofrimento
Imagem: Reprodução

Quer um exemplo? Experimente usar o sistema de crafting do jogo para produzir mais de uma unidade do mesmo item - uma situação típica é quando a loja de Timmy e Tommy está comprando determinados itens por um preço mais alto e você quer aproveitar recursos inutilizados para fazer uma grana adicional.

Outro momento de burocracia desnecessária surge na hora de organizar o seu inventário. Não há qualquer opção para, simplesmente, organizar os itens por tipo, ordem de aquisição ou alfabética

Neste caso, você terá que fazer os itens um a um, em um processo que tende a consumir muitos minutos que poderiam ser usados para outras coisas no game.

Outro momento de burocracia desnecessária surge na hora de organizar o seu inventário. Não há qualquer opção para, simplesmente, organizar os itens por tipo, ordem de aquisição ou alfabética. No meu caso (e também no de amigos) levou alguns dias até saber que se eu apertar o botão A sobre um item e segurar esse botão, posso arrastar e reposicionar o objeto dentro do meu inventário.

Sistemas pouco transparentes

Animal árvores - Reprodução - Reprodução
Criar um pomar dá trabalho, e árvores nem sempre crescem como o esperado
Imagem: Reprodução

Se você já tentou criar um pomar com árvores frutíferas separadas por tipo ou, ainda, plantar flores de maneira a criar cores híbridas, sabe bem o que vou falar: não há qualquer indicativo de como fazer isso de maneira eficaz.

No caso das árvores: mesmo que você plante todas elas seguindo a lógica de manter um espaço livre de todos os lados, é bem provável que nem todas elas cresçam. Aí a solução é tentar mudá-las de lugar e torcer para dar certo. As flores, por sua vez, brotam de maneira totalmente aleatória e, por mais que você as posicione corretamente e as regue, não há garantias de que elas, de fato, vão gerar as tão desejadas cores híbridas.

As flores, por sua vez, brotam de maneira totalmente aleatória e, por mais que você as posicione corretamente e as regue, não há garantias de que elas, de fato, vão gerar as tão desejadas cores híbridas

E, por fim, há o sistema de desgaste das ferramentas. Conforme você usa machados, pás, varas de pescar etc, esses objetos se desgastam e podem vir a quebrar, o que te obriga a comprar ou construir uma nova unidade. A questão é que não há qualquer indicativo de quando esses itens estão próximos do fim de suas vidas úteis e eles podem falhar justamente na hora que você mais precisa deles —como se está visitando uma ilha aleatória e não há materiais para construir um item novo.

Isso pode mudar: basta a Nintendo querer

O lado bom é que boa parte desses problemas podem ser corrigidos por meio de atualizações e, ao que tudo indica, a Nintendo deverá dispensar uma grande atenção ao desenvolvimento do jogo no seu pós-lançamento.

E se, ainda assim, faltar ideias sobre como melhorar a interface com o jogador, uma dica é prestar atenção em Stardew Valley. Não apenas por se tratar de um jogo com temática semelhante ao de Animal Crossing, mas, principalmente, porque o game criado por Eric Barone entrega sistemas intuitivos e fáceis de serem usados ao mesmo tempo que esconde boas doses de profundidade e complexidade por trás do seu visual retrô.

E o melhor: faz tudo isso sem fazer o jogador perder tempo ou se irritar com procedimentos desnecessários.

Animal Crossing: New Horizons

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