Pela 1ª vez, Brasil poderá ter mais mulheres que homens em Olimpíada

A delegação brasileira nos Jogos Olímpicos de Paris poderá ter, pela primeira vez em sua história, mais mulheres competindo que homens.

Faltando pouco mais de cem dias para o início do evento, o COB soma 52 homens classificados e 103 mulheres. As eliminações do futebol masculino e do handebol masculino pesaram nesta conta, ainda que haja a possibilidade de a volta do time nacional de basquete.

Os números finais serão conhecidos apenas às vésperas do torneio, em julho. Em várias modalidades, os períodos de classificação ainda não foram concluídos. Mas, pelos cálculos do COB, existe a chance real de que as mulheres superem os homens.

O COB estipulou que a premiação entre homens e mulheres será rigorosamente a mesma. Para Paulo Wanderley, presidente do COB, a forte presença de mulheres é "importante". "Isso é uma pauta atualizada", disse.

A entidade, porém, não descarta que a equipe nacional em Paris seja menor que os 317 atletas que foram para Tóquio em 2021. Uma das previsões é de que a delegação some quase 300 pessoas.

Walderley, porém, rejeita que tenha faltado investimentos. "O COB ofereceu tudo o que foi solicitado", disse.

O número, segundo ele, pode ser afetado por "algumas fatalidades", como as eliminações do futebol e handebol masculinos, que tiraram cerca de 30 atletas.

Barão era contra mulheres em Jogos

Em 2012, pela primeira vez e depois de mais de um século de Olimpíada, finalmente o evento caminhou em direção a uma igualdade na participação de homens e mulheres no evento. Mas o fenômeno, uma das bandeiras do COI, é uma das raras traições cometidas em relação ao ideal do pai do movimento olímpico moderno, o Barão Pierre de Coubertin.

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O UOL teve acesso aos arquivos relativos ao fundador do movimento olímpico moderno. Em seus documentos, anotações e entrevistas, Courbertin traça o que seria, pelo menos em sua opinião, a base do movimento olímpico. Mas, de forma escancarada, Coubertin não deixava espaço para dúvidas: não haveria motivo para incluir as mulheres nos Jogos, salve para aplaudir na entrega dos prêmios.

Para o pai das Olimpíadas da Era Moderna, o movimento que ele criou deveria focar exclusivamente em promover os Jogos e apostar na"única exaltação do atletismo masculino, baseado no internacionalismo, com base na justiça e no cenário artístico, com os aplausos das mulheres como único prêmio".

Coubertin chegou a refletir sobre a realização de um evento separado para mulheres. Mas deixou claro que seriam "semi-Olimpiadas" e que não teriam nem apelo nem interesse. "Não hesitaria em dizer que não seria apropriado", disse, em 1912. E ele vai além, indicando que eventos femininos "não são cenas que multidões gostariam de ver em Jogos".

Ao longo de décadas, o COI vem tentando superar essa posição, não apenas para se adaptar aos tempos, mas para transformar os jogos em realmente um evento para todos. Jacques Rogge, ex-presidente da entidade, colocou esse ponto como uma de suas metas. Em 2012, todas as 204 federações nacionais levaram mulheres em suas comitivas, algo inédito na história das Olimpíadas. 46% dos atletas - 4,8 mil - foram mulheres.

Em Atenas, em 1896, o evento era exclusivamente masculino. Em Roma, em 1960, apenas um a cada dez atletas era mulher. O evento na capital italiana foi, por exemplo, a primeira participação real de mulheres de diversos países Ocidentais entre eles a Espanha. Mesmo em Sidnei, na virada do século, as mulheres eram apenas um terço dos participantes.

Para promover a correção, o COI estabeleceu duas estratégias: a primeira, de conseguir convencer todas as delegações a levar mulheres aos eventos. A segunda parcela da estratégia era a de garantir que todos os esportes tivessem modalidades femininas. Faltava o boxe, que acabou entrando na agenda de Londres.

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O resultado foi transformação na composição das equipes. Em 2012, os Estados Unidos tinham 268 atletas em modalidades femininas, contra 261 homens.

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