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Pedro Antunes

Brisa Star, o fenômeno que une Kanye West com Os Barões da Pisadinha

Colunista do UOL

12/08/2021 17h15

Enquanto o prometido álbum de Kanye West não vem, temos Brisa Star.

Produto nacional de primeira grandeza, podes crer.

A jovem mineira de 14 anos - cuja ascensão foi esmiuçada pelo sempre ligado repórter Breno Boechat, aqui de UOL Splash -, tem na pouca idade a virtude dos destemidos.

Sabe aquele lema desgastado pela pandemia daquele monte de coach de plantão: "Sem saber que era impossível, foi lá e fez"?

O jovem é destemido porque ainda não sabe qual é o tamanho da consequência de um erro. Isso pode ser desastroso, é claro, mas também é incrivelmente libertador.

Nos moldes de Kanye West no álbum mais de sofrência dele, o 808s & Heartbreak (2008), Brisa Star entorpece os próprios vocais com o autotune, esse programa que mexe e distorce a voz em um híbrido meio de carne e osso e meio robótico, tudo ao mesmo tempo.

Ouça "Se Joga No Passinho", abaixo, o single dela com participação do TJ (o cantor Thiago Jhonathan), atualmente no 11º lugar no Top 200 do Spotify Brasil e 13º da parada viral, também da plataforma de streaming sueca, e perceba como a voz dela é modulada e se assemelha ao que fez Kanye West na rancorosa (e por isso ótima) "Heartless".

'Se Joga no Passinho', Brisa Star ft Thiago Jhonathan

'Heartless', de Kanye West

A fragilidade na voz de ambos, em versos como "cê dança assim comigo", de Brisa, e de "How could you be so heartless?", é a mesma, assim como a ideia das vozes distorcidas.

Claro, vocais com autotune não são uma novidade, nem na música brasileira e nem no hip-hop norte-americano (vide o sucesso e popularidade do rapper T-Pain no início dos anos 2000, usando essa fórmula até quase a exaustão). Bandas de tecnobrega que a Pabllo Vittar ama (e eu também), como Companhia do Calypso, banda Ravelly e Kassikó, também fazem uso de distorções de voz com maestria há um par de décadas também.

O segredo de Brisa Star tem a ver com o tempo e o espaço onde ela está inserida. O piseiro, a pisadinha ou o forró eletrônico é o único gênero capaz de desafiar a hegemonia do sertanejo na música popular brasileira, mas é um movimento incomodamente masculino ainda, apesar do crescimento de artistas como Mari Fernadez e Japinha Conde.

Brisa Star desafia essa ambiente historicamente hostil, portanto, com uma característica muito própria, conectando Barões da Pisadinha e o ícone da vaquejada Zé Vaqueiro (com quem ela gravou "Cena de Amor", em 11º lugar no YouTube Brasil) com Kassikó. O resultado que a aproxima da estética de um gigante da música gringa como Kanye West.

Eu realmente consigo imaginar Kanye West cantando em "Vem Pro Meu Piseiro". Alô, turma dos mash-ups, que tal a ideia?

Há ainda um espaço enorme para Brisa Star crescer, ganhar maturidade, entender sua própria voz e brincar mais com as notas agudas e em melodias vocais mais ousadas (como ela arrisca em "Cena de Amor", o single citado com Zé Vaqueiro), mas nome de estrela ela já tem.

Ao lado de Thiago Jhonathan, ela desafia as improbabilidades. E amamos histórias improváveis.

Só não é mais improvável do que Kanye West lançar um álbum na data prevista. Aliás, a previsão mais recente é que "Donda" seria lançado amanhã (13). Será?