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Com Free Fire, jogadores do Nordeste finalmente podem brilhar nos eSports

Free Fire está mostrando o talento dos jogadores do Nordeste - Arte/UOL
Free Fire está mostrando o talento dos jogadores do Nordeste Imagem: Arte/UOL

Bruno Izidro

Do START, no Rio de Janeiro*

20/11/2019 04h00

No último sábado (16), o Corinthians foi campeão mundial de "Free Fire" com um time que resume bem o cenário competitivo do game: três dos cinco pro-players vieram do Nordeste.

Maranhão, Pernambuco, Paraíba e Bahia estão sendo uma fonte de bons talentos para o game mobile, com nomes como Kroonos, Fixa e Level Up se destacando e levantando com orgulho a bandeira Nordestina. O START conversou com eles para entender como o cenário "Free Fire" está ganhando um sotaque mais arretado.

A exceção virando regra

free fire fixa - Divulgação/Garena - Divulgação/Garena
Fixa, que nasceu no Maranhão, foi eleito o melhor jogador de Free Fire na Pro League Brazil
Imagem: Divulgação/Garena

Em cenários competitivos de jogos como "League of Legends" e "Counter-Strike" os pro-players que mais se destacam e viram ídolos têm origem nas regiões Sul e Sudeste. No "LoL", personalidades como Felipe "BrTT" e Gabriel "Revolta" vieram do Rio de Janeiro. No "CS:GO", o maior nome do cenário brasileiro é Gabriel "Fallen", que nasceu no interior de São Paulo.

Ou seja, não é comum jogadores nordestinos se destacarem em eSports. Um dos raros casos é Epitácio de Melo, o TACO, do time da MiBR de "CS:GO", que nasceu em Recife.

Já no "Free Fire", a exceção vira quase norma. Carlos "Fixa", Genildo "japa" e Samuel "Level Up", do Corinthians, Heverton "Sharin", da Loud, Ramon "GG easy", da paiN Gaming, e Ariano Kroonos, da Vivo Keyd, estão entre nomes de destaque do cenário do game. Todos são nordestinos.

Free Fire Sharin - Divulgação/Loud - Divulgação/Loud
Sharin é de Recife e já foi campeão brasileiro
Imagem: Divulgação/Loud
Natural de Pernambuco, Sharin já foi campeão brasileiro de "Free Fire", quando era do time New X, vencedor da segunda temporada da Pro League Brazil. Agora na Loud, um dos times que chegou até o segundo mundial do jogo, ele diz que o "Free Fire" finalmente está mostrando ao mundo grandes revelações vindas do Nordeste.

"Isso é muito bom para o cenário e para a imagem da nossa região também", diz sharin. "Tem muita gente que fala o quanto estamos representando nosso Estado e região e isso é muito gratificante, a gente mostra que somos dali".

Fixa (leia-se "Ficha") foi escolhido como o melhor jogador da terceira temporada do Pro League Brazil, a última deste ano. O apelido que utiliza no jogo, inclusive, é uma expressão comum na cidade dele, São Luís, capital do Maranhão.

"Na minha cidade, Ficha é tipo concordar com alguma coisa", explica o jogador. "Tipo, uma pessoa pergunta 'Vamo ali?' aí a outra responde 'Ficha', como se estivesse concordando, é o mesmo que um ok".

Free Fire Fixa Campeão - Divulgação/Garena - Divulgação/Garena
Fixa (ou Ficha) comandou o Corinthians a ser campeão mundial de Free Fire
Imagem: Divulgação/Garena

O jogador campeão mundial pelo Corinthians também solta uma informação de bastidores e revela que "Free Fire" é mais jogado no Nordeste. "Eu não acreditava que tinha tanto público assim até saber do pessoal da Garena, que falaram que, aqui no Brasil, o maior público é do Nordeste"

Aqui no Brasil, o maior público (de Free Fire) é do Nordeste
Fixa, jogador campeão do mundo de Free Fire pelo Corinthians

Essa informação, porém, não é confirmada pela Garena, que não divulga números do game separados por região no país. Ainda assim, dados do Google revelam que, nos últimos 12 meses, "Free Fire" é um termo que é muito buscado em Estados da região Norte e Nordeste.

