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Dúvidas sobre realização dos Jogos de Tóquio persistem mais do que nunca

26/01/2021 22h10

Tóquio, 27 Jan 2021 (AFP) - O Japão negou veementemente na semana passada as informações segundo as quais estaria estudando um cancelamento das Olimpíadas de Tóquio, já adiadas no ano passado devido à pandemia. Mas a seis meses da abertura prevista, as dúvidas persistem.

No momento em que o país, parcialmente em estado de emergência, enfrenta uma violenta terceira onda de infecções por covid-19, essas são as principais questões que se colocam em relação a um eventual cancelamento.

O que dizem os responsáveis?O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, repetiu na sexta-feira que está "determinado" a organizar os Jogos este ano, enquanto um porta-voz do governo disse que "nada é verdadeiro" nas reportagens do jornal britânico The Times, segundo as quais o Japão já teria secretamente desistido da realização do evento.

O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, havia afirmado na véspera que "não tinha motivos para acreditar que as Olimpíadas de Tóquio não serão abertas em 23 de julho", admitindo, entretanto, que um número limitado de espectadores, inclusive a não presença de público, eram opções possíveis.

A decisão sobre a eventual presença do público, inclusive de espectadores vindos do exterior, deve ser tomada nos próximos meses.

O que pensam os atletas?A pressão dos atletas foi vista como o gatilho para o adiamento em março de 2020, pouco antes da histórica decisão do COI de adiar os Jogos por um ano.

Desta vez, vários comitês olímpicos nacionais anunciaram que se preparam para enviar seus atletas ao Japão, conforme planejado, e a campeã olímpica grega de salto com vara Katerina Stefanidi, uma das líderes do movimento esportivo que defendeu o adiamento dos Jogos no ano passado, é favorável à sua manutenção em 2021, até com portões fechados, se for necessário.

A ginasta americana Simone Biles também espera que os Jogos ocorram, "mesmo que você tenha que estar em uma bolha".

No entanto, a ginasta japonesa Kohei Uchimura acredita que isso só faria sentido se a opinião pública japonesa, que atualmente se opõe à manutenção dos Jogos este ano, mudar de ideia.

Quanto custaria o cancelamento?Os organizadores reavaliaram o orçamento dos Jogos em dezembro para 13 bilhões de euros (15,8 bilhões de dólares), 2,3 bilhões de euros (2,795 milhões de dólares) a mais do que a estimativa anterior, devido a custos de postergação e medidas sanitárias.

A soma total pode ser maior, tornando Tóquio-2020 os Jogos Olímpicos de Verão mais caros de todos os tempos.

No entanto, seu cancelamento não afetaria realmente a terceira maior economia do mundo, uma vez que as infra-estruturas necessárias já foram construídas e "o custo de organização dos Jogos é provavelmente inferior a 0,1% do PIB japonês", disse à AFP Tom Learmouth, da Capital Economics empresa de pesquisa econômica.

Alguns setores, como turismo e hotelaria, sofreriam prejuízos em caso de cancelamento, embora o efeito positivo dos Jogos sobre o consumo não seja evidente, e menos em um período de pandemia.

Qual é a margem de manobra do governo?Yoshihide Suga, primeiro-ministro desde setembro passado, viu sua popularidade despencar devido a sua atuação muito lenta e confusa diante da pandemia.

No momento em que a grande maioria dos japoneses se opõe à realização dos Jogos neste ano, o cancelamento seria o mal menor politicamente, afirma Tobias Harris, analista da Teneo Intelligence.

"O risco político de organizar os Jogos e provocar assim um agravamento da pandemia me parece mais pesado do que admitir que sua realização seria perigosa demais e trabalhar com o COI em uma solução mais adequada", avalia Harris.

Quais as consequências para o esporte?O COI possui reservas financeiras consideráveis que lhe permitiram enfrentar o adiamento do ano passado de Tóquio-2020, mas especialistas avaliam que um cancelamento teria consequências desastrosas.

Muitas federações esportivas nacionais e internacionais estariam em perigo financeiro, pois algumas dependem fortemente do dinheiro que recebem por meio do COI.

Alguns atletas perderiam para sempre suas esperanças de participar dos Jogos, e o cancelamento também poderia desgastar a imagem do movimento olímpico, já em declínio com a queda do número de cidades candidatas antes mesmo da pandemia.

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