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Santuário de Lourdes se reinventa para compensar perda de peregrinos

Casa dos pais de Bernadette Soubirous, a Santa Bernadette, em Lourdes - Pascal Pavani/AFP
Casa dos pais de Bernadette Soubirous, a Santa Bernadette, em Lourdes Imagem: Pascal Pavani/AFP

De Lourdes, na França

04/03/2016 12h20

Lourdes era o principal destino das peregrinações religiosas na Europa, mas o município francês, onde a Virgem fez uma aparição há 158 anos, segundo a tradição católica, busca agora reinventar-se para sobreviver à queda do número de visitantes.

No dia 11 de fevereiro, uma quinta-feira, dez mil pessoas compareceram à missa para celebrar o aniversário. "Costumávamos ser mais", admitiram Christall e Lebeau, dois palhaços-peregrinos vestindo trajes multicoloridos.

"Há alguns anos nós dizíamos: temos cinco milhões de visitantes. Extraordinário! Lourdes não percebeu a queda, não reagiu", afirma Josette Bourdeu, prefeita de Lourdes desde 2014.

Crise
A queda do número de peregrinos e de duração das viagens estão relacionadas à crise econômica, sobretudo na Espanha e Itália, os dois países que enviavam o maior número de visitantes estrangeiros.

Mas também com os comportamentos dos turistas, que deixaram de lado as viagens em grupo para optar pelas individuais, mas centradas em uma descoberta do que na questão religiosa.

As dificuldades de Lourdes também têm um componente de concorrência cultural. Em Medjugorje (Bósnia-Herzegovina) as aparições da Virgem atraem cada vez mais italianos. "Perdemos metade de nossa clientela transalpina", calcula Pascale Fourticq, diretora da agência de turismo local.

Um comunicado recente das autoridades municipais esboça um balanço sombrio: entre 2009 e 2014 aconteceu uma redução das visitas (-24%), das reservas hoteleiras (-23%) e do número de estabelecimentos (-25%).

As empresas de turismo da cidade de 15.000 habitantes "estão cada vez pior", com uma queda de 9% no faturamento. Dez hotéis fecharam em um ano e quase 60 foram obrigados a oferecer os "menores preços da França".

O santuário propriamente dito, administrado pela Igreja Católica, também foi afetado pela situação, pois é financiado com as peregrinações. A situação ficou ainda mais complicada com as inundações de junho de 2013 e as obras necessárias.

Após alarme falso de bomba, santuário de Lourdes, na França, é visto vazio - Pascal Pavani/AFP - Pascal Pavani/AFP
Imagem: Pascal Pavani/AFP

Turismo espiritual
Para reagir, a cidade tenta adotar o "turismo espiritual", que pode proporcionar uma clientela com mais dinheiro. Benoît Casterot realizou obras para que levar seu hotel de três a quatro estrelas.

"Nós tínhamos uma clientela de menos recursos", afirma Casterot, que espera uma visita do papa Francisco ao local, como Bento XVI fez em 2008, para estimular a economia local.

"Queremos promover Lourdes com a região, os Pirineus", disse Fourticq, que sonha em transformar a cidade em uma "referência europeia" do turismo espiritual. Em outubro, eles organizaram o primeiro evento sobre o tema.

A cidade também tenta ser mais acolhedora. A prefeitura reformou os locais que marcaram a vida de Bernadette Soubirous, para quem a Virgem apareceu há mais de 150 anos. Na primavera, os jardins receberão as cores do Jubilei da Misericórdia (azul, branco, ocre e vermelho).

Para a prefeita Josette Bourdeu, as mudanças são positivas, desde que a recepção aos enfermos que visitam o santuário com a esperança de um milagre continue sendo a espinha dorsal de Lourdes.