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Flavia Guerra

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Emmy mostra que ligação entre velha TV e plataformas não tem mais volta

JB Smoove,  Frank Scherma e Melissa Fumero no anúncio dos finalistas do Emmy Awards 2022 - Divulgação
JB Smoove, Frank Scherma e Melissa Fumero no anúncio dos finalistas do Emmy Awards 2022 Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

12/07/2022 18h50

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Depois de dois anos de pandemia, cerimônias online, discussão de novas regras e o crescimento dos streamings, que cada vez mais borram as fronteiras das telas da TV com a dos computadores, smartphones e tablets, pelo menos dois pontos são certos: a produção para o formato cresce como nunca e a convergência entre a "velha" TV e as "plataformas" não tem mais volta.

Isso porque, além do recorde de inscrições (somente de séries de dramas, houve 171 inscritos), o Emmy Awards 2022 anunciou pela primeira vez seus finalistas sem divulgar necessariamente qual emissora e/ou o streaming/ plataforma que lidera a lista de indicações, numa clara demonstração de que é o talento, a série, a produção, enfim, a história que está em questão.

Nesta terça, Melissa Fumero e J.B.Smoove, em cerimônia transmitida no Youtube e nas redes sociais da Academia de Artes e Ciências Televisivas dos EUA, anunciaram os finalistas. Detalhe: Há uma lista imensa, que inclui direção, fotografia, figurino, não-ficção ou documentário etc, que não é anunciada ao vivo, mas que pode ser conferida no site do Emmy.

Este parece um mero detalhe mas, considerando que o prêmio sempre foi considerado o "Oscar da TV", a questão é que TV é esta? Isso também se considerando que as grandes redes produtoras de séries sempre tiveram, e ainda têm, o Emmy como uma plataforma de projeção de seus esforços e investimentos em televisão. Desde sempre as manchetes focam muito em chamadas do tipo "HBO lidera Emmy de 2021 com 130 indicações. Netflix tem 129 candidatos".

Agora em 2022, HBO e HBO Max contabilizam novamente juntas as indicações, com 140 no total, e lideram a corrida. Afinal, cada uma escolhe em que guarda-chuva incluir seus candidatos. Isso não muda muito para a Netflix, que nasceu streaming, mas para as duplas HBO + HBO Max, Fox + Hulu, Disney + Net Geo, a questão é diferente. Como observou a revista Variety em artigo levantando justamente este ponto, em 2021 a HBO teve 94 indicações e HBO Max teve 36, dando os 130 totais. "As duas marcas operam sob o mesmo guarda-chuva Casey Bloys, e os programas são todos promovidos juntos pela mesma equipe de prêmios."

"A FX produz os programas da (plataforma, que não opera no Brasil) Hulu, mas prefere que estas séries sejam creditadas à FX - mesmo que nunca tenham sido exibidas nos canais lineares. Na Geo faz o mesmo com a Disney +, ainda que esses programas são creditados à Disney +, e não Nat Geo. Do mesmo modo, o programa "The Real World Reunion", da MTV, é exibido na Paramount +, mas o MTV Entertainment Group prefere contar suas indicações como um conglomerado e não como canais individuais", informou a Variety.

A Disney, ainda segundo a Variety, "gostaria de pontuar que toda sua companhia (incluindo ABC, Hulu, Disney +, FX Networks e Freeform) devem ser agrupados como um grupo só diante da Netflix e que, neste caso, eles são competitivos (e que no ano passado bateu tanto a Netflix quanto HBO / HBO Max como um combo, com 146 indicações)."

Dito isso, ou esperamos para finalmente contabilizar quem levou mais depois da premiação do dia 12 de setembro, data marcada para a entrega dos Emmys, ou incorporamos os tempos fluidos e celebramos as produções sem a neurótica corrida por números e mais números.

O fato é que o formato audiovisual para TV nunca esteve tão prolífico. "Como bem observou o CEO da Academia de TV, Frank Scherma, houve recorde de inscrições. Mais um reflexo da "era dos streamings". Em séries de dramas, houve 171 inscrições. Em comédia foram 188 inscritos e em séries limitadas (com, a priori, uma temporada apenas), 61 candidatas.

Filmes para TV foram 48 inscritos. No ano passado foram 41 inscritos e em 2020, 28. Ou seja, filmes que são criados e lançados diretamente para o streaming também cresceram e, mesmo que sejam lançados por período curto nos cinemas em alguns casos, o streaming continua forte também na narrativa "de filmes".

De toda forma, já que amamos números e rankings, é da HBO a líder e de indicações: "Sucession" com 25. Em seguida um empate. "The White Lotus", também HBO, tem 20 indicações, incluindo de Melhor Série Limitada. Em segundo também, a Apple TV+ emplacou "Ted Lasso" também com 20 indicações, incluindo Melhor Série de Comédia.

A Apple TV +, a propósito, que vem investindo como nunca em produções de séries merecia mais. Teve suas melhores reconhecidas, com indicações para a ótima "Ruptura" ( "Severance") e a já tradicional "The Morning Show". Mas Samuel L. Jackson e a ótima "Os Últimos Dias de Ptolemy Grey" mereciam ter mais indicações. Sem contar que a épica "Pachinko", que chacoalhou o universo dos fãs dos "doramas" coreanos merecia ao menos ser indicada a Melhor Série Dramática Limitada, sem contar design de produção, figurino, atriz. Levou apenas o de "Melhor Abertura", ou "melhor vinheta de abertura". Sem contar "We Crashed", que, no mínimo, seria justo ser lembrada pelas atuações de Jared Letho e Anne Hathaway.

A Apple segue forte na produção de lançamento e acaba de lançar a surpreendente minissérie "Black Bird", com Taron Egerton e Paul Walter Hauser, que vai ganhar em breve uma crítica desta colunista.

Quem estranhou a ausência de "The Boys" (Amazon Prime Video), a série não estreou em tempo. São elegíveis as séries que estreiam entre 1 de junho de 2021 a 31 de maio de 2022. A nova temporada de "The Crown", que estreia na Netflix no final do ano, e "The Handmaid 's Tale" (no Brasil, na Paramount +), que estreia em setembro, ficaram, portanto, de fora. "Stranger Things" conseguiu entrar no páreo com sua Parte 1 da Temporada 4, mas a Parte 2 ficou para o Emmy 2023.

Um ponto à parte é a categoria documental, que merecia ser anunciada em "horário nobre". Afinal, grandes sucessos da Netflix este ano foram justamente "O Golpista do Tinder", abrindo uma temporada de séries e filmes sobre golpistas reais. Completam a lista a produção do NYT (no Brasil, disponível na Globoplay) "Controlling Britney Spears","George Carlin's American Dream"(HBO Max) e "We Feed People" (Disney+).