Melhor do Mundo vem do Nordeste

Free Fire Kronos - Samuca Hernandez/UOL - Samuca Hernandez/UOL
Kroonos já foi o melhor do mundo em Free Fire
Imagem: Samuca Hernandez/UOL

Vale lembrar também que um recifense já foi considerado o melhor jogador do mundo em "Free Fire". Ariano "Kroonos" ganhou o MVP (Most Valiable Player, jogador mais valioso, em tradução livre) do primeiro mundial do jogo, realizado em abril deste ano.

Para ele, o Nordeste ter essa força em um videogame é importante pela representatividade da região, e isso resulta em até times inteiros formados só por gente de lá. É o caso da equipe de que Kroonos faz parte, a Vivo Keyd: "De Pernambuco sou só eu, mas tem também gente da Paraíba, e mais quatro meninos de Aracaju", diz o jogador, com um típico sotaque pernambucano.

Preferência Nacional

"Free Fire" e Nordeste é um casamento que está dando muito certo, e uma característica que acaba sendo o diferencial da cena competitiva do jogo. Mas o que será que tem nessa água para eles serem tão bons com os dedos na tela do celular? Level Up, jogador campeão mundial pelo Corinthians, tem a resposta na ponta da língua:

"O Free Fire você pode jogar em um celular Moto G2, num Samsung Galaxy, no iPhone, em todo canto, mesmo em celular mais baratos dá pra jogar", responde o jogador baiano. "Isso faz muita diferença, porque tem muita gente no Nordeste que não pode comprar um computador bom e Free Fire é aberto a todos".

Free Fire Corinthians - Divulgação/Garena - Divulgação/Garena
Time do Corinthians é formado, em sua maioria, de jogadores do Nordeste
Imagem: Divulgação/Garena

Esse foi o discurso comum de todos com quem conversamos. O game mobile democratizou o cenário competitivo e, com isso, regiões fora do eixo Sul-Sudeste começaram a se destacar, como fala também Bruno "PlayHard", um dos donos da Loud.

"Antes estava muito concentrado no sudeste, porque aqui tem aquela facilidade de ter uma economia um pouco melhor para as pessoas terem um computador, até um console mesmo"

O Free Fire quebrou essas barreiras, não existe, é tudo online, todo mundo tem a mesma condição de se destacar e entra somente o talento e a dedicação de cada um
Bruno PlayHard, dono do time Loud de Free Fire

Mesmo com tantos talentos nordestinos, as organizações de eSports ainda estão presas aos investimentos maiores na região sudeste. Um movimento que está começando a acontecer são os jogadores saírem de seus Estados para as gaming houses dos clubes, que normalmente ficam em São Paulo.

Foi assim que aconteceu com Corinthians, Loud e paiN Gaming durante a terceira temporada da Pro League Brazil. Para o ano que vem, ainda mais organizações devem fazer o mesmo, como é o caso da Vivo Keyd.

"No próximo ano a gente vai para São Paulo para morar lá em Gaming House", revela Kroonos.

O ideal é ir pra São Paulo, por causa dos próximos campeonatos também, porque vai ser tudo presencial por lá
Kroonos, jogador da Vivo Keyd

Em 2019, "Free Fire" se firmou como um dos jogos mais populares do país. A transmissão do mundial que sagrou o Corinthians campeão teve um pico de audiência de 1,2 milhões de pessoas assistindo só no Brasil e 2,16 milhões de espectadores globalmente.

Além disso, a Garena revelou que o game possui 450 milhões de jogadores registrados e pico de 50 milhões de contas ativas diáriamente. São números já expressivos e que só tendem a aumentar no próximo ano. Por isso, é esperar que cada vez mais talentos do Nordeste, e também do Norte do país, apareçam nos campeonatos.

*O jornalista viajou a convite da Garena, produtora de Free Fire.