Um passo atrás

Derrota na final da Copa América quebra hegemonia de 2 anos no continente. E quando vêm os europeus?

Danilo Lavieri e Gabriel Carneiro Do UOL, no Rio de Janeiro Thiago Ribeiro/AGIF

Pela primeira vez desde a derrota para a Bélgica em 2018, na Copa do Mundo, o Brasil perdeu um jogo oficial. De lá para cá, a equipe de Tite ganhou praticamente tudo o que disputou entre Eliminatórias e a própria Copa América de 2019. O revés diante da Argentina, por 1 a 0, põe fim à sensação de que não havia nenhum rival páreo na América.

Os "hermanos" já haviam mostrado em dois jogos amistosos que poderiam incomodar, mas, na hora que valia, sempre eram derrotados. Tinha sido assim nas Eliminatórias e também na semifinal da Copa América passada no Mineirão, quando eles incomodaram bastante o Brasil e deixaram Belo Horizonte reclamando da arbitragem. Em pleno Maracanã, mudaram essa história, para encerrar um jejum de 28 anos sem conquistas. O tropeço brasileiro rendeu lágrimas a Neymar ainda no gramado.

A perda do título significa que a seleção brasileira perdeu força em relação ao que tinha na reconstrução do pós-Copa? A princípio, Tite não balança no cargo, até pela crise política da CBF e também por estar em situação muito confortável nas Eliminatórias, mas a pressão só vai aumentar.

Thiago Ribeiro/Thiago Ribeiro/AGIF
Buda Mendes/Getty Images

O que vem aí

Daqui até a Copa do Mundo, a seleção Tite só vai enfrentar seleções de segundo ou terceiro escalão. A Liga das Nações na Europa praticamente inviabiliza encontros que possam fazer o Brasil ser testado contra times de elite. O que cria um problema de difícil resolução.

Ao encontrar Peru, Venezuela, Bolívia e Equador nas Eliminatórias, o técnico vai ouvir que não tem nada mais do que a obrigação de vencer - e dando show. Qualquer triunfo por placar apertado ou sem muita inspiração vai resultar em críticas, ainda mais após perder uma final em casa contra a Argentina.

A tendência é que a seleção chegue ao Mundial do Qatar em 2022 bastante cobrada por resultados e só consiga convencer boa parte da torcida nos amistosos pré-Copa contra europeus. Por ora, essa é a única brecha no calendário deles. Ainda assim, é difícil imaginar que as principais seleções não estejam comprometidas. E aí a tendência é a busca por amistosos alternativos - em 2018, rumo à Rússia, os últimos testes foram contra Croácia - que terminou vice-campeã mundial, diga-se - e Áustria.

De onde vêm os adversários do Brasil?

  • América do Sul

    São 25 partidas, contando a Argentina na final. Quase 70% do ciclo da Copa.

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  • África

    Camarões, Senegal e Nigéria já foram adversários. Só venceu o primeiro.

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  • Ásia

    Arábia Saudita, Qatar e Coreia do Sul foram enfrentadas e vencidas desde 2018.

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  • América Central

    El Salvador, Panamá e Honduras estiveram no caminho. Foram duas goleadas.

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  • América do Norte

    Os Estados Unidos foram o primeiro adversário do ciclo, vitória em 2018.

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  • Europa

    Só a República Tcheca fez parte do rol de adversários da seleção desde a Copa.

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Vale tudo por Neymar?

A tônica tática da Copa América foi achar o melhor jeito para Neymar jogar. Atuando cada vez mais como armador conforme fica mais velho, o jogador encontrou nessa janela de jogos da seleção um esquema que lhe deu o máximo de liberdade na hora de criar e menos responsabilidade defensiva em relação aos colegas.

A ideia é que ele não jogue só pelas pontas, mas na intermediária e até como falso 9, quando joga com Roberto Firmino, por exemplo. Nesta ocasião, ele troca de lugar com o atacante do Liverpool dependendo da situação em campo e recompõe no máximo até o meio-campo quando o time está sem a bola.

O que pareceu dar mais certo, no entanto, foi a tabela com Lucas Paquetá. O meio-campista do Lyon está entre os pontos positivos da campanha, apesar da perda do título, e conseguiu fazer Neymar brilhar mais quando esteve em campo.

O Neymar me disse: 'Quando estou bem fisicamente e de cabeça, as coisas acontecem'. Precisamos proporcionar ao melhor jogador as melhores condições."

Tite, Técnico da seleção sobre montar esquema para ajudar Neymar

Taticamente, é a mais organizada (que já jogou). Pelo sistema do Tite, é uma equipe que defende muito bem, temos jogadores na defesa que são craques e isso facilita muito."

Neymar

Lucas Figueiredo/CBF

Nem tudo deu errado

Paquetá é, sem dúvida, o jogador que mais se destacou na hora aguda da competição. No mata-mata, ele havia sido o destaque contra o Chile, nas quartas de final, e contra o Peru, na semifinal. Atuando como segundo ou terceiro homem de meio de campo, a revelação flamenguista tabelou com Neymar para fazer os dois gols da vitória que levaram o time até a decisão.

Contra o Peru, uma tabela com direito a toques de calcanhar no meio-campo circulou as redes sociais fazendo o torcedor ter uma leve esperança que o "jogo bonito" estaria de volta. Na hora de comemorar os gols, as dancinhas e irreverência que marcam o futebol brasileiro também foram destaques pelo mundo.

Além dele, é possível ver alguns pontos positivos em atletas em determinadas situações, mas nada que faça o torcedor consiga ver o hexa tão de perto.

Eles foram aprovados

  • Casemiro

    O volante cresceu de produção dentro de campo no mata-mata e, fora dele, continua cada vez mais influente entre os atletas. Deu ritmo de jogo e mostrou que ainda tem muito futebol para apresentar

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  • Éder Militão

    Extremamente elogiado por Tite, só não jogou porque é muito difícil desbancar Marquinhos e Thiago Silva. Mas é fato que o atleta do Real Madrid deu passo importantíssimo rumo ao Mundial.

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  • Danilo

    Na ausência de Daniel Alves, o jogador foi promovido a titular absoluto e correspondeu. Mostrou polivalência ao atuar até pela esquerda se preciso e ajudou mais no ataque do que estava acostumado.

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  • Thiago Silva

    Outro líder do elenco, o zagueiro ganhou muitos pontos com a comissão técnica por ter se concentrado com o time machucado durante as Eliminatórias de olho na Copa América. Aos 36 anos, ainda mostrou que tem condições de jogar a Copa.

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  • Neymar

    Como camisa 10, fez excelentes apresentações, participou de quase todos os gols da seleção, até mesmo como dono da bola parada, e pode ser o diferencial de um time que é extremamente competitivo na marcação.

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  • Ederson

    Goleiro se consolidou como o titular da seleção após o rodízio na primeira fase e conseguiu desbancar Alisson, que parecia o absoluto da posição até há pouco tempo

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Lucas Figueiredo/CBF

O técnico insistente

Ao longo da trajetória da seleção, Tite sempre foi muito questionado pela insistência que tem com determinados atletas que já foram bem no passado, mas não brilham no momento. Paquetá é um exemplo que foge à regra. Mesmo depois de passagem apagada na seleção, ele continuou na lista e conseguiu brilhar.

Mas a lista tem nomes como Everton Ribeiro, que teve um ano apagado no Flamengo e foi mantido ainda assim, mesmo num ano de escassez de jogos, limitando as possibilidades de teste. Ele conseguiu aparecer