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Frutas e elementos do mar inspiram cerâmica única de "filha de Pernambuco"

Esculturas com textura de jaca - Arquivo Pessoal
Esculturas com textura de jaca Imagem: Arquivo Pessoal

Carol Scolforo

Colaboração para Nossa

08/03/2022 04h00

Rosalva Siqueira

Rosalva Siqueira

Quem é

Rosalva Maria Campos Siqueira é artista visual formada em Recife, PE, em 1986, e há quase 20 anos ceramista à frente de seu ateliê homônimo, em São Paulo

Rosalva Siqueira viajou o mundo todo. Mas nas raízes de praia e campo vividas no Recife, Pernambuco, é que está a linguagem de seu trabalho. Logo, as frutas, as cracas do mar, corais e outros seres vivos estão sempre nas mãos da artista visual que demorou a se encontrar nas Artes.

"Me formei em 1986 e logo saí para acompanhar a carreira do meu marido e construir nossa família. Quando meus filhos estavam grandinhos, morávamos nos Estados Unidos e decidi estudar computação gráfica. Ali tive certeza de que não queria mais seguir essa carreira", conta.

Rosalva percebeu que a tecnologia era uma ferramenta importante — mas o trabalho manual falava mais alto em sua vida. "Eu me entreguei às artes plásticas. Já tinha feito gravura, tinha pintado e desenhado, mas não via isso como profissão", ri.

Depois de fazer cursos livres de pintura e escultura, ela entendeu que a terceira dimensão era o que lhe fazia sentido. "Na modelagem do corpo humano, no ateliê de Israel Kislansky, encontrei o barro. Era um meio fascinante e me apaixonei", diz.

Esculturas com textura de graviola - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Esculturas com textura de graviola
Imagem: Arquivo Pessoal

Há 18 anos, quando ela já tinha 40, essa história começou, prova de que não há idade certa para nenhum início. Afinal, vive um casamento feliz com o barro, como costuma dizer. "Nosso diálogo é de respeito e entendimento", diz, à frente do ateliê que leva seu nome (@rosalva.arte).

Vejo a cerâmica como minha mais verdadeira expressão artística. Acredito que consigo expressar o que está dentro de mim, meu lado 'filha da terra' de Pernambuco."

Esculturas e vasos com textura de jaca - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Esculturas e vasos com textura de jaca
Imagem: Arquivo Pessoal

Essência

A narrativa de Rosalva é sobre seu povo e sua história. "Meu trabalho é uma forma de me sentir mais perto da minha terra", diz. Um orgulho que ganha eco sob grandes curadorias de arte popular brasileira, como Dpot, onde entrou em 2018, ou a Feira na Rosenbaum, que acaba de abrir loja fixa em São Paulo e expõe sua coleção em espaço nobre.

Nas prateleiras de ambas, jacas, cracas, arrecifes e corais ganham sentido e valor, em esculturas ou peças utilitárias como vasos e bowls — estes, um carro-chefe. "Minhas andanças pelo mundo ajudaram na organização do trabalho, no profissionalismo, e a manter o respeito ao meu desenho", conta.

Vaso com textura das cracas do mar - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Vaso com textura das cracas do mar
Imagem: Arquivo Pessoal

Poesia pura, a temática de Rosalva evoca texturas — de uma fruta, ou de seres que ficam longe de quem está na cidade. Uma experiência tátil cada vez mais necessária e prazerosa, que supera as texturas lisas de telas dos celulares. "Quero gravar essa boa lembrança para as pessoas", conta.

@s que me inspiram

@kaorikurihara.ceramique

“Essa ceramista japonesa dá sequência, reprodução e movimento à cerâmica. Como eu, ela pensa na sequência de Fibonacci. A fórmula, o caracol, as ogivas e a jaca com sua textura apontam para isso.”

@kristinariska_ceramics

“O trabalho dessa ceramista finlandesa com linha, movimento no desenho, fluidez nas formas orgânicas e formas bojudas me inspira. Gosto muito do orgânico em si. Ela faz um trabalho muito bonito e com uma linguagem muito própria.”