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Opinião

Neuromodulação não invasiva

Por: Profa. Dra. Carolina Souza, neurocientista.

A neuromodulação não invasiva é uma técnica inovadora e promissora que tem ganhado destaque na comunidade científica, envolve a estimulação de áreas específicas do cérebro utilizando estímulos elétricos, ou magnéticos, sem a necessidade de procedimentos cirúrgicos invasivos. A técnica mais estudada de neuromodulação não invasiva é a Estimulação magnética transcraniana (EMT).

A EMT funciona por meio da aplicação de pulsos magnéticos em regiões específicas do cérebro, o que induz correntes elétricas nesses tecidos nervosos. Essas correntes elétricas podem modificar a excitabilidade neuronal e a plasticidade cerebral. Dependendo dos parâmetros utilizados e dos objetivos terapêuticos, a EMT pode aumentar ou diminuir a atividade neuronal nas áreas estimuladas.

A técnica foi aprovada pelo FDA (Food and DrugAdministration), agência reguladora nos EUA, em 2008. No Brasil a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) regulamentou o uso do aparelho de EMT em março de 2006.

Essa abordagem terapêutica tem demonstrado grande potencial para tratamento de diversas condições psiquiátricas e neurológicas, tais como Depressão, Acidente Vascular Cerebral (AVC), doença de Parkinson, dores crônicas como Fibromialgia, TDAH, entre outras doenças.

Neuromodulação
Neuromodulação Imagem: Divulgação

A maioria dos trabalhos de neuromodulação não invasiva divide os protocolos de tratamento em fase de indução e de manutenção, sendo que a quantidade de sessões varia conforme o protocolo utilizado em cada doença. Tradicionalmente, a fase de indução nos estudos varia de 10 a 20 sessões diárias, com intervalo nos finais de semana. Na fase de manutenção ocorre um espaçamento entre as sessões e em seguida descontinuidade do tratamento.

Neuromodulação para tratamento da depressão.

Em 1996, iniciaram os estudos sobre EMT para tratamento de depressão, usando como alvos corticais as regiões que têm relação fisiopatológica com a doença, como o córtex pré-frontal dorso lateral esquerdo que na doença encontra-se hipoativo, e o córtex pré-frontal dorso lateral direito (hiperativo). Com base nesta premissa, surgiram as principais linhas de pesquisa e tratamento da EMT em depressão, estimulação em alta frequência do CPFDL esquerdo e em baixa frequência CPFDL direito. Atualmente segundo o guidline de Lefaucheur e colaboradores (2019), a EMT possui nível de evidencia A (definitivamente eficaz) para tratamento da depressão, desta forma, a EMT configura-se como um potente adjunto no tratamento da depressão.

Neuromodulação para reabilitação de pessoas após Acidente Vascular Cerebral
Nas últimas duas décadas diversos estudos robustos surgiram sobre a neuromodulação não invasiva como técnica de estimulação cerebral na reabilitação pós-AVC, potencializando o efeito de outras técnicas de reabilitação como fisioterapia e fonoterapia. Segundo os principais estudos, podemos considerar a EMT nível A de evidência cientifica (um tratamento definitivamente eficaz), quando realizada nos primeiros 6 meses após o AVC, e nível de evidencia cientifica B para casos crônicos (considerada provavelmente eficaz), após 6 meses do AVC.

Neuromodulação não invasiva e dor crônica.
A dor é uma das principais queixas encontradas nos centros de reabilitação, e sua prevalência é expressiva tanto na população brasileira adulta, com uma taxa de 35,7%, quanto entre idosos, com uma taxa de 47,3% de dor crônica (DC)
A Estimulação magnética transcraniana tem sido amplamente estudada e utilizada nos centros de reabilitação como tratamento principal ou auxiliar de pessoas com Dor crônica. Trata-se de uma terapia segura e indolor. EMT quando realizada no córtex motor em alta frequência possui mecanismos analgésicos e auxilia no tratamento da Dor Crônica.

Neuromodulação para tratamento de pessoas com doença de Parkinson

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A doença de Parkinson é uma doença crônica,progressiva, neurodegenerativa, incurável, caracterizada por sintomas motores e não motores.
A Neuromodulação não invasiva é indicada como tratamento complementar para doença de Parkinson. O número de pesquisas de qualidade relacionadas a neuromodulação não invasiva na DP tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. A neuromodulação não invasiva pode ser indicada no tratamento de sintomas motores, como a lentidão, rigidez, tremor, dificuldades de locomoção,equilíbrio, postura e engasgos, além de sintomas não motores como depressão, apatia, dificuldades de memória, dor e distúrbios do sono REM.

Neuromodulação
Neuromodulação Imagem: Divulgação

Evidências cientificas mostram que os resultados induzidos pelas terapias convencionais de reabilitação como fisioterapia e fonoaudiologia, são potencializados quando tais terapias são associadas a neuromodulação, visto que ambas são capazes de modificar a atividade cerebral, induzindo a neuroplasticidade (habilidade do sistema nervoso de modificar e adaptar sua estrutura frente a estímulos ou em resposta a lesões).

No Brasil, a neuromodulação está disponível em alguns centros de pesquisa como o Hospital das Clínicas da FMUSP e em algumas clínicas privadas.
A incorporação da neuromodulação não invasiva no Sistema Único de Saúde representaria um avanço significativo no acesso a tratamentos inovadores e menos invasivos para diversas doenças.
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A neurocientista e fisioterapeuta Carolina Souza
é diretora da Clínica Reabilitar- Centro de excelência em Neuromodulacão.
Av. Paulista 1636, conjuntos 207 e 208- São Paulo. Tel. (11) 93231- 6000

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do BOL

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