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Lília Cabral faz peça com a filha de olho no futuro: 'Muito preparada'

Colaboração para Splash, do Rio

07/07/2022 04h00

O mundo mudou para sempre em março de 2020, quando foi decretada a pandemia de covid-19 - e a vida antes e depois do vírus é o tema da peça "A Lista", estrelada por Lília Cabral e sua filha, Giulia Bertolli. Em conversa com Zeca Camargo no "Splash Entrevista" desta semana, mãe e filha falaram do espetáculo, que volta ao cartaz em São Paulo nesta sexta-feira, no Teatro Vivo.

"A Lista" nasceu online, em 2020, e fez sucesso: mais de 150 mil pessoas assistiram às apresentações ao vivo, cada uma de sua casa. Na peça, Lília é Laurita, uma aposentada que precisa da ajuda de Amanda, a vizinha mais jovem vivida por Giulia. Elas se relacionam durante a pandemia, isoladas no prédio em Copacabana, onde moram.

"A peça faz dois movimentos importantes", explicou Giulia. "Um é ser uma crônica de seu tempo, das emoções que a gente passou em 2020. Nem tudo era tristeza, nem só alegria. E um futuro quase que imediato pra gente ter uma esperança de que as coisas mudam."

Muitas emoções

Dirigida por Guilherme Piva, a peça causou um turbilhão de emoções em algumas plateias no Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre em 2021. No primeiro semestre deste ano, causou o mesmo efeito no público paulistano do teatro Renaissance. Para as atrizes, a nova temporada no teatro Vivo apenas atesta a identificação da plateia com o texto.

Em 10 minutos de peça, as pessoas vão compreendendo que são dois personagens distintos, mas com a mesma linha de condução, que é a solidão. O público se mata de rir e de chorar ao mesmo tempo.

Nem mesmo as críticas mais duras - de que teatro online "não é teatro" - as incomodaram. "Muita gente não concordava com esse jeito, que não era teatro", achou graça Lília.

Pra ser bem sincera, quando veio essa possibilidade, eu não pensei se era teatro ou se não era. Eram tantos desafios que, pra mim, valeu muito a pena.

teatro - Pino Gomes/Divulgação - Pino Gomes/Divulgação
Lilia Cabral e a filha, Giulia Bertolli
Imagem: Pino Gomes/Divulgação

Adaptação

"A Lista" surgiu como uma iniciativa do Teatro Já!, de Ana Beatriz Nogueira. O autor Gustavo Pinheiro escreveu a peça pensando em Lilia e Giulia, que moravam juntas quando a pandemia começou, em 2020. "A gente fez com os objetos aqui de casa, os figurinos aqui de casa", contou Lília.

Essa capacidade de adaptação apenas provou, para a atriz, que ela está pronta para as novas configurações de trabalho artístico que a pandemia (sempre ela) parece ter acelerado, com contratos por obra e novas formas de parceria.

Estou muito preparada há muito tempo. Acho que teremos oportunidades até mesmo de fazer coisas pensadas em conjunto. É um novo tipo de proposta de vida.

Arte é vida

Ao mesmo tempo, "voltar à programação normal", com a reação imediata do público durante as apresentações "físicas", também dá uma sensação boa, diz Lília:

As pessoas não viam a hora de sentar de novo umas ao lado das outras. Isso só comprovou o quanto a arte é fundamental para complementar a semana do público. Poder ir a uma peça, ao cinema, a um museu. Isso faz parte da nossa vida.

A TV também, inevitavelmente. A esse veículo, elas ainda não voltaram - exatamente. Giulia teve uma despedida "um pouco forçada" de "Malhação". "Fechou tudo em 2020, com o lockdown, parou", disse. Já Lília voltou em alguns programas esporádicos, como o "Lady Night" de Tatá Werneck. Foi quando ela notou mais um efeito da pandemia em sua vida.

Pisar no estúdio foi uma emoção tão grande, Quando me vi ali tive uma luzinha do quanto a rotina faz falta. Fazer o caminho de todos os dias, conviver com a equipe. Esse dia-a-dia faz falta, a gente vê isso quando não tem.

E como compensar essa falta? Tanto no caso de Lília, 64 anos, como de Giulia, 24, com muita criatividade. Ainda na pandemia, Giulia criou "Karina 201", uma ficção de humor que está disponível no YouTube. Atriz de formação, ela se arriscou também em roteiros e na direção. "Hoje eu digo que vivo de artes", assumiu Giulia. Quarenta anos mais velha, Lília tem espírito semelhante ao da filha. "Sempre fui inquieta."

Participar da criação de um projeto é muito bom, eu tenho paixao por isso. É o que me alimenta.

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Lilia Cabral e a filha, Giulia Bertolli
Imagem: Pino Gomes/Divulgação