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Homenagens, músicas e festa: velório de Zé Celso reúne amigos e fãs em SP

Bruna Calazans

Colaboração de Splash, em São Paulo

06/07/2023 22h05Atualizada em 07/07/2023 16h15

Fãs e amigos do dramaturgo, ator e diretor Zé Celso — que morreu, na manhã de quinta-feira (6) — encheram o velório realizado no Teatro Oficina, na noite de ontem, para se despedir do artista.

O velório ocorre no Teatro Oficina, fundado por ele em 1958, e virou toda a madrugada. Pessoas descalças, vestidas de branco cantam e prestigiam a vigília, que acontece como uma verdadeira festa, com direito a bebidas e comida.

Coroas de flores foram colocadas no centro do teatro, local em que Marcelo Drummond, marido de Zé Celso, foi consolado por quem veio ao teatro — que ficou lotado com fãs de todas as idades.

Por volta das 21h30, a organização pediu a colaboração das pessoas com o lixo, e passou com sacos recolhendo latinhas de cerveja para liberar passagem para o corpo do dramaturgo.

Pouco antes da chegada do corpo de Zé Celso, o público entoou músicas em coro e aplaudiu o dramaturgo. Gritos de "Viva Zé" anteciparam a chegada do caixão.

Famosos vão ao velório de Zé Celso no Teatro Oficina, em São Paulo

Zé Celso estava internado na UTI do Hospital das Clínicas após ter 53% do corpo queimado em um incêndio que atingiu sua residência, na capital paulista.

Segundo nota enviada a Splash, o laudo do Instituto de Criminalística (IC) da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) indica que a provável causa do incêndio no apartamento de Zé Celso, na última terça (4), seja o aquecedor de ar.

A hipótese considerada é que o fogo pode ter "iniciado em virtude do contato entre um aquecedor e materiais de fácil combustão, presentes no cômodo", os materiais não foram especificados.

As causas do incêndio são investigadas por meio de inquérito policial instaurado pelo 36º DP, da Vila Mariana. Com a morte de Celso, será realizado o exame necroscópico visando ao devido esclarecimento do caso.

Confira a nota na íntegra

A SSP lamenta a morte da vítima ocorrida na manhã desta quinta-feira (6). As causas do incêndio são investigadas por meio de inquérito policial instaurado pelo 36º DP (Vila Mariana), responsável pela área. A autoridade policial realiza diligências de funcionários do edifício e demais testemunhas que auxiliem no esclarecimento dos fatos. O laudo do Instituto de Criminalística apontou que o incêndio pode ter iniciado em virtude do contato entre um aquecedor e materiais de fácil combustão, presentes no cômodo. Com o falecimento da vítima, será realizado o exame necroscópico visando ao devido esclarecimento do caso.

Trajetória artística

Uma figura irreverente, José Celso Martinez Corrêa nasceu em Araraquara, interior de São Paulo, em 1937. Desde a década de 1960, ele se destacou por sua presença de palco e por sua inovação cênica. Porém, sua personalidade começou a ser lapidada pouco tempo depois para nunca mais ser esquecida.

O movimento contracultura dos anos 1970 foi uma grande força motriz para que Zé Celso mostrasse a que veio: peças disruptivas, movimento coletivo no palco e liberdade para que o corpo de cada pessoa, artista ou não, pudesse ser a mais pura expressão do que é arte.

O Teatro Oficina, foi fundado por Zé Celso em 1958 com colegas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e vive até hoje com atrações pulsantes em seus palcos. A proposta sempre foi contra o estilo de encenação trazido por peças europeias da época. Além disso, o principal objetivo do Oficina era e é fazer com que o público tenha participação ativa em suas apresentações.

Polêmicas e resistência

Considerado um dos diretores de teatro mais revolucionários do Brasil, Zé Celso teve sua postura no palco questionada por muitas pessoas, que o colocaram como radical ou extravagante demais. Em 1966, a sede do Teatro Oficina pegou fogo em São Paulo. Na ocasião, Zé atribuiu o incêndio a um golpe de militares que perseguiam o grupo desde 1964.

No auge da ditadura militar brasileira, em 1968, alguns membros abandonaram o grupo Oficina ou foram obrigados a se exilar. Em 1974, Zé Celso foi um dos nomes a serem presos. Ele se exilou em Portugal, onde conseguiu gravar o filme "O Parto". Sua volta para São Paulo aconteceu em 1978.

Com o gradual restabelecimento da democracia no Brasil, o Teatro Oficina empenhou-se em reabrir e reconstruir seu espaço, seguindo um audacioso projeto arquitetônico concebido por Lina Bo Bardi. Já em 1993, o grupo renasceu como Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona e entrou em uma fase altamente produtiva, culminando na emocionante encenação da obra-prima do romance jornalístico de Euclides da Cunha, "Os Sertões".

Desde então, o Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona tem se destacado como um centro cultural vibrante e provocador, explorando novas abordagens artísticas e desafiando os limites convencionais das artes cênicas. Sua trajetória pós-ditadura reflete a resiliência e a determinação em preservar a liberdade de expressão e promover o diálogo social por meio da arte.

Peças famosas

Os primeiros textos de Zé Celso foram levados ao palco do Teatro Oficina desde o início do projeto. "Vento Forte para Papagaio Suvir", de 1958, e "A Incubadeira", de 1959, são alguns exemplos.

Outros roteiros ganharam sucesso conforme o trabalho do diretor foi ganhando o gosto de um público mais ligado a propostas artísticas revolucionárias. São eles: "Pequenos Burgueses", um texto de Máximo Gorki que estreou em 1963, e "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, levado ao palco em 1967.

Para coroar a proximidade de Zé Celso com o movimento tropicalista e antiditadura, temos como referência até hoje a montagem de "Roda Vida", de Chico Buarque, em 1968. Considerado o grande herdeiro da tradição modernista, ele influenciou Os Satyros, uma companhia teatral fundada por Ivan Cabral e Rodolfo García Vázquez em 1989, também influenciados pelo movimento tropicalista.

Zé Celso: criador do Teatro Oficina revolucionou as artes cênicas