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Alice Marcone, de 'De Volta aos 15', é primeira cantora trans de sertanejo

Alice Marcone vive Camila em "De Volta aos 15" - Reprodução/ Instagram
Alice Marcone vive Camila em 'De Volta aos 15' Imagem: Reprodução/ Instagram

Fernanda Talarico

De Splash, em São Paulo

16/03/2022 04h00

Com Maisa Silva e Camila Queiroz, "De Volta aos 15" se tornou um sucesso da Netflix e deu espaço para outros nomes do elenco também ganharem protagonismo. Foi o caso da atriz Alice Marcone, que vive a personagem Camila.

Alice tem 27 anos e não é apenas atriz: ela chamou a atenção do público por ser a primeira mulher trans pública a cantar sertanejo. Ela lançou o seu primeiro single em 2020, o "Noite Quente", e se tornou um dos principais nomes do queernejo — movimento musical encabeçado por artistas LGBTQIAP+. Depois, no mesmo ano, se juntou ao cantor Gabeu para divulgar a música "Pistoleira".

A escolha pelo gênero musical veio da sua infância. Nascida em Valinhos, interior de São Paulo, ela se mudou para Serra Negra (SP) quando ainda era criança, onde morou até os 17 anos. Com a experiência de ter vivido em áreas rurais somada à influência do pai — amante convicto de música sertaneja —, a escolha musical de Alice não poderia ser outra.

"Num primeiro momento, minha entrada no queernejo será para explorar o universo do sertanejo universitário e falar de amor, mas eu quero falar do sertanejo raiz, de sua racialidade e como isso foi apagado", contou em entrevista ao UOL TAB.

Além de cantora e atriz, Alice Marcone também atua como roteirista. Seu primeiro trabalho atrás das câmeras aconteceu ao lado do diretor Daniel Ribeiro, que a convidou para ser consultora de roteiro da série "Todxs Nós", da HBO.

Depois, Alice foi chamada para co-escrever o roteiro de "Manhãs de Setembro", série do Amazon Prime Video estrelada por Liniker. A produção ficou famosa por retratar a vida de pessoas trans e diferentes formatos de famílias. No título, Cassandra (Liniker) é uma motogirl de São Paulo que descobre ter um filho que nasceu antes de ter começado a transição de gênero. A narrativa então acompanha os desafios desta mulher ao tentar viver seus sonhos e conciliar a nova vida como mãe.

Passado

A vida de Alice nem sempre foi tranquila. Em entrevista à revista Veja, ela contou ter sofrido bastante preconceito enquanto um menino gay. "Fui arrancada do armário quando meu primeiro beijo foi exposto nas redes sociais", disse. "O bullying, então, se tornou insustentável."

Cheguei a ser amarrada em uma cadeira e espancada na escola.

Segundo relatou, foi a partir deste evento que seus pais descobriram sua sexualidade, mas não a aceitaram bem. "Meu pai disse que aceitaria um filho homossexual, contanto que não fosse efeminado. Até o último ano da escola, engoli essa parte feminina de mim."

No entanto, com o passar do tempo, os pais foram entendo a sua transição e, hoje, apoiam Alice. "Passei a me entender como mulher aos 20 anos e, aos 21, estava usando hormônios — hoje, ainda bem, meus pais são mais militantes da causa trans que eu."

De Volta aos 15

Dividida em duas partes, a série acompanha Anita, uma jovem de 30 anos infeliz com a vida. Mas ela recebe a oportunidade de mudar tudo quando volta a ter 15 anos. Nessa transição de tempo, acompanhamos Camila, a melhor amiga de Anita que, aos 30 anos, é interpretada por Alice Marcone.

Assim como a atriz, a personagem é uma mulher trans. Quando a série aborda os 15 anos das personagens, conhecemos Camila como César, um homem cisgênero interpretado por Pedro Vinícius, atriz não-binária que ficou conhecida ao interpretar Michael em "Malhação: Vidas Brasileiras".