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'Onde está Tim Lopes?': Série sobre repórter morto não é o que você imagina

Jornalista Tim Lopes, sequestrado, torturado e morto por traficantes em 2002 - Reprodução/Globo
Jornalista Tim Lopes, sequestrado, torturado e morto por traficantes em 2002 Imagem: Reprodução/Globo

De Splash, em São Paulo

30/06/2023 04h00

Se o jornalismo brasileiro tem um Orixá em Aruanda, que atua a favor da verdade e da comunicação, esse Orixá tem nome: é Tim Lopes.
Manoel Soares, entrevistado de 'Onde Está Tim Lopes?'

"Onde Está Tim Lopes?", a nova série documental do Globoplay chegou ontem à plataforma e, em quatro episódios, conta a história de Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, conhecido como Tim Lopes, assassinado em 2002 pelo traficante Elias Maluco.

O repórter da Globo foi torturado, morto e queimado enquanto fazia uma reportagem investigativa na Vila Cruzeiro, favela da zona norte do Rio.

No entanto, quem espera que a série seja mais uma produção sobre crimes reais, se decepcionará. O título narra a história do repórter da Globo e conta ao público qual a sua importância para a imprensa. Outra obra sobre o jornalista foi lançada há 10 anos, "Tim Lopes: Histórias De Arcanjo", e mostra Tim pelo ponto de vista do filho dele.

Ao decorrer dos dois primeiros episódios, que foram cedidos pela Globoplay a Splash, a pergunta "Onde Está Tim Lopes?" é respondida de diversas maneiras. A questão não se refere ao corpo do jornalista, mas sim a onde é possível encontrá-lo hoje, mais de 20 anos de sua morte.

"O nome da série faz uma referência à campanha de vinte anos atrás quando meu pai desapareceu [antes de ser confirmada sua morte], mas tem também um sentido metafórico. A gente quis refletir sobre onde Tim estaria nesse momento. Se dedicando a quais pautas? Com os jornalistas contemporâneos e os da sua época? Com os estudantes das novas gerações? A verdade é que tentaram calar uma voz, mas criaram várias novas", destaca Bruno Quintella, filho de Tim, diretor e roteirista da série.

Bruno Quintella entrevistando Leandro Demori (de blusa preta) para o documentário 'Onde Está Tim Lopes?' - Divulgação/ Globoplay - Divulgação/ Globoplay
Bruno Quintella entrevistando Leandro Demori (de blusa preta) para o documentário 'Onde Está Tim Lopes?'
Imagem: Divulgação/ Globoplay

Por meio deste olhar mais próximo ao jornalista, o crime que ceifou a vida de Tim é secundário. Aqui, o legado do repórter é o que importa. Desde o primeiro capítulo, assistimos a entrevistas e depoimentos de pessoas que conviveram com ele e contam como ele era na intimidade e como profissional dava voz a pessoas à margem da sociedade.

"Onde Está Tim Lopes?" mostra ao público detalhes que muitos não sabiam, como o fato de Tim ter passado uma madrugada inteira conversando com Elias Maluco, muito tempo antes de ser assassino a mando do traficante.

É contado na série que o repórter adorava conversar com diferentes tipos de pessoas e ia fundo saber o que cada indivíduo tinha a oferecer e quais eram suas histórias.

A produção também exemplifica como a cobertura feita pela imprensa da violência e a presença de jornalistas e cinegrafistas em tiroteios, por exemplo, mudou depois do caso Tim Lopes. Antes, a abordagem era bastante perigosa, com alguns trechos até mesmo contando sobre um câmera da Rede Bandeirantes morto enquanto acompanhava uma ação do Bope, no Rio.

"Onde Está Tim Lopes?" não é uma série sangrenta de crimes reais; ela é uma homenagem a um homem importante para o jornalismo brasileiro, com seu nome gravado na história muito além de apenas seu assassinato.