Topo

Artesão resgata histórias do Cariri com esculturas que viajam o mundo

Din entalha as peças em madeira: ele já teve obras em programa da Globo e expôs no Brasil e exterior - Reprodução Instagram
Din entalha as peças em madeira: ele já teve obras em programa da Globo e expôs no Brasil e exterior
Imagem: Reprodução Instagram

Carol Scolforo

Colaboração para Nossa

05/07/2022 04h00

QUEM É

QUEM É

Din Gonzaga Alves

Escultor de madeira em Juazeiro do Norte, CE, e aprendeu com o ofício a retratar a cultura nordestina, cenas do cotidiano e festejos.

Aos 12 anos, Din Alves já lixava peças de madeira para os outros. Cresceu ouvindo as histórias que fazem parte da cultura do Cariri e via, encantado, passarem os penitentes na Semana Santa, os paus de arara de setembro a fevereiro, e gente arrumada para as quermesses em junho e julho. Um calendário de memórias alimentava sua mente ano após ano.

Até que em 2000, em meio à efervescência de artistas de seu bairro, ele se arriscou a entalhar a madeira dando formato a essas lembranças. Graças a isso vemos materializados os penitentes, o reisado de máscaras de Potengi, o pau da bandeira e outras histórias que parecem estar se acabando no Nordeste.

"O meu trabalho busca esse resgate para que ninguém esqueça dessa cultura que é tão forte para nós", conta Din.

Naquele começo de carreira, no entanto, ninguém queria comprar suas peças. Nossa Senhora expressiva, Luiz Gonzaga — seu carro-chefe — e muitos detalhes ficavam na estante, sem reconhecimento.

Quinze anos depois, quando elas foram parar num programa de TV e numa novela global, foi um estouro. Vieram compradores e colecionadores — seu público mais fiel — pra nunca mais empoeirar escultura nenhuma no ateliê.

Din e uma de suas esculturas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Esculturas de santos também fazem parte dos temas do artista
Imagem: Arquivo pessoal

"Já tive exposição em vários museus do Brasil e no Palácio do Planalto", diz ele, quase no fim da entrevista.

Para ele, afinal, o que importa mesmo é trabalhar, e não ostentar feitos assim. "Em Juazeiro a tradição de escultores passa de geração para geração. A escultura mudou minha vida, não faltam encomendas e vivo só disso", conta, enquanto arrumava o carro para sair para uma feira.

Sanfoneiro, Lampião e Padre Cícero: personagens homenageados - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Sanfoneiro, Lampião e Padre Cícero: personagens homenageados
Imagem: Arquivo pessoal

O sonho mesmo é chegar onde suas peças já estão, a Europa. "Tenho escultura em um museu na Áustria e em Portugal, numa exposição que vai inaugurar agora. Um dia vou eu, em pessoa", ri.

Inspirações

"Minha infância"

Tudo o que crio vem do meu cotidiano quando era criança e até hoje. Busco trazer as brincadeiras antigas, um menino puxando o outro numa caixa, coisas simples. As memórias dessa época de festejos também. É uma época em que trabalho muito, aliás."

"Não tive estudo, mas estudo muito"

"Fiz só até a quarta série. Mas estudo um bocado de referências para entender as histórias dos penitentes e dos mascarados. Só estudando a pessoa faz a peça adequada, do jeito que tem que ser."