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"Casa da vó" ou bangalô urbano? A disputa pelo nome oficial está aberta

Casa com arquitetura no Estilo Missões em São Paulo - Reprodução/Twitter/@frutyuser
Casa com arquitetura no Estilo Missões em São Paulo Imagem: Reprodução/Twitter/@frutyuser

Gustavo Frank

De Nossa

24/05/2021 04h00

Os finais de semana na casa dos avós ficam reservados em um lugar especial da nossa memória. Seja pelas comidas ou pelas atividades praticadas em família, quase todo mundo tem uma história a se contar de quando ficava na "casa da vó". E muitas delas têm como cenário um tipo de residência em comum: muros baixos e janelas e portas com vista externa para um pequeno jardim ou para a calçada.

Essas casas viraram assunto no Twitter depois que uma usuária questionou como esse tipo de construção é chamada pelos arquitetos. Embora tenha recebido diversas respostas de outras pessoas na rede social, ela cravou, com senso de humor: "Obrigada, vou continuar chamando de casa de vó."

Mais presentes nas cidades de interior, mesmo que ainda existam nas grandes capitais em meio aos grandes prédios e arranha-céus que tomam conta do horizonte das metrópoles, essa arquitetura é chamada de Estilo Missões.

Conhecida por muitos como estilo mexicano, a projeção desses lares teve origem nos anos 1930. Na época havia quem o considerasse brega e exagerado.

"Ele foi muito usado nas casas de São Paulo, especialmente nas construções de classe média, e em vários lugares do Brasil nessa década também", conta a arquiteta Pat Cillo para Nossa. "Podemos exemplificar alguns modelos dessas construções, como a sede do Botafogo Futebol Clube, no Rio de Janeiro, e o Grande Hotel de Araxá, em Araxá".

O estilo teve origem na cultura hispano-americana, surgindo nos Estados no final do século 19. A arquitetura das missões franciscanas da Califórnia foi um dos principais modelos".

Segundo a profissional, até hoje muitos têm dificuldades para definir, com exatidão, a sua origem, pois não está em livros e não há muitas informações a respeito; "Essa arquitetura está entre a art deco e o moderno", complementa.

"Bangalô urbano"

A arquiteta Karla Di Giacomo se aprofundou no estudo dessas casas e na sua construção de identidade - Reprodução - Reprodução
A arquiteta Karla Di Giacomo se aprofundou no estudo dessas casas e na sua construção de identidade
Imagem: Reprodução

No artigo "Um habitar 'moderno' para as cidades interioranas do Brasil: o bangalô", a arquiteta Karla Di Giacomo investigou mais a fundo essas casas, as quais trata como "bangalôs urbanos".

Em sua pesquisa, ela afirma que o bangalô, originário da Índia, viajou com seus colonizadores britânicos a diversas regiões do mundo. Essa tipologia atraente se caracterizava por ser despojada, aconchegante e de fácil execução e demonstrava "modernidade" no habitar.

Deste modo, alcançou o gosto das classes alta e média. Transitou da Índia à Inglaterra, chegou aos Estados Unidos e daí ao Brasil, através de revistas da época ou viagens da burguesia ao exterior. Adaptou-se a cada região, podendo ser atribuída a ela influências locais singulares, que não a descaracterizavam, mas agregavam valores e particularidades.

"O bangalô agradou a capital paulistana antes dos meados do século XX, mas não só, outros estados brasileiros também apresentaram essa tipologia. Contudo, o enfoque deste trabalho é no interior do estado de São Paulo, pois ela é significativa, principalmente em cidades onde a ferrovia cumpria um papel importante", afirma Karla na tese.