Topo

Porta dos Fundos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por falar em rainha, você se dá bem com fantasmas?

Tava aqui ainda agorinha, juro que vi - Reprodução/Twitter
Tava aqui ainda agorinha, juro que vi Imagem: Reprodução/Twitter

Juliana Rodrigues

Colunista do UOL*

21/09/2022 04h00

Você quer uma dica para a vida? Saiba quem são os fantasmas que te cercam. Sim, porque fantasmas estão em qualquer lugar que você vá. E, acredite, não são somente aqueles que morreram de morte morrida, mas também aqueles que fazem parte de um passado que você insiste em rejeitar.

Quando o fantasma está morto mesmo, não há muito o que fazer, só rezar pra entidade de sua preferência. Basta imaginar o castelo de Buckingham. Ali, tem tanto espírito que conseguimos ouvi-los dando topadas nos móveis. Cada estalo é de um Rei, Princesa ou Duquesa que precisou correr para fugir de algum constrangimento.

E, agora, o castelo ganhou mais um: A Rainha. Eu teria medo do que seu espírito pode ser capaz, sério. Como fã de The Crown, não duvido que sua majestade continue reinando diretamente do Além. E ai de quem não cumprir suas ordens (ou tiver dado vexame durante o velório, diga-se): móveis vão cair, pessoas podem tropeçar nas escadas... não se brinca com Betinha.

Mas, como não vivemos em castelos, nem temos títulos a zelar, nossos fantasmas costumam ter um buraco menos embaixo - se é que você me entende. Mais raso que os sete palmos, mas não menos assustador. Por isso, evite sair por aí maldizendo quem se foi da sua vida, mas não desse plano de existência. A sua energia pode não fluir e você ficar com essa carga na sua casa, no seu trabalho, na sua vida amorosa. Dê nome para esses seres. Faça isso por sanidade mental e espiritual. Sua vida será bem melhor vivida se você assim o fizer.

Por exemplo, não chamar a sua ex de falecida já é um bom caminho. Por que as pessoas têm mania disso? A pessoa tem um nome, sabemos. Você escolheu mal ou quem sabe foi ela quem se deu mal? Enfim, pouco importa. Ela tem nome, diga. Não aja como se não fosse nada ou não tivesse acontecido. Reconheça, nomeie e siga sua vida.

Seu chefe era um escroto machista que, sempre que podia, soltava uma piadinha sobre o fato de você ser mulher, ser gay, trans ou até ser mãe. Aí, ele mudou de emprego e você decidiu nunca mais falar sobre ele! Não. Esse fantasma não pode se fingir de morto. A premissa é: se o espírito (mesmo que vivo) ainda te dá arrepios, é porque sua energia está presente. Fale mal dele e exorcize esse ser na lábia.

Outro exemplo: você votou mal numa eleição passada, mas finge que nunca aconteceu. Vive sua vida sem realmente assumir que esse fantasma está na sua cola toda vez que fala mal do Brasil. Meu amigo... esse é o pior dos espíritos. Ele faz parte de uma linha de espíritos zombeteiros concentrada no umbral e que espera pelo juízo final há séculos. Esse aí exige sessão de descarrego pesada e, mais do que isso, livramento no próximo pleito. Só o voto poderá te salvar desse carma, meu caro. Acerte dessa vez ou nunca mais você dormirá em paz.

De resto e em resumo, proponho que vocês negociem e acertem seus pontos com seus fantasmas. Senão, periga terem de fazer hora extra para pagar a conta de luz (ou tentar dividir a conta, como no caso documentado essa semana no Porta dos Fundos).

*Juliana Rodrigues é roteirista, coordenadora de conteúdo do Porta dos Fundos e tem medo do escuro