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Priscilla Alcantara não rebate ataques: 'Fanatismo religioso feriu pessoas'

Priscilla Alcantara se apresentou com Emicida no primeiro domingo do Rock in Rio, e retorna ao festival no próximo dia 11 - Reprodução/Instagram
Priscilla Alcantara se apresentou com Emicida no primeiro domingo do Rock in Rio, e retorna ao festival no próximo dia 11 Imagem: Reprodução/Instagram

De Splash, no Rio

07/09/2022 04h00

Priscilla Alcantara sobe ao palco do Rock in Rio no dia 11 com seu primeiro show pop, no Palco Supernova, mas ela já fez sua estreia no festival durante o show do cantor Emicida no último domingo. Os dois cantaram as músicas "Hoje Cedo", dueto original de Emicida com Pitty, "Você Aprendeu a Amar?" e "Principia".

O show do cantor foi um dos mais elogiados do domingo, mas a apresentação de Priscilla motivou críticas de parte do público nas redes sociais. Na pauta, o fato de a cantora ser evangélica e ter a sua aproximação com pautas e artistas ligados aos movimentos negro e LGBTQIA+ como algo forçado, destinado apenas a promover a sua carreira. Antes uma artista gospel, Priscilla Alcantara migrou para a música pop no ano passado.

Em entrevista a Splash, Priscilla diz que ainda não entende todas críticas que recebe desde que migrou do gospel para a música pop há cerca de um ano, mas enxerga que parte do público destina a ela o "ranço" que tem do fanatismo religioso e do histórico de falas preconceituosas de outros evangélicos. Por isso, ela diz escolher não rebater as críticas, apesar de ponderar que outros artistas, como Justin Bieber, falam abertamente de religião em suas apresentações sem receber os mesmos ataques.

"Falam que eu tenho que rebater quem me bota ali dentro daquele estereótipo evangélico, mas sabe por que eu não rebato? Se você perguntar por que as pessoas têm ranço ou resistência com o crente, você vai ver que em algum momento o fanatismo religioso feriu essas pessoas. Como é que vou rebater isso?", diz.

A cantora pensa que vai ter de carregar esse estereótipo e reafirmar às pessoas quem ela é e o que pensa.

"As pessoas precisam de tempo para assimilar e se curar, sabe? Eu quero ajudar nesse processo de cura e, sempre que possível, pedir perdão em meu nome e em nome de qualquer outro evangélico que feriu pessoas pela orientação sexual ou que usou do nome de Deus para ferir alguém. Esse nunca foi o propósito de Deus na terra, sabe? O propósito de Deus para o evangélico é que ele propague a boa notícia"

"A boa notícia não é que você vai para o inferno por ser quem você é. A boa notícia é que você é amado, aceito e desejado por Deus. Então, eu vou reafirmar sempre isso e ter a paciência para um dia eu ser livre também desse estereótipo, porque eu me libertei muito, graças a Deus, de muitos pensamentos e comportamentos do lugar onde cresci porque me abri para ter uma evolução da minha consciência de fé e entender que a minha fé precisa ser palpável e um ato de serviço pro meu próximo.

Tudo aquilo que em nome de Deus te destrói, não é de Deus. Então também não tem que ser. Não tem que vir de mim. Não tem que fluir de mim. Talvez carregue certo estereótipo, mas eu vou lutar para poder reafirmar aquela frase, 'Jesus não é o fã clube dele', sabe?

"Não vou parar"

No mesmo dia, Justin Bieber se apresentou no festival com músicas e falas ligadas à religião, mas não recebeu as mesmas críticas que Priscilla. Ela diz que homens e mulheres não são cobrados da mesma forma.

"Para mim, é óbvio: eu sou mulher. Você não vê homem sendo cobrado por A, B ou C igual uma mulher é pela mesma situação, entendeu? Infelizmente, é a sociedade que a gente vive. São coisas estruturais e que a gente vai ter que lutar muito para poder desconstruir. O primeiro passo é ser resistente. Eu preciso, pelo menos, ter certeza de que eu vou me sustentar no meio disso aí... É uma situação parecida, né? Tem coisas que eu ainda não entendo. Eu só sei que eu vou continuar. Eu só posso continuar", afirma.

"Eu só tenho a certeza que não vou parar porque acabei de começar. A gente vai deixar influências externas pararem a gente logo no começo assim? Eu tenho que me dar a chance de ver até onde eu posso chegar. A gente tem que ter coragem de se desafiar, de enfrentar o que tiver de enfrentar. As críticas estão no pacote? Beleza, vamos para cima e também dar a oportunidade das pessoas me conhecerem e observarem o que eu penso, como eu ajo, canto e me relaciono com causas", continua.

Críticas dos evangélicos

Se hoje Priscilla é criticada no universo da música pop por ser evangélica, setores do mundo cristão também já criticaram a cantora no passado por levar assuntos mundanos ao mercado gospel. Em 2016, o álbum "Gente" provocou críticas de evangélicos mais conservadores por tratar assuntos como liberdade de ser quem a pessoa deseja.

"Por muitos anos, eu apanhei muito na bolha evangélica por me posicionar de forma diferente. Durante a minha evolução pessoal e de fé e consciência humana, eu fui vendo que 'pô, isso aqui não está certo, isso aqui está fazendo mal para as pessoas, só que é para fazer bem'. Enfim, eu comecei a me desconstruir, evoluir e o 'Gente' foi um momento que representou muito isso", diz

"Foi onde eu parei e falei: 'cara, por que só temáticas religiosas? Por que não tocar nas nossas dores e feridas? Por que não evoluir nisso? E eu usei da arte pra poder marcar essa minha evolução e e me comunicar com as pessoas, independente se essa gente é da mesma fé, credo, raça, orientação sexual",