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Margareth: Di Cavalcanti e relógio do século 17 não devem ser restaurados

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

10/01/2023 16h23Atualizada em 11/01/2023 10h09

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, afirmou hoje que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) dever emitir, até quinta-feira (12), parecer sobre os danos provocados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em ato golpista realizado no domingo (8).

  • Segundo ela, a tela "As Mulatas", de Di Cavalcanti, não deve ser recuperada das facadas que levou dos bolsonaristas
  • O quadro, segundo a ministra, é avaliado de R$ 10 milhões a R$ 20 milhões
  • Ela diz que o relógio de Balthazar Martinet está "muito danificado" e que dificilmente será restaurado
  • O governo federal deve ainda criar um memorial sobre a invasão
  • "Há a necessidade de catalogar essas obras e fazer o tombamento dos móveis", disse Margareth
  • Ela se mostrou favorável a que multas aplicadas aos invasores sejam revertidas para reconstrução de obras e dependências do Palácio do Planalto

A avaliação preliminar feita pela equipe responsável aponta os seguintes estragos em peças icônicas do acervo:

  • Obra "Bandeira do Brasil", de Jorge Eduardo, de 1995: pintura que reproduz a bandeira nacional hasteada em frente ao Palácio foi encontrada boiando sobre a água que inundou todo o andar, após vândalos abrirem os hidrantes ali instalados
  • Galeria dos ex-presidentes: totalmente destruída, com todas as fotografias retiradas da parede, jogadas ao chão e quebradas
  • O corredor que dá acesso às salas dos ministérios que funcionam no Planalto foi brutalmente vandalizado. Há muitos quadros rasurados ou quebrados, especialmente fotografias. O estado de diversas obras não pôde ainda ser avaliado, pois é necessário aguardar a perícia e a limpeza dos espaços para só daí ter acesso às obras.
  • Obra "As mulatas", de Di Cavalcanti: a principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto foi encontrada com sete rasgos, de diferentes tamanho. A obra é uma das mais importantes da produção de Di Cavalcanti
  • Obra "O Flautista", de Bruno Giorgi: a escultura em bronze foi encontrada completamente destruída, com pedaços espalhados pelo salão. Está avaliado em R$ 250 mil.
  • Escultura de parede em madeira de Frans Krajcberg: quebrada em diversos pontos. A obra se utiliza de galhos de madeira, que foram quebrados e jogados longe. A peça está estimada em R$ 300 mil.
  • Mesa de trabalho de Juscelino Kubitscheck: exposta no salão, a mesa foi usada como barricada pelos terroristas. Avaliação do estado geral ainda será feita.
  • Mesa-vitrine de Sérgio Rodrigues: o móvel abriga as informações do presidente em exercício. Teve o vidro quebrado.
  • Relógio de Balthazar Martinot: o relógio de pêndulo do Século 17 foi um presente da Corte Francesa para Dom João VI. Martinot era o relojoeiro de Luís XIV. Existem apenas dois relógios deste autor.
Janja Lula da Silva, Margareth Menezes, Márcio Tavares (secretário-executivo do MinC), Leandro Grass (presidente do Iphan), Andrei Rosenthal Schleed (diretor do Iphan) e Rogério Carvalho (diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais) examinam a obra de Di Cavalcanti - Claudio Kbene - Claudio Kbene
Imagem: Claudio Kbene

Visita ao Supremo. A ministra da Cultura afirmou que a destruição causada no prédio do STF (Supremo Tribunal Federal) parece ser mais grave do que as registradas no Planalto e no Congresso Nacional.

É indescritível. É realmente a negação do respeito pelo Brasil, pela democracia e pelo Poder Judiciário. Não tenho palavras para traduzir tamanha bestialidade
Margareth Menezes, ministra da Cultura

A ministra anunciou ainda três nomes que passam a integrar a diretoria do órgão, responsável pelo processo de restauração.

  • Leandro Grass é o novo presidente da instituição. Foi eleito deputado distrital em 2018, cumprindo mandato até 2022. Como deputado, foi presidente da Frente Parlamentar pela Promoção dos Direitos Culturais e vice-presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
  • Andrei Rosenthal Schleed chefiará o Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização. Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo e professor na Universidade de Brasília. Entre 2011 e 2019, foi diretor de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan --posição a qual retorna em 2023.
  • Deyvesson Gusmão assume o Departamento de Patrimônio Imaterial do Instituto. Historiador com mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Rondônia, ele atua no Iphan desde 2009, tendo exercido as funções de superintendente no Acre, coordenador-geral e analista.

Ainda nesta semana Margareth deve visitar o órgão para alinhar com seus servidores o trabalho de recuperação do patrimônio destruído durante os atos terroristas.