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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Cientistas afirmam que fofoca faz bem à saúde. Que cientistas? Nem te conto

Menina... - Reprodução
Menina... Imagem: Reprodução

Pedro Uchoa

Colunista do UOL*

15/10/2022 11h00

Sinto te informar, caro leitor, mas há grandes chances de você ser um fofoqueiro. Não encare isso como ofensivo, a especulação da vida alheia é o que move o mundo há séculos. O ser humano é apaixonado por histórias. Por isso as fofocas são tão sedutoras. Como diz o poeta, a história é a destilação de um boato.

As primeiras impressões do Brasil transmitidas ao mundo ocidental, por exemplo, foram feitas em forma de fofoca. A carta de Pero Vaz de Caminha enviada ao Rei de Portugal, considerado o marco inicial da literatura brasileira, se trata de uma grande carta-fofoca. Pero Vaz de Caminha escreve chocadíssimo para o Rei que todo mundo andava pelado por aqui. E ainda completa dizendo que mesmo com as vergonhas nuas, não existia nenhum tipo de constrangimento entre os índios. Logo, o Brasil virou assunto na Europa e deu no que deu. Pero Vaz de Caminha deveria ser considerado como o Primeiro Fofoqueiro do Brasil.

A fofoca é o meio de comunicação mais efetivo e antigo do mundo. A fofoca está na arte. Ver um filme é ficar duas horas espiando a vida alheia. O jornal é um grande compilado organizado de fofocas, que sempre é exibido ao vivo, para não perder nenhum bafão. Eles chamam de notícias somente porque seu interlocutor está vestindo terno e gravata. Um jornalista nada mais é que um profissional da fofoca. Um documentarista então, nem se fala. A fofoca criou empregos, a fofoca gira a economia.

Um dos maiores desafios de um ser humano é segurar uma fofoca. O limite entre o segredo e a fofoca é definido em uma frase: "vou te contar, mas não conta para ninguém". Já era. Aqui jaz um segredo. Segurar uma fofoca não faz bem para a saúde. Guardar um segredo ocupa espaço no seu cérebro, você perde tempo pensando no babado que caiu no seu colo e ele fica martelando sua cabeça até esgotar seus recursos intelectuais e motivacionais, o que significa que a vida do outro está importando mais que a sua. Para recuperar a sua produtividade, a cura é passar essa fofoca para frente. Lembre-se sempre de terminar a fofoca dizendo: "Mas quem sou eu para julgar?" Caso precise, você pode usar "Não sabia que não podia contar" ou "Pensei que ela já soubesse" em sua defesa. Também existe a opção de negar até o fim.

A fofoca é democrática. Existe em todas as famílias. A gente se interessa por fofocas de pessoas que a gente nem conhece, por exemplo quando escutamos a conversa de outra pessoa no ônibus. Entretenimento acessível, imaginativo e grátis. Tudo que seu cérebro precisa para uma boa viagem de volta para casa.

O princípio das redes sociais nasceu do compartilhamento de... fofocas. Já no Orkut, escrevíamos em depoimentos não publicáveis, as fofocas mais quentes, precedidas por NÃO ACEITA!! em caps lock no início da mensagem. Hoje, muito mais desenvolvidas, as redes sociais são um prato cheio para quem gosta de degustar a vida alheia, tanto que o fofoqueiro de redes sociais prosperou e é chamado de stalker, mas é tudo fofoqueiro mesmo.

Um grande exemplo de uma stalker-fofoqueira é a personagem da esquete mais recente do Porta dos Fundos, que demonstra o quanto essa habilidade pode até ajudar na resolução de crimes. E não vou dizer mais que isso, porque aí já estaria fofocando.

*Pedro Uchoa é assistente de roteiros do Porta dos Fundos e seu Instagram (@pedrouchoam) é basicamente para fofocar da vida alheia