Conteúdo publicado há 6 meses

Latino relembra infância difícil: 'Cheirava cola para inibir a fome'

Latino, 50, decidiu abrir uma parte de sua história de vida para o livro "The Transformational Journey" ("A Jornada Transformadora", em tradução livre). Dono de hits famosos como "Baby, Me Leva", "Festa no Apê", "Dança Kuduro", o cantor conta como foi a infância pobre no Brasil e como a vida nos Estados Unidos o ajudou na transição para se tornar um grande artista.

Em entrevista exclusiva a Splash, o artista dá um spoiler do que o público encontrará no livro, lançado na Amazon na terça passada (17). Ele diz ainda que a proposta para contar sua vida nesta obra em que empresários e líderes celebram o sucesso na América surgiu por acaso.

Na busca por um imóvel nos Estados Unidos, ele recorda que contou para o empresário Wagner Nolasco, um dos escritores e produtores do livro, sobre sua vida em solo americano e nem imaginava que o amigo faria a ponte para registrar sua história.

No primeiro momento, eu fiquei assustado, mas quando a minha história foi aprovada fiquei muito orgulhoso. Latino

"Cheirava cola para inibir a fome"

Latino, cujo nome verdadeiro é Roberto de Souza Rocha, teve uma infância pobre. Após o fim do casamento dos pais, ele, aos 14 anos, ficou no Brasil morando na rua com o pai, enquanto a mãe se mudou para os Estados Unidos após novo relacionamento. Ele diz que precisou aprender a sobreviver na adversidade.

Tive uma vida muito sofrida. Morava na rua e estava num momento muito triste. Inclusive, para se ter uma ideia, a dificuldade era tanta que eu cheirava cola de sapato para poder inibir a fome. Eu vivia na rua, lustrando sapato e lavando carro. Essa era a minha vida. Latino

O destino fez com que a mãe voltasse ao Brasil para buscá-lo com a intenção de lhe dar uma chance de vida nova no exterior. A mudança de vida, no entanto, não foi tão fácil para o jovem. "Foi uma guerra muito grande, porque é difícil um garoto de rua perder a pipa, o pião, a bola de gude, que naquela época fazia muita diferença. Me deparei com outro mundo, um mundo onde o bullying é fato marcante na minha vida. O fato de eu não falar inglês [fazia com que eles] me chamarem de latin boy, porque eu misturava o inglês."

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No começo, Latino afirma que teve dificuldade com o idioma e, como não ia para a escola no Brasil, começou os estudos quase do zero. Ao mesmo tempo, ele rapidamente conseguiu trabalho e deu os seus primeiros passos para entrar no mundo artístico.

Eu já cheguei trabalhando. Fui selecionado para ser um ninja e ficava abrindo cortina, fechando cortina, levantando espelho dos ilusionismos do David Copperfield. Também formei boy band, uma turma de cinco garotos que se apresentavam dançando, e fui me descobrindo como artista. Eu trabalhava, estudava e me apresentava nos finais de semana.

O recomeço no Brasil

Além de trabalhar e estudar, Latino se envolveu com uma turma barra-pesada nos cinco anos em que viveu nos Estados Unidos. Ele furtou, pichou murros e acabou jogando a chance de viver no exterior fora após ser preso.

Infelizmente, tive os momentos de fraqueza, fazia muita besteira. Pichava muro dos outros, cheguei a ser preso por furto. Fiz coisas que um adolescente que nunca teve princípios, nunca teve educação, possivelmente faria. Estava muito deslumbrado porque estava em um país onde tudo era muito fácil. Tomei facada nos Estados Unidos e levei 18 pontos porque participava de gangue. Latino

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Com a prisão, o brasileiro ouviu que tinha a opção de ser deportado para o Brasil ou cumprir uma pena em solo americano. A decisão de voltar ao país de origem, no início, foi dura pela sensação de estar jogando tudo fora. "Foi uma escolha minha para não ter que ficar preso. Quando voltei no avião, eu lembro que vim chorando, porque não tinha coragem de olhar na cara do meu pai. Um garoto de rua que veio da linha da pobreza, que teve a oportunidade através da mãe de estudar, fazer o colegial nos Estados Unidos, de repente volta com uma mão na frente e outra atrás depois de cinco anos."

Se para muitos voltar dos Estados Unidos para o Brasil é um passo para trás, Latino afirma que sua história de vida se transformou em sua terra natal. "Fui me renascendo das cinzas, fui aprendendo a lidar com aquilo tudo, e Deus foi me mostrando os caminhos. Fui seguindo os meus instintos, o lado artístico falou mais alto e eu fui contextualizando a minha história."

Ele, inclusive, teve a chance de voltar aos Estados Unidos após o sucesso da música "Dança Kuduro" para se apresentar no Brazilian Day e se emocionou ao ver que havia vencido na vida.

Fiquei dez anos de castigo sem poder voltar para a América. Quando eu consegui voltar, a primeira vez que eu pisei no palco nos Estados Unidos até me emocionei, porque tinha anos que eu não voltava lá e eu cheguei a falar no palco que: 'não pense que voltar para o Brasil é dar rena à vida. Me veja como exemplo'.
Latino

Hoje, Latino celebra 33 anos de carreira e diz que sua "faculdade da vida" musical americana o ajudou a construir sua história de sucesso. "Tenho uma carreira muito sólida no Brasil. A gente faz muita festa universitária, corporativa, casamento, formatura. Eu aprendi a trazer essa festa da 'latineira', de misturar os estilos e conectar a música urbana à música latina com a música do Brasil, que conecta o Caribe com o Brasil. Graças a Deus tem dado muito certo."

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Outros temas da entrevista de Latino para Splash:

Vício em jogos: "A minha falência com o jogo, que perdi milhões e milhões, quebrei, perdi todos os apartamentos que eu tinha para pagar essa conta, aquilo foi bom para mim. Hoje, eu entendo que dinheiro não aceita desaforo, que você tem que saber aplicar bem o seu dinheiro. Ou seja, aquilo foi muito importante para que eu pudesse ser um empreendedor que sou hoje dentro dos negócios que tenho".

Pai novamente: "Se acontecer da minha atual mulher decidir ter um filho, eu vou receber de braços abertos e vou trabalhar mais para que eu possa sustentá-lo".

Aposentadoria: "Jamais disse que me aposentadoria. Disse que eu ia diminuir a quantidade de shows. Eu ia tirar a quantidade e qualificar os shows. Ou seja, eu ia diminuir para qualificar. Essa coisa de ficar fazendo um show atrás do outro não quero isso. Quero fazer dois, três shows por semana bem feitos, com qualidade, com uma banda afinada, bonitinho, redondinho, com umas imagens legais, muito carisma, muita alegria e fazer com vontade".

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