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Ricardo Feltrin

REPORTAGEM

Viajar de avião ou de carro aterroriza os artistas, diz Beto Barbosa

O cantor e compositor Beto Barbosa  - Reprodução/Instagram
O cantor e compositor Beto Barbosa Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

08/11/2021 12h33

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A morte de Marília Mendonça impactou Beto Barbosa de uma forma muito profunda. Apesar de não serem amigos próximos, Beto, 66, tinha uma admiração infinita pela jovem Marília, 26.

"Ainda estou chocado, horrorizado", diz ele sobre a partida prematura da colega talentosa que, assim como ele, era compositora e intérprete de suas próprias canções.

"Eu sempre tenho pavor de andar de jatinho, de bimotor e até de avião comercial. Aquilo vira uma folha de papel lá em cima. Já passei muitos perrengues em aeronaves", afirma. Ele contou algumas experiências ruins.

"Uma vez fui tocar aí em São Paulo. Inclusive era um show pro Gugu (Liberato). Eu fui num avião, com dois seguranças e um músico, além do piloto e co-piloto. Aí o piloto, não sei o porquê, entrou numa daquelas nuvens pretas, que eles chamam de CB (Cumulus nimbus)", lembra o rei da lambada.

E ele continua:

"Meu amigo: eu gritava, o piloto gritava, todo mundo gritava? Eu achava que ali seria a nossa morte. Porque o avião não saía daquilo, a gente virou um papel ali dentro da nuvem. O avião ia de bico, de barriga, de repente subia, pedras de gelo batendo na fuselagem do avião? um horror. Você faz promessa pra Deus (pra escapar), você perdoa os amigos, você perdoa até os inimigos? você pede pra Deus pra ter mais uma chance".

Segundo Beto, esses fatos sempre ocorrem com quem viaja tanto em aeronaves, especialmente as pequenas como a que vitimou Marília.

"Artista que diz não ter medo de avião está mentindo. Todos nós temos. As pessoas falam que o que aconteceu com a Marília é uma fatalidade, mas nós nos expomos às fatalidades muito mais que uma pessoa normal, porque não saímos de dentro dessas 'coisas' (aviões", diz Beto.

"Quando saí do avião, nesse dia na novem, eu beijei o chão."

"Outra vez fui tocar em Mossoró (RN) e o trem de pouco do jatinho não baixou, o avião teve ficar circulando (para gastar combustível) e tentar pousar de barriga com menor risco de explosão. Não sei como deu certo", lembra.

Para Beto, as pessoas só veem o lado glamuoroso de artistas como Marília, e não os bastidores da vida real e cheia de percalços.

"No tempo de maior sucesso a gente fechava até três shows por dia, porque a gente nunca sabe até quando o sucesso vai continuar. Os artistas sofrem na estrada e no céu. Não sei se é pior estar dentro de um jatinho ou de um carro numa estrada brasileira. Veja a quantidade de artistas mortos em acidentes em carros ou aviões. Francisco Alves (1898-1952, de carro), Jessé (carro), Mamonas (avião), agora a Marília? sem falar nos estrangeiros."

E ainda tem os problemas da vida terrestre.

"Hoje vivo a vida descolado. Você viu a doença que eu enfrentei, acompanhou o que eu passei. Meu médico disse que é um milagre eu estar vivo e bem. Só posso agradecer a Deus por estar aqui."

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