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COI lança operação 'mãos limpas' a 3 meses dos Jogos

18/05/2016 15h31

Lausana, Suíça, 18 Mai 2016 (AFP) - "Mãos limpas para o Rio": a três meses dos Jogos Olímpicos, o presidente do COI, Thomas Bach, está determinado a impedir que atletas dopados compitam na Cidade Maravilhosa, em meio a acusações de que as Olimpíadas de Inverno de Sochi-2014 foram manchadas por "um grau de criminalidade sem precedentes".

Para lutar contra o mal que coloca em risco a credibilidade do esporte, Bach tem uma nova arma: a "reanálise" de amostras coletadas em edições anteriores do evento.

Na terça-feira, o COI anunciou que novas análises de amostras de Pequim-2008 resultaram em 31 casos positivos de 12 países e seis modalidades.

Em artigo publicado em vários jornais do mundo, Bach avisou que "Dezenas de atletas flagrados por doping provavelmente serão excluídos dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro" por conta dessas reanálises.

O COI também anunciou que foram efetuadas 250 novas análises de amostras colhidas nos Jogos de Londres-2012. "Os resultados provisórios serão conhecidos dentro de uma semana", explicou Richard Budgett, diretor médico do COI, em entrevista coletiva por telefone.

Até agora, nenhum nome foi citado. Apenas os próprios atletas incriminados ou suas federações nacionais podem tornar públicas as identidades dos flagrados.

"Alguns deles já participaram dos Jogos de Pequim e Londres e podem conseguir o índice para o Rio", avisou Bach na mesma entrevista coletiva.

O presidente do COI forneceu detalhes sobre o processo que levou a entidade a pedir as novas análises. "Começamos em agosto de 2015, com a seleção dos atletas e dos esportes que seriam alvo das reanálises, que começaram em março", explicou o dirigente.

Decisão sobre Rússia sai em 17 de junhoNas próximas semanas, espera-se que vários atletas desistem de ir ao Rio, oficialmente por lesão o queda de rendimento, para não ter que admitir publicamente o doping.

A ideia do COI é aplicar até o fim a "política de tolerância zero". A entidade ficou acuada com as suspeitas sobre os Jogos de Inverno de Sochi-2014.

A Rússia é acusada de ter manipulado os resultados dos controles ao enviar falsas amostras para a Associação Mundial Antidoping (Wada), com envolvimento dos serviços secretos do país, de acordo com confissões do próprio ex-diretor do laboratório de Moscou.

"Se a investigação da Wada confirmar a veracidade das alegações, isso revelaria uma nova dimensão chocante do doping, com um grau de criminalidade sem precedentes", insistiu Bach no artigo.

A Rússia também está no centro das atenções por causa do banimento de todas as competições internacionais de atletismo por conta de um esquema de "doping organizado" revelado em um relatório de uma comissão independente da Wada.

A Federação Internacional de Atletismo (IAAF) decidirá no dia 17 de junho se competidores do país poderão participar das provas da modalidade no Rio.

A ausência de estrelas como a lenda do salto com vara Yelena Isinbayeva seria um grande baque para um esporte considerado entre os mais nobres das Olimpíadas.

"A investigação da Wada (sobre Sochi-2014) também influenciará profundamente a condição de participação dos atletas russos na Rio-2016. Caso haja evidência de uma sistema organizado contaminando outros esportes, as federações internacionais e o COI se verão obrigados a fazer a difícil escolha entre responsabilização coletiva e justiça individual", enfatizou Bach.

Presunção de inocência em riscoA ideia de "responsabilização coletiva" é uma verdadeira revolução em termos de luta contra o doping, podendo significar o fim da "presunção de inocência" dos atletas.

"Esta decisão teria que considerar, caso a presunção de inocência dos atletas continue aplicável nas federações 'contaminadas', se o ônus da prova pode ser revogado", explicou o dirigente, indagando os atletas a "demostrar" que são limpos.

O ministério dos Esportes da Rússia não demorou a expressar sua desaprovação, num comunicado divulgado nesta quarta-feira. "A responsabilidade precisa ser personalizada. Os atletas limpos que passaram anos de suas vidas treinando, respeitando todas as regras, não podem ficar fora das competições".

Campeã olímpica do salto em distância em Atenas-2004, a ex-atleta russa Tatiana Lebedeva, que virou senadora, também fez duras críticas à nova política do COI, misturando esporte e diplomacia.

"Gostaria de dizer que isso não tem nada a ver com política, mas não é o caso. Trata-se da ação de um lobby anglo-saxão, que percebe que as sanções econômicas não deram os resultados esperados e começam a nos atacar onde somos mais fortes", declarou Lebedeva à agência russa Ria Novosti.

Thomas Bach deixou claro nesta quarta-feira que "nunca esteve em contato com o Kremlin" a respeito do assunto.

A operação 'mãos limpas' promete ser longa e dolorosa, mas o presidente do COI mantém a confiança de que "os Jogos do Rio serão um sucesso".