Seis gringos contam o que amam e odeiam em São Paulo
Neste dia 25 de janeiro, a cidade de São Paulo comemora os 463 anos de sua fundação. É um momento em que políticos, veículos de imprensa, artistas e população em geral celebram os diversos aspectos positivos da metrópole, como sua diversidade cultural e força econômica.
Mas, o que turistas estrangeiros que já visitaram São Paulo têm a dizer sobre a cidade? Apesar de para muitos não ser especialmente bonita, a capital paulista costuma deixar fortes impressões nos forasteiros que a exploram (para o bem e para o mal).
Para saber como o maior centro urbano do Brasil é visto por olhos estrangeiros, o UOL entrevistou seis "gringos" que já tiveram a chance de passear pelas ruas paulistanas. Veja abaixo o que eles amaram (e odiaram) na Terra da Garoa.
Comida de padaria e assalto no trânsito
Casada com um paulista do ABC, com quem vive na cidade de Sydney, a contadora australiana Khara Shaw, de 32 anos, já visitou São Paulo duas vezes e amou o lado gastronômico da cidade. "Eu adorei a comida servida nas padarias e nas feiras de rua daí. Também fiquei fascinada com o esquema dos restaurantes por quilo e com a quantidade de carne servida nas churrascarias. Em qualquer lugar de São Paulo a comida é fresca e deliciosa".
Ela também elogia a vida noturna de São Paulo. "Os paulistanos sabem fazer uma boa festa e são ótimos dançarinos. Me diverti muito em casas de música ao vivo, além de ter curtido os shoppings locais. A moda parece ser algo importante em São Paulo e as lojas de roupa por aí são excelentes".
Khara, entretanto, viveu experiências ruins na Terra da Garoa. Em suas duas visitas, realizadas em 2013 e 2016, ela presenciou assaltos à mão armada no trânsito. "A violência me deixou bem assustada" conta ela. "Além disso, em 2016, fiquei extremamente preocupada com o vírus zika. Como estrangeira, eu tinha lido que o zika estava espalhado por todo o Brasil e fiquei com medo de ser picada por mosquitos". Felizmente, isso não aconteceu, e a australiana fez questão de tirar uma foto ao lado da réplica gigante de um mosquito exposta na avenida Paulista (como pode ser visto acima).
Papo gostoso e horários disputados
Por razões de trabalho e para fazer turismo, o empresário americano Zack Henry, de 43 anos, esteve em São Paulo diversas vezes nos últimos anos (e chegou a viver por aqui durante quatro anos nos anos 2000). E o que ele mais gosta na cidade? Os bate-papos que tem com os paulistanos. "Eu nunca tive uma conversa entediante em São Paulo", diz ele. "Seja em um jantar ou durante uma caminhada no parque, eu sempre achei fascinante conversar com as pessoas que moram nesta cidade. Os paulistanos são sofisticados, seja falando sobre cultura, futebol ou sobre as últimas notícias do dia".
Zack também ama a pizza feita em São Paulo. "Eu nasci em Nova York e sempre comi pizzas excelentes por lá. Mas não há melhor combinação de pizza e cerveja do que a oferecida pela pizzaria Bráz (que tem unidades em bairros como Pinheiros, Higienópolis e Moema). Minha esposa e eu sempre vamos lá, porque a vida é curta demais para comer pizzas mais ou menos".
Já entre as coisas que desagradam o americano está, logicamente, o trânsito. "Sim, não é nada original falar mal disso. Mas fico chocado com o fato de você quase conseguir ler um jornal enquanto está preso no trânsito de São Paulo. Certa vez, durante uma chuva, demorei quase uma hora só para sair do estacionamento do prédio em que trabalhava e mais 45 minutos para dirigir até minha casa. Caminhando, eu teria feito este percurso em 15 minutos".
Zack também reclama de um costume paulistano (e brasileiro) que ele acha incompreensível. "Quando morava na cidade, eu certa vez perguntei à minha esposa [que é brasileira]: 'vamos no cinema neste sábado na parte da manhã?' Ela respondeu: 'não tem graça'. E eu disse: 'e também não tem fila!' Em Nova York, você faz de tudo para evitar multidões. Em São Paulo, é o inverso: as pessoas parecem gostar de frequentar lugares nos momentos em que eles estão mais lotados. Eu não entendo isso, mas tudo bem: eu sou apenas um 'gringo'". Na foto, Zack posa com o que ele chama de "peruca do Donald Trump" durante uma última visita ao Brasil.
Virada Cultural e ruas sujas
A fotógrafa japonesa Yumiko Murakami, de 34 anos, viveu em São Paulo por três anos e, depois, voltou à cidade para visitar amigos. Para ela, a Virada Cultural foi sua melhor experiência na cidade. "É simplesmente fantástico ver uma prefeitura liderando uma festa cultural tão grande, moderna e livre", avalia ela. "Seria impossível realizar a mesma coisa em Tóquio, por causa da burocracia e da falta de tolerância dos habitantes da cidade ao som alto".
Ela também conta que se surpreendeu com o que chama de "generosidade e equilíbrio de vida dos paulistanos". "Apesar de ser estrangeira, eu sempre fui muito bem tratada por aí. Pessoas já me ajudaram e puxaram papo comigo na rua e senti que, em São Paulo, há menos discriminação contra minorias étnicas do que em outros lugares do Brasil. O paulistano também parece saber equilibrar bem os aspectos de sua vida. É uma cidade onde as pessoas trabalham e estudam muito, mas também sabem relaxar e curtir a vida em seus momentos de folga. É um povo bem mais sossegado do que o japonês, que sempre está preocupado com o trabalho e em seguir regras a todo o momento".
Como muitos outros estrangeiros, porém, Yumiko se assustou com a violência na capital paulista. "Eu tinha vontade de passear pelo centro à noite, mas sempre ficava com medo de ser assaltada. Também não gostei das multidões no metrô. Acho que o Metrô deveria recrutar funcionários para empurrar os passageiros para dentro dos vagões [como ocorre em Tóquio]". A sujeira nas ruas também impressionou a fotógrafa japonesa: "uma vez, em um dia de chuva, pensei que fosse morrer quando vi uma massa de lixo sendo trazida pela água na minha direção em uma ladeira da Liberdade". Na foto, Yumiko aparece no metrô de São Paulo.
Coxinha e inverno rigoroso
O jornalista americano Seth Kugel vem a São Paulo a trabalho ou a turismo quase todos os anos (e chegou a viver na cidade entre 2008 e 2010) . Ele é conhecido por ser o autor o canal "Amigo Gringo", em que dá dicas (com bom humor e em excelente português) para turistas brasileiros que pretendem visitar Nova York. Seth é fascinado por diversos aspectos da Pauliceia Desvairada, que, segundo ele, é capaz de oferecer "surpresas constantes" ao visitante.
"Comparada com outras cidades do Brasil, São Paulo tem uma sofisticação e diversidade incomparável", diz ele. "O que é um dia típico no Rio de Janeiro, para o visitante? Açaí com granola, praia, boteco, Lapa. Eu aceito, até adoro. Mas em São Paulo há diversidade infinita. Na cidade, tem pessoas de todos os Estados do Brasil, eventos artísticos e cozinha internacional impressionante (apesar dos tacos ainda horríveis ou caros demais)".
O jornalista também afirma que a capital paulista, apesar de ser "a cidade menos brasileira do Brasil", "mantém qualidades brasileiras que eu adoro". É um lugar com dez vezes mais sorrisos por hora do que em Nova York", elogia ele. "Os paulistanos sabem deixar o trabalho no escritório e não continuar falando de negócios no bar ou durante o fim de semana, algo importante para o turista de negócios. E ainda dá para comprar chinelos baratos e comer coxinhas e tomar ônibus sobrecarregados, como no resto do Brasil".
Seth, entretanto, não gosta de algumas características da cidade, como seu inverno e a falta se segurança. "Pela falta de calefação nos prédios, nem dá para escapar do frio como no meu apartamento quentinho de Nova York. E não importa o quão incrível é uma cidade. Não poder andar pelas ruas e desfrutá-la sem ter medo de ser assaltado atrapalha muito a experiência".
Forró e barulho
A engenheira química peruana Ursula Cardeña, de 36 anos, fez mestrado na USP entre 2007 e 2009. Ela conta que ficou encantada com a enorme variedade de opções de passeio oferecidos pela metrópole paulistana.
"São Paulo tem muitas opções culturais, trilhas, parques, museus, baladas, barzinhos e ótimas pizzarias. Sempre tem algum lugar novo aonde ir para se divertir", relata ela. "Eu adorava ir ao Canto da Ema [em Pinheiros] para dançar um forrozinho. Eu estava lá às quintas, sextas e sábados. Acho que até de domingo eu fui lá".
Outro componente de São Paulo que Ursula admira são os próprios paulistanos. "Todas as pessoas que eu conheci por aí sempre foram muito amáveis, atenciosas, alegres e prontas para ajudar em qualquer situação".
Por outro lado, ela acha que os paulistanos "falam alto demais e ao mesmo tempo que outras pessoas", o que a incomodava. "As mudanças doidas de clima que ocorrem no mesmo dia é outro aspecto da cidade que eu não gosto. Às vezes, nem sabia quais roupas deveria usar antes de sair de casa".
Ibirapuera e desigualdade
O jornalista chileno Manuel Pino Toro, 46 anos, tem um lugar preferido em São Paulo: o parque Ibirapuera. "É um oásis no meio desta cidade de cimento", diz ele. "Perfeito para fazer caminhadas, andar de bicicleta e curtir atividades culturais, o Ibirapuera não deve nada a lugares como o Central Park, em Nova York, ou o Parque del Retiro, em Madri. É uma maravilha".
A Avenida Paulista é outro cartão-postal que tem um lugar especial no coração do chileno. "É o lugar que melhor representa a cidade de São Paulo, onde é possível achar de tudo: escritórios, shoppings, universidades, restaurantes, bares e cinemas. E ali ao lado fica a rua Augusta, uma via boêmia extremamente interessante. Também destaco o caráter do paulistano: é um povo que sabe deixar seus problemas de lado para curtir a vida e rir de si mesmo. É algo que nós, chilenos, deveríamos aprender a fazer".
Manuel, porém, critica a desigualdade social que existe na capital paulista. "É um aspecto que se nota facilmente nas ruas da cidade. Há muitas pessoas marginalizadas e discriminadas por aí, seja por causa de sua classe social, de sua raça, de suas crenças ou por sua orientação sexual. É uma pena que isso ocorra em uma cidade que teria tudo para dar certo".
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