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Ex-ministro, Gilberto Gil diz que Bolsonaro 'demonizou' a Lei Rouanet

Gilberto Gil participa de palestra no evento Rio2C - Divulgação
Gilberto Gil participa de palestra no evento Rio2C Imagem: Divulgação

De Splash, no Rio

12/04/2023 16h08

A presença de Gilberto Gil na Rio2C foi disputada. Ele lotou o principal teatro do evento e não poupou crítica à gestão cultural de Jair Bolsonaro (PL) e à perseguição a leis de incentivo a cultura.

"A Lei Rouanet é a mais polêmica, sujeita ao escrutínio permanente do mercado e do consumidor… A lei vem sendo objeto de constante revisão e aprimoramento pelos governos, com exceção do último governo que demonizou as leis de incentivo. Interrompeu o diálogo entre governo e sociedade."

A política virou tema do papo no evento sobre criatividade quando a esposa, Flora Gil, perguntou ao marido e ao diretor Andrucha Waddington o que mudou no Brasil ao longo dos últimos 30 anos — Gil e Andrucha celebram três décadas de parceria profissional.

O diretor, que é um dos fundadores da Conspiração Filmes, citou que hoje o Brasil "volta a ter respeito pelo audiovisual".

"Há um renascimento institucional do ponto de vista de quem cuida da cultura… Mas a cultura brasileira sempre foi resiliente", respondeu Gil.

"A cultura brasileira se revela fortemente em momentos de crise, com seu esparramento pelas regiões. Mas é importante que a gente dê as boas-vindas a restauração de um governo que se interessa pela cultura, que recupera uma atenção que já vinha sendo dada entre a relação da vida cultural, música, cinema, literatura, artes cênicas e o governo. Realidade mais bem fazeja", completou Gil.

Ex-ministro da Cultura entre 2003 e 2008, Gil reforçou que o setor gera milhões de reais ao país, mas é preciso haver um governo que a priorize.

Conselhos ao MinC

Para Gil, 100 dias é pouco para avaliar um governo que terá quatro anos.

O conselho número 1 à atual ministra, Margareth Menezes, é saber escutar os produtores de cultura e a sociedade. O Ministério da Cultura foi remontado em janeiro deste ano após ser rebaixado a secretaria em 2019.

"A Margareth vai ter mais dificuldade que eu em 2003 porque há mais opositores hoje que na minha época. Ao mesmo tempo, ela está preparada para isso. É preciso formar fóruns de cultura na Camara e Senado. Ela tem que manter relacionamento próximo com o Congresso pra garantir trânsito, idas e vindas das ideias dos ministério. Ter um bom relacionamento dentro do governo com outros ministros, como o da Fazenda e da Economia, além do próprio presidente".

"Margareth gosta de trabalhar, ela tem uma vivencia institucional na Bahia com projetos sociais em Salvador. Tenho expectativas muito boas com o desempenho dela."

30 anos de parceria

Apesar das opiniões políticas de Gil chamarem atenção, o teatro da Cidade das Artes, na Zona Oeste do Rio, foi palco para relembrar a vida de Gil por meio da parceria do cantor com o diretor e a Conspiração Filmes.

Ao longo de 30 anos, foram produzidos documentários, clipes musicais, DVD musicais e uma série para o Amazon Prime Videoou DVDs musicais. O primeiro deles foi o documentário "Tempo Rei" (1996).

"Houve toda uma transformação ao longo de 30 anos. Criamo uma amizade", comemorou Andrucha.

"30 anos significam um tempo bom dos meus 80 anos. É uma fatia da vida", completou Gil.

O papo ainda serviu para Gil revelar que se encantou pelos cinemas graças as chanchadas dos anos 70 e pelas exibições improvisadas de filmes e documentários em praça pública na Ituaçu (BA) de sua adolescência.

"O interesse pelo cinema se intensificou de forma expressiva quando conheci Caetano, um homem de várias artes. Ele, de certa forma, me ensinou a admirar a profundidade do cinema. Devo isso a ele