Você sabia que agentes armados viajam à paisana em aviões nos EUA?
Ao entrar em um avião nos Estados Unidos, olhe bem para os viajantes presentes: aquele homem circunspecto de camisa polo ou mesmo aquela mocinha descolada com roupa colorida podem ser agentes armados à paisana, prontos para neutralizar, a socos e tiros, qualquer passageiro que ameace a segurança do voo.
Conhecidos hoje como "air marshals", estes oficiais disfarçados viajam em aeronaves comerciais que decolam ou aterrissam nos EUA desde os anos 1960. Suas operações, porém, aumentaram exponencialmente após os ataques terroristas em 11 de setembro de 2001. No momento em que as Torres Gêmeas desabavam, havia menos de 50 deles em atividade.
"Os eventos trágicos daquele dia mostraram que precisávamos expandir a vigilância sobre nossos voos nacionais e internacionais", diz Thomas H. Kelly Jr., porta-voz da Transportation Security Administration (TSA), entidade que cuida da segurança dos sistemas de transportes dos Estados Unidos e é responsável pelos "air marshals".
A TSA não revela quantos agentes estão ativos atualmente, mas reportagens publicadas pela mídia americana estimam que eles sejam cerca de 3.500.
Bons de mira
Tal número faz com que as chances de ter um oficial armado ao seu lado durante uma viagem pela terra do Tio Sam não sejam grandes, visto que, diariamente, são realizados quase 30 mil voos comerciais nos Estados Unidos (e nem todos esses sentinelas aéreos estão em operação ao mesmo tempo).
Mas, se um deles estiver a bordo, pode ter certeza que estará de olho em você. De acordo com Denise Koblinsky, supervisora da TSA, os "air marshals" são instruídos a captar, a todo o momento, atitudes entre os passageiros que possam indicar uma possível ameaça. "Eles podem observar se uma pessoa ficou muito tempo fora de seu assento ou se alguém comeu ou não comeu sua refeição. É necessário analisar todas as nuances dentro de uma aeronave", diz ela.
O porta-voz Thomas H. Kelly Jr., por sua vez, afirma não estar autorizado a revelar quais tipos de armamento os agentes carregam a bordo. Mas, em vídeos divulgados pela TSA, eles treinam com armas que lembram a Sig Sauer P229, pistola compacta e fácil de ser escondida sob roupas civis.
Durante esse treinamento, realizado em réplicas de aviões comerciais, o grande desafio é saber usar a arma dentro de um ambiente apertado, cheio de gente e que pode ter sua estrutura perigosamente afetada caso tiros sejam disparados em seu interior. Ou seja: um "air marshal" precisa ser muito bom de mira.
Nas simulações, outros agentes, no papel de terroristas, tentam invadir a cabine do piloto ou fazer algum passageiro ou comissário de bordo refém. O "air marshal", então, deve neutralizar a ameaça com um combate corporal ou com sua arma de fogo.
Sua principal missão é evitar sequestros de aeronaves. Mas eles também podem intervir em distúrbios causados por passageiros violentos, como aquele cara que bebeu demais e está agredindo a aeromoça.
Sob pressão
Em reportagem publicada em agosto de 2015, a CNN afirmou que muitos "air marshals" se encontram extenuados e estressados por causa de sua rotina de trabalho, que alguns viajam sob o efeito de remédios e de álcool e que, desde 2002, pelo menos dez deles se suicidaram.
Segundo a Air Marshal Association, que defende melhores condições de trabalho para esses profissionais, as missões dos agentes podem envolver até quatro voos por dia, se estender por turnos de 16 horas diárias e gerar uma rotina que os impede de dormir adequadamente.
Um estudo médico sigiloso encomendado pela própria TSA, ao qual a CNN teve acesso, confirma esse panorama: após entrevistar diversos agentes, tal levantamento concluiu que, de tão exaustos, muitos deles teriam dificuldade em "pensar e agir rapidamente" na hora de enfrentar uma ameaça em um voo.
A TSA, porém, divulgou posteriormente um comunicado dizendo que "oferece todos os recursos para que eles realizem suas missões, incluindo assistência médica e psicológica. A saúde e o bem-estar de cada homem e mulher de nossa equipe são alta prioridade para todos nós".
Apesar de sua rotina exigente, não há registros de que os agentes tenham enfrentado uma ameaça terrorista no ar nos últimos anos. Isso faz com que, atualmente, membros do Congresso americano queiram acabar com os "air marshals", cujo programa consome 820 milhões de dólares por ano.
Em janeiro de 2015, o então senador Tom Coburn declarou que "não está claro se os agentes são realmente necessários para reduzir os riscos à aviação", dizendo que o trabalho de segurança realizado em terra, antes do embarque, já dá conta do recado.
A TSA, por sua vez, afirma em um de seus vídeos institucionais que a "aviação comercial ainda é alvo prioritário de um inimigo real e persistente, capaz de desenhar, produzir e esconder bombas". Uma imagem de guerrilheiros islâmicos é usada como pano de fundo para a frase.
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