O futebol parou de fazer sentido duas vezes para mim. Soube da morte do meu filho depois de uma partida contra o Atlético Goianiense. Era o sétimo mês de gestação e o coração parou de bater. Era a segunda vez que algo assim acontecia e não consegui não associar o futebol às perdas. A cada fim de jogo, era uma notícia trágica. Eu achava que era um sinal de que eu deveria parar de jogar futebol. Não sentia alegria nem vontade. Não mais.
Fiquei dias abalado, acho que até um pouco deprimido. Senti medo de continuar jogando e continuar perdendo mais pessoas importantes. Enquanto isso, passava meus dias em São Paulo, longe da família. Cogitei largar tudo e voltar para Minas Gerais. Arranjar um emprego e ficar perto dos meus avós.
Só que meu avô estava muito feliz com a minha trajetória no esporte. Ele é um apaixonado por futebol. O sonho dele era que algum dos filhos ou qualquer um dos netos se tornasse jogador profissional. Me doía pensar em destruir essa realização.
Comecei a refletir e a entender que o problema não era o futebol. Se fosse, seriam perdas pessoais, não familiares. Sei lá, talvez machucasse o joelho. Se não fosse para ficar no futebol, eu não teria opção, mas eu tenho. O futebol não foi a causa disso. A causa é a vida. Vida é assim, infelizmente.