Incêndio trágico de 'Todas as Flores' fez autor lembrar caso da boate Kiss

Escrever a cena de trágico incêndio fez o autor de "Todas as Flores" (Globoplay) João Emanuel Carneiro, lembrar de um caso recente da nossa história: o incêndio da boate Kiss.

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Um grande incêndio acontece no 14ª capítulo da novela disponível no Globoplay. Divulgada na semana passada, a cena gerou comoção por culminar na morte de dois personagens populares, Guiomar (Ana Beatriz Nogueira) e Raulzito (Nilton Bicudo).

Localizada em Santa Maria, cidade universitária do Rio Grande do Sul, o espaço pegou fogo em janeiro de 2013 e 242 pessoas morreram, enquanto 636 ficaram feridas.

Eu acompanhei a tragédia (da boate Kiss) pelos jornais e o incêndio me impactou muito. Lembrei disso de alguma forma enquanto escrevia.
João Emanuel Carneiro sobre incêndio em "Todas as Flores"

Assim como no incêndio ocorrido em Santa Maria, o fogo se alastra rapidamente pela estrutura montada para a festa do centenário da Rhodes — empresa que concentra parte da trama. Mas, em entrevista a Splash, o autor reforça que a ficção não repete "exatamente o que aconteceu na boate Kiss".

No capítulo 14, Patsy (Suzy Rêgo) é humilhada pelo marido Raulzito, que apresenta Mauritânia (Thalita Carauta) como sua nova mulher. Descontrolada e bêbada, ela surge com uma garrafa de uísque na mão e, em um momento de raiva, joga a bebida em direção a uma caixa elétrica na parede, iniciando um curto-circuito e incêndio.

Minutos antes, Guiomar havia flagrado o marido Humberto (Fábio Assunção) com a amante Zoé (Regina Casé) e revelado que já sabia dos crimes cometidos pela vilã de Casé. Os três começam a discutir na casa de máquinas e Zoé derruba Guiomar. Ela não consegue sair do lugar, enquanto Humberto e Zoé fogem sem ajudá-la.

"A morte da Guiomar é importante para o desenvolvimento da trama, porque junto com ela, são enterradas as descobertas que havia feito sobre Humberto e Zoé, conferindo mais suspense e mistério para a narrativa", explica.

A princípio, a novela foi pensada para a TV e depois migrou para o streaming. O autor conta que precisou fazer alterações na narrativa.

"Eu estou adorando essa nova aventura de escrever para o streaming. Acho que é uma nova forma de consumir novelas, uma aposta muito inteligente da Globo. Sobre a trama, essa novela tem muitas reviravoltas e é muito concentrada em termos de elenco, de trama central. E isso se mantém. Eu enxuguei alguns núcleos e inclui outros ganchos, o que tornou Todas as Flores ainda mais ágil", afirma.

Como foi o incêndio da boate Kiss?

Em janeiro de 2013, o incêndio da boate Kiss matou 242 pessoas e deixou outras 636 feridas em 2013. Segundo testemunhas, o fogo teria começado quando o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, lançou um sinalizador contra o teto de espuma inflamável.

De acordo com a investigação da polícia, a casa estava superlotada, os extintores posicionados na frente do palco não funcionaram e a saída de emergência foi insuficiente. A maioria das mortes foi causada por asfixia causada pelo gás cianeto, liberado pela espuma inflamável.

Quatro pessoas foram condenadas em dezembro de 2021 pelo Tribunal do Júri em um julgamento que durou dez dias. Foram sentenciados por dolo eventual os dois sócios da boate — Elissandro Callegaro Spohr, conhecido por Kiko, e Mauro Londero Hoffmann— e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira — o produtor Luciano Bonilha Leão e o vocalista, Marcelo de Jesus dos Santos.

Após a condenação, a defesa dos quatro condenados ingressou com apelações na Justiça, alegando nulidades no processo e durante o julgamento. Um dos pontos questionados pelos advogados foi a sentença por dolo eventual, ou seja, quando, mesmo sem desejar o resultado, se assume o risco de matar.

Em agosto deste ano, o TJ-RS (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul) decidiu anular o julgamento a pedido da defesa dos prisos. Com a decisão, um novo júri deve ser marcado.