Público LGBT de Barretos se diz acolhido, mas quer Pabllo Vittar no line-up
A Festa do Peão de Barretos, no interior de São Paulo, é conhecida pelo sertanejo, o modão e a relação com o agro — cultura frequentemente associada a um pensamento mais conservador.
Os casais LGBTQIA+ são, sem dúvida, minoria no festival. A grande maioria de pares andando de mãos dadas era formada por casais heterossexuais, mas há exceções.
Shayene Alvim, mulher trans, e Ricardo Muniz, um homem gay, são naturais de Barretos e moram em São Paulo, onde são enfermeiros. "A Festa do Peão nasceu na gente, a gente cresceu nesse meio, eu já trabalhei no Rancho do Peãozinho, e hoje vir para cá é renascer novamente. A gente sente toda essa energia de saber que a gente tem a origem dessa festa", diz Ricardo em papo com Splash.
Ele ressalta a visão que os amigos de São Paulo têm do evento. "Quando falamos [da festa], as pessoas querem entender como uma Festa do Peão respeita a gente por a gente ser LGBTQIA+."
Apesar desse estereótipo, todos os ouvidos pela reportagem disseram nunca ter vivido nenhum episódio de preconceito no evento. Logo na entrada da festa, uma das primeiras placas é uma campanha contra a homofobia, com números para a denúncia contra "qualquer forma de discriminação". O outdoor foi uma ação da Subseção da OAB SP (Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo) de Barretos e da OAB SP.
Bruno Ryverdy, 26, relatou: "Venho todos os anos na festa [...] Hoje vim dessa forma, mas quinta-feira estarei todo diferente, toda montada, porque tenho essa dupla personalidade. Tem dias que gosto de estar mais 'masculino' e tem dia que eu gosto de estar bem feminino, montado de saia, salto, top, tudo que tenho direito", contou o cabeleireiro gay, natural de Barretos.
Eu, pelo menos, nunca senti nenhum preconceito, montado ou desmontado, no banheiro masculino ou feminino. Nunca senti nenhum tipo de preconceito, sempre me senti muito acolhido aqui. Bruno Riverdi
Representatividade
Mas há uma ânsia por mais representatividade no line-up do festival. É o que apontou Odorico Reis, 32, influenciador goiano conhecido como "agrogay internacional", que estava na Festa do Peão pela segunda vez.
"É muito importante essa diversidade que vem acontecendo e tomando espaço, assim como eu tô aqui, mais coisas vão acontecer com o decorrer no tempo. Logo teremos um pocnejo, um Gabeu", previu, citando o filho do cantor Solimões, da dupla com Rionegro, que é gay e expoente do ritmo pocnejo.
Já para o casal Gabriel Kamei, 32, e Hércules Marques, 34, o line-up condiz com o que o público espera. "Na verdade, eu desconheço muito a relação LGBT do sertanejo. Tem Pedro Sampaio, mas aí é mais pop... Mas não sei se combina muito com a festa", diz Hércules.
Acho que quem vem mesmo sendo LGBT é porque curte de alguma forma o ritmo, né? E a gente sabe que o ritmo em geral não tem mesmo artistas [LGBT] que a gente saiba. Gabriel Kamei
Neste ano, há dois artistas que são assumidamente LGBTs no line-up. Pedro Sampaio, 25, cantor de pop que é assumidamente bissexual, e Lauana Prado, 34, cantora de sertanejo, também bi.
Bruno Riverdi também acha que há espaço no line-up para artistas do pop que são LGBTQIA+, e não é o único: Enquanto ele dizia à reportagem que gostaria de ver Pabllo Vittar no palco principal, uma pessoa gritou em nossa direção: "eu também!"
Eu super queria ver Pabllo Vitttar, Gloria Groove aqui na arena. Eu acho que falta um pouco, mas estamos caminhando para isso. Bruno Riverdi
A Festa do Peão de Barretos teve início na última quinta-feira (17) e vai até o próximo domingo (27). Neste final de semana, acontecerão apresentações de artistas como Ana Castela, Chitãozinho e Xororó, Bruno e Marrone, Zezé Di Camargo e Luciano, entre outros.
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