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Justiça obriga quarentena de tenista Thiago Wild; multa é de R$ 30 mil

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Imagem: Fotojump

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Curitiba

30/03/2020 12h32

O Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná determinou que o tenista Thiago Wild, número 2 do Brasil e 114 do mundo, e a família dele permaneçam em quarentena sob pena de R$ 30 mil em caso de novo descumprimento. O atleta está com covid-19 e saiu do isolamento enquanto aguardava o exame na casa da família, em Marechal Cândido Rondon, a 581 quilômetros de Curitiba.

Segundo a Polícia Civil, após Wild publicar um vídeo em 24 de março informando a infecção pelo novo coronavírus, moradores do município procuraram a delegacia para relatar que o atleta teria se relacionado com demais pessoas na cidade durante corridas na rua, em uma quadra de tênis e no cartório. O tenista confirma que esteve nos locais, mas nega contatos pessoais.

O Ministério Público (MP) do Paraná foi acionado e entrou na Justiça pedindo que medidas cautelares fossem adotadas para que o atleta não quebrasse novamente a quarentena, agora diagnosticado com covid-19.

O juiz substituto Wesley Porfírio Borel, entendeu que "ao invés de se isolar, como amplamente divulgado pelas autoridades de saúde, preferiu tomar outra decisão: viajar, agora, para a casa de sua família, em Marechal Cândido Rondon". O magistrado ainda considerou que Wild sabia dos riscos de passar o vírus para demais pessoas, pois teria assinado um termo de responsabilidade de isolamento ao receber a suspeita de covid-19.

"Certamente não foi a conduta adequada, ainda mais para um rapaz jovem e esportista, acostumado a tomar todos os cuidados com a saúde, notadamente, por ser um atleta profissional", comentou o juiz, em decisão emitida na noite de sexta-feira (27).

A decisão de quarentena obrigatória sob pena de R$ 30 mil ainda atinge os demais familiares de Wild no interior do Paraná: Angelica Daus, Claudio Ricardo Wild, Dieter Leonhard Seyboth, Gisela Christine Seyboth Wild, Luana Seyboth Wild e Vera Lucia Seyboth. Na liminar, não há informações sobre o grau de parentesco de cada um com o atleta.

Procurada pelo UOL na manhã de hoje, a assessoria de imprensa de Wild informou que o atleta, os parentes citados e o advogado que defende a família não irão comentar a decisão da Justiça.

Para o juiz Wesley Borel, a determinação abrange os demais parentes do tenista em razão de que "em um primeiro momento, Thiago e sua família indicaram não respeitar os limites impostos pelas autoridades de saúde e não se preocuparam com a saúde não só dos próprios parentes próximos, alguns em situação de risco, mas com a própria população da cidade, que tem envidado esforços para a contenção da doença".

Marechal Cândido Rondon registra um paciente com covid-19, confirmado ontem pelo governo do Paraná. Ao todo, o estado tem 152 casos. O registro do município não é o de Thiago Wild, pois só entra na contagem se o infectado for residente do lugar, segundo o governo paranaense. Este não é o caso do atleta, que mora no Rio de Janeiro.

Investigação

O delegado Rodrigo Baptista Santos, que investiga Thiago Wild, informou hoje ao UOL que a decisão judicial não muda o curso do inquérito. O atleta deverá ser ouvido depois de encerrar a quarentena, período a ser determinado por órgãos locais de saúde.

Além de depoimentos, a investigação ainda deverá requisitar imagens de câmeras de segurança que eventualmente possam ter gravado o tenista. O inquérito tem o prazo de 30 dias.

Número 2 do esporte no Brasil e 114 no mundo, Thiago Wild venceu recentemente o ATP de Santiago, no Chile, se tornando o mais jovem brasileiro a conquistar um torneio da categoria aos 20 anos.

Após conquistar o ATP de Santiago, em 1º de março, Thiago viajou para Austrália, onde disputou a Copa Davis, representando o Brasil. No retorno, passou por São Paulo e Rio de Janeiro antes de seguir para o Paraná.

A Polícia Civil informou que o tenista é investigado com base no artigo 268 do Código Penal, que o crime de infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa. A pena é de detenção de um mês a um ano, e multa. Thiago Wild não tem antecedentes criminais.

Tenista se defendeu de acusações

Ao ser questionado sobre a investigação, em contato com o UOL em 27 de março, o atleta enviou nota em que alega ser "alvo de mentiras".

"Gerou proporções muito maiores de pessoas desocupadas, que sequer tinham qualquer conhecimento da realidade, que divulgaram inúmeros áudios no WhatsApp e em redes sociais", explicou.

Ele alegou que vem adotando as precauções dadas pelas autoridades públicas no cuidado com a saúde. "Pretendi demonstrar que, o meu dia a dia, é como de qualquer outra pessoa em uma situação em quarentena, tomando os devidos cuidados e não expondo ninguém ao risco, diferentemente do que entenderam", apontou, citando um vídeo que foi divulgado nas redes sociais.

Em vídeo, atleta orientou quarentena

No vídeo publicado em suas redes sociais em 24 de março, Thiago confirmou a testagem positiva para covid-19 e alertou para a população ficar em casa. Ele ainda relatou que teve febre e gripe antes do diagnóstico.

Stay safe everyone

Uma publicação compartilhada por Thiago Seyboth Wild (@thiagoswild) em

"Acabei contraindo covid-19. Meu resultado saiu hoje. Há dez dias, tive febre e fiquei um pouco gripado. Daqui a pouco o período de incubação da doença vai passar. Vou ficar bem. Já venho me sentindo bem nos últimos dias, mas estou passando aqui para alertar todo mundo que tem que ficar em casa e tomar cuidado com isso porque é uma doença séria", disse.