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Abusos, Marlene, fake news: os temas sensíveis para Xuxa em documentário

De Splash, no Rio

12/07/2023 04h00

Com cinco episódios, "Xuxa, O Documentário" chega na quinta-feira (13) ao Globoplay para narrar a trajetória da brasileira que se tornou um ícone da TV nacional e fez sucesso em países como Argentina, Chile, Espanha e Estados Unidos.

Mas a série documental não aborda apenas momentos felizes dos 60 anos da história de Maria da Graça Xuxa Meneghel. Em depoimentos a Pedro Bial, diretor artístico da produção, a apresentadora abre o coração para falar de temas sensíveis, como abusos sofridos na infância, pressão psicológica e ataques.

Xuxa sofreu abuso sexual dos 3 aos 13 anos. O assunto veio à tona em 2012 durante entrevista ao Fantástico (Globo) e volta a ganhar destaque com o documentário, que leva a apresentadora até sua cidade natal, Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, ao lado de sua filha, Sasha Meneghel, 25.

"Quando me proponho a fazer uma campanha contra a exploração de crianças e adolescentes, eu não só visto a camisa, eu sinto na pele, tá tatuada em mim, tá cravada em mim essa dor. Essas coisas me fortaleceram para ser quem eu sou hoje, mais as coisas ruins do que boas até", disse Xuxa em entrevista coletiva para divulgar a produção.

Falar sobre abuso na infância fez Xuxa perceber que essa triste realidade seguiu após os 13 anos. Ela demorou a perceber que sofreu abusos quando atuava como modelo, pois naquela época não se discutia os abusos cometidos nas passarelas, muito menos se falava da objetificação de corpos femininos.

"Essas situações me fizeram ser quem eu sou, mas reviver é bem dolorido, viu? Gostaria de não só fechar (esses assuntos) em uma caixinha, mas botar no fundo do baú, no fundo do mar e esquecer. Mas é importante falar porque eu mostro pras pessoas que também viveram, convivem ou estão vivendo situações parecidas, que elas não estão sozinhas. Isso é importante."

Xuxa e a filha, Sasha Meneghel, na pré-estreia do documentário - Globo/Reginaldo Teixeira - Globo/Reginaldo Teixeira
Xuxa e a filha, Sasha Meneghel, na pré-estreia do documentário no Rio de Janeiro
Imagem: Globo/Reginaldo Teixeira

O documentário também mostra o aguardado encontro de Xuxa com Marlene Mattos, sua empresária entre 1980 e 2002. As duas romperam após rusgas e voltaram a ficar frente a frente para o documentário. Xuxa deu carta-branca a Pedro Bial para que ele convidasse quem fosse necessário — incluindo sua ex-diretora de TV e Pelé, seu primeiro namorado.

Parte da conversa foi exibida pelo Fantástico (Globo) no domingo e mostrou que Marlene Mattos não se arrepende de atitudes extremas tomadas sobre a carreira de Xuxa, as quais são consideradas abusivas pela apresentadora hoje. A postura da ex-diretora de TV na conversa decepcionou a apresentadora.

Mudei bastante e queria ver e ouvir essas mudanças (na Marlene). Foi um pouco decepcionante quando não senti isso.

Xuxa diz ficar chocada com as pessoas que defendem atitudes tomadas pela ex-diretora de TV no passado. "Fui uma pessoa assediada moralmente, tive abuso psicológico, de confiança, de poder. É nítido. Mas ainda tem gente que fica do lado do abusador, e não do lado da vítima, que não foi só eu, foram as paquitas e pessoas que viveram ao meu lado. Isso me choca... Você não pode ficar do lado do malvado."

Xuxa e Marlene Mattos se reencontram após 19 anos de rompimento para documentário - Blad Meneghel/Divulgação - Blad Meneghel/Divulgação
Xuxa e Marlene Mattos se reencontram após 19 anos de rompimento para documentário
Imagem: Blad Meneghel/Divulgação

Outro momento polêmico do documentário é o filme "Amor Estranho Amor". No longa, lançado em 1982, Xuxa aparece nua ao lado do personagem vivido por Marcelo Ribeiro, que tinha 12 anos na época. Xuxa e o ex-ator ficaram frente a frente para gravar o documentário após 40 anos.

Até hoje, críticos usam a cena fora de contexto para atacar Xuxa e chamá-la de pedófila. "Na realidade, não foram apenas fake news. Tinha uma pitada de 'se eu não falar mal dela, não vai ter espaço'. Com um requinte de crueldade porque mexeria comigo. Até hoje as pessoas querem falar desse filme, mas fiz com 17 anos".

'A Xuxa é pedófila porque ela fez o filme'. As pessoas não querem saber que é uma ficção, não olham a história sobre exploração infantil.

"As pessoas querem ver aquilo como verdade, não veem a história do filme, que é uma menina que foi vendida para um prostíbulo, para ser dada a um político. Ou seja, a exploração sexual contra a criança, contra adolescente que existe até hoje. O filme foi baseado na década de 1960. Desde aquela época, as crianças eram exploradas e até hoje".