OpiniãoMúsica

Com Luísa Sonza, Paula Toller celebra 40 anos de casamento com o público

Celebrando 40 anos de carreira com a turnê "Amorosa", Paula Toller é um arquivo vivo da era das rádios pop no Brasil. Ela é fruto de um cenário, nos anos 1980, em que o sucesso de um artista era determinado por estações de rádio e programas de TV.

Paula Toller em show na noite de sexta (26), no Rio
Paula Toller em show na noite de sexta (26), no Rio Imagem: Mau Zanoni/Divulgação

Exatamente quando o rock brasileiro (ou BRock para os íntimos) floresceu. À frente da banda Kid Abelha, a cantora carioca enfileirou hits e mais hits. Em termos de sucesso pop, o Kid só encontrava equivalentes em Lulu Santos e Ritchie.

É a partir dessa perspectiva que a série de shows comemorativos foi concebida. Como a própria cantora afirmou durante a apresentação do último sábado (27), na casa de shows Vivo Rio, no Rio, "estamos comemorando os 40 anos desse nosso casamento". No caso, o cônjuge é o público.

E, como em todo casamento feito para durar, é bom tratar o parceiro com carinho. Nesse sentido, as escolhas da artista e de seu diretor musical, Liminha, foram um golaço. Arranjos descarnados, criados para valorizar as canções naquilo que elas têm de mais essencial: a relação entre ritmo, harmonia, melodia e letra.

A cantora Paula Toller passa pelo Rio com a turnê Amorosa; shows de sexta (26) e sábado (27) foram gravados
A cantora Paula Toller passa pelo Rio com a turnê Amorosa; shows de sexta (26) e sábado (27) foram gravados Imagem: Rogério Fidalgo/AgNews

No palco, dois violões (Liminha e Gustavo Camardella), teclado (Ge Fonseca), baixo (Pedro Dias) e bateria (Adal Fonseca). Tudo muito simples e direto. Não há naipe de sopros, guitarras em altos brados, linhas de baixo mirabolantes, viradas de bateria em profusão. Mais do que a cantora, as canções são as grandes estrelas do espetáculo.

"Amorosa" é um nome apropriado para a turnê. Afinal, como em todo bom pop que se preza, a maior parte das letras fala de amor. A partir de "Fixação", canção que abre os trabalhos, a plateia embarca num karaokezão.

A maior parte do repertório de 27 músicas saiu dos álbuns do Kid Abelha: "Educação sentimental II", "Lágrimas e chuva", "No meio da rua", "Todo meu ouro", "No seu lugar", "Por que não eu?", "Alice (Não escreva aquela carta de amor)" e "Grand'hotel", entre outros sucessos.

Continua após a publicidade
Paula Toller convida a amiga Fernanda Abreu para show da turnê Amorosa, na sexta (26), no Vivo Rio
Paula Toller convida a amiga Fernanda Abreu para show da turnê Amorosa, na sexta (26), no Vivo Rio Imagem: Rogério Fidalgo/AgNews

Salpicadas aqui e ali, canções da carreira solo de Paula Toller, como "Calmaí" e "Eu amo brilhar". Todas cantadas com fervor por uma plateia animada. Um dos melhores momentos foi o arranjo samba-rock para "Não vou ficar", composição de Tim Maia, sucesso na voz de Roberto Carlos nos anos 1970 e regravada pelo Kid Abelha em 1991.

Na primeira das duas noites da minitemporada no Vivo Rio, sexta-feira (26), o show teve a participação da cantora Fernanda Abreu, contemporânea dos tempos de BRock, quando a carioca suingue sangue bom era integrante da Blitz: "A gente se conhece desde 1982".

Enquanto a dupla cantava "Na rua, na chuva, na fazenda", sucesso de Hyldon regravado pelo Kid Abelha em 1996, era interessante pensar nas duas como símbolos de resistência feminina num meio predominante masculino e machista, que era o pop rock brasileiro da década de 1980.

Luísa Sonza canta com Paula Toller o sucesso "Nada sei (Apneia)", no sábado (27), no Rio
Luísa Sonza canta com Paula Toller o sucesso "Nada sei (Apneia)", no sábado (27), no Rio Imagem: Rogério Fidalgo/AgNews

No sábado, as participações especiais foram de Luísa Sonza (talvez numa tentativa de conexão com um público mais jovem) em "Nada sei (Apneia)" e Roberto Menescal. O veterano instrumentista, compositor e arranjador da bossa nova tocou guitarra em "Nada por mim", parceria de La Toller com Herbert Vianna e sucesso na voz de Marina em 1985.

Continua após a publicidade

Foi um dos grandes momentos da noite. Menescal e Liminha trocando figurinhas nas guitarras (o único momento em que este instrumento-símbolo do pop rock esteve no palco) e uma ótima interpretação da cantora. No final, Menescal deixou o palco sob o coro de "mais um".

Duas homenagens tiveram lugar no roteiro. Rita Lee, chamada por Paula Toller de "estrela-guia", foi lembrada com "Agora só falta você"; e Beni Borja, ex-baterista do Kid Abelha e falecido em 2021, com "Perguntas", de seu único disco solo.

Roberto Menescal se apresenta com Paula Toller em show no Rio, no sábado (27)
Roberto Menescal se apresenta com Paula Toller em show no Rio, no sábado (27) Imagem: Rogério Fidalgo/AgNews

Os 40 anos de carreira fizeram bem a Paula Toller. Ela está mais madura, segura e afinada como cantora. Vestida com brilhos, lantejoulas e paetês num clima glitter, não é uma artista dada a coreografias ou a saltitar pelo palco. É mais contida do que, digamos, uma Ivete Sangalo. Por isso, a decisão de jogar o foco de luz sobre as canções é um grande acerto.

Turnê "Amorosa", de Paula Toller

Quando: dia 8/3, em Curitiba; 9/3, em São Paulo; 15/3, no Recife; 24/3, em Salvador; e 6/4, em Porto Alegre
Ingressos pelo site da Eventim

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes