Topo

Mortes, racismo e reconciliação: os destaques das entrevistas de Harry

Príncipe Harry concedeu três entrevistas para divulgar seu novo livro, "O que sobra" - Reprodução/CBS
Príncipe Harry concedeu três entrevistas para divulgar seu novo livro, 'O que sobra' Imagem: Reprodução/CBS

De Splash, em São Paulo

09/01/2023 13h27

Na noite de ontem (8) e na manhã de hoje, o príncipe Harry, 38, concedeu entrevistas na televisão para promover sua autobiografia, "O que sobra", que será lançada amanhã.

Nelas, o príncipe se aprofundou em algumas questões abordadas em seu livro, como as mortes da avó e da mãe, a relação com a madrasta Camilla Parker Bowles e o afastamento do pai, rei Charles 3º, e do irmão, William.

Veja os destaques:

Morte de Diana

Harry diz que acreditou por anos que sua mãe, Diana, estava viva. "Por muito tempo, eu me recusei a acreditar que ela tinha partido. Ela jamais faria isso com a gente, mas parte de mim [acreditava] que talvez isso era parte de um plano. [...] Por algum tempo, [pensei] que ela iria nos ligar e que nós nos juntaríamos a ela", disse o príncipe, que tinha 12 anos quando a mãe morreu em um trágico acidente de carro.

O príncipe diz que pediu para ver fotos do acidente que matou Diana. "Eu vi a parte de trás do cabelo loiro dela, [ela] caída no banco de trás. Havia outras fotografias que provavelmente mostravam o rosto da minha mãe e sangue — imagino que Jamie [secretário de Harry] não me mostrou essas. Eu estava procurando evidência de que aquilo realmente aconteceu, de que era verdade. Mas eu também queria algo para me machucar, porque naquele momento eu estava muito anestesiado em relação a tudo", contou.

Ele diz que tem dúvidas e "perguntas sem resposta" sobre o caso. No entanto, não vê motivo para abrir uma nova investigação agora. "Eu acho que isso não mudaria muita coisa", afirmou.

Harry diz que bebeu, usou drogas pesadas e psicoativas para lidar com o luto. "Eu queria entorpecer o sentimento, ou queria me distrair do que quer que eu estivesse pensando. Eu recorri às drogas também", afirmou. Ele também usou cogumelos e Ayahuasca: "Eu nunca recomendaria que as pessoas fizessem isso de forma recreativa. Para mim, [essas drogas] limparam o para-brisa da miséria da perda. Eles limparam essa ideia que eu tinha na cabeça, de que eu precisava chorar para provar para minha mãe que eu sentia falta dela. Quando, na verdade, tudo o que ela queria era que eu fosse feliz."

Relação com Camilla Parker Bowles

Ele diz que Camilla era vista como "uma vilã" e precisava recuperar sua imagem na mídia. "[Camilla] era a vilã. Ela era a terceira pessoa no relacionamento dos meus pais. [Nós pedimos para que nosso pai não se casasse com ela], achamos que causaria mais mal do que bem. [...] "[Ela era perigosa] porque tinha a necessidade de salvar a sua imagem pública. Ela se tornou perigosa pelas conexões que tinha na imprensa britânica".

Harry acusa a madrasta de vazar histórias para a imprensa. "Certos membros da família 'foram para a cama com o diabo' para reabilitar sua imagem. Se você precisa fazer isso ou quer fazer isso, é uma escolha. É com você. Mas a partir do momento que essa reabilitação prejudica outras pessoas, eu, membros da minha família, é aí que eu coloco um limite."

Apesar das desavenças, o príncipe diz sentir compaixão por Camilla. "Ela tinha uma reputação, uma imagem para recuperar. E qualquer conversa que tenha acontecido [com a imprensa], qualquer acordo ou troca, aconteceu lá no começo [de tudo], e ela foi levada a acreditar que essa era a melhor forma de fazer as coisas", disse.

Relação com Charles e William

Harry considera que recebeu um tratamento "abusivo" da família nos últimos anos. "O silêncio só permite que o agressor abuse, certo? Então, não sei como ficar em silêncio vai melhorar as coisas. Isso é genuinamente no que acredito", pontuou.

Ele afirma que quer se reconciliar e "ter seu irmão de volta". Porém, diz que "não reconhece mais" sua família. "Tanto quanto eles não devem me reconhecer também", completou.

Os príncipes fizeram uma piada no funeral da rainha Elizabeth 2ª. Segundo Harry, apesar das desavenças, ele e o irmão conseguiram fazer um comentário bem-humorado durante a procissão que seguiu o caixão da rainha. "Bom, pelo menos já sabemos o caminho", eles teriam dito, em referência à procissão que fizeram no funeral de Diana.

Morte da rainha e reação de Elizabeth à saída da realeza

Harry diz que a avó não ficou surpresa quando ele e Meghan decidiram deixar os papéis na realeza. "Eu e minha avó tínhamos uma ótima relação. [A saída] não foi surpresa para ninguém, muito menos para ela. Ela sabia o que estava acontecendo, ela sabia como era difícil. Ela nunca me disse que estava brava. Eu acho que ela ficou triste por ter chegado a esse ponto."

O príncipe também foi questionado sobre não ter abdicado de seus títulos reais. "Por que não renunciar aos títulos de duque e duquesa?", perguntou o jornalista Anderson Cooper. "Que diferença isso faria?", rebateu Harry.

Ele afirma também que foi excluído dos planos da família na morte da rainha. "Eu perguntei para o meu irmão. Eu disse: 'Quais são seus planos? Como você e Kate chegarão lá [Balmoral]? E aí, algumas horas depois, todos os membros da família que moram na área de Windsor e Ascot estão em um avião juntos. Um avião com 12, 14, talvez 16 assentos", disse. Ele foi sozinho ao Castelo de Balmoral.

Príncipe contou como foram os últimos momentos com a avó. "Eu cheguei e minha tia [Princesa Anne] estava lá para me cumprimentar. Ela me perguntou se eu queria vê-la [a rainha]. Eu pensei pro cinco segundos, mas depois disse: 'Quer saber? Eu consigo fazer isso. Eu preciso me despedir.' [...] Ela estava no quarto dela. Eu fiquei feliz de verdade por ela. Porque ela concluiu a vida, e seu marido [Príncipe Philip] estava esperando por ela. E os dois estão sepultados juntos."

Racismo na família real

Harry disse que a família real não é racista. Apesar de Meghan ter dito que um membro da família questionou qual seria a cor da pele do primogênito do casal, Archie, Harry afirmou que a mulher nunca disse que a família real é racista, e que foi a imprensa britânica quem disse isso. Ele disse que não considera que o incidente foi um ato de racismo. "Há uma diferença entre racismo e um preconceito inconsciente."

Ele também defendeu Lady Susan Hussey, que se envolveu em uma polêmica de racismo no ano passado. Ela deixou o cargo em Buckingham após questionar repetidamente a origem de Ngozi Fulani, uma ativista britânica que participava de um evento no Palácio. Elas se reuniram depois e Fulani aceitou o pedido de desculpas. "Eu estou feliz por Ngozi Fulani ter sido convidada pelo palácio para se reconciliar com Lady Susan Hussey, porque Meghan e eu amamos Susan Hussey. Meghan acha que ela é ótima. E eu sei o que ela quis dizer, ela não quis machucar ninguém", disse o príncipe.

Esperança de reconciliação

Harry diz que não quis magoar sua família. "Eu amo meu pai. Eu amo meu irmão. Eu amo minha família. Sempre amei. Nada do que eu disse nesse livro ou qualquer outra coisa foi feito com a intenção de machucar ou magoá-los."

O casal está disposto a se desculpar também. "Meghan e eu continuamos a dizer que vamos pedir desculpas por qualquer coisa que fizemos de errado, mas toda vez que fazemos essa pergunta, ninguém diz nada específico. É preciso ter uma conversa construtiva, que possa acontecer de forma particular e não vaze."

Ele espera uma reconciliação. "Se nós pudermos chegar ao ponto da reconciliação, isso irá reverberar pelo mundo. Eu acredito de verdade nisso, e é isso que me motiva a seguir em frente. Se [a reconciliação] não acontecer, será muito triste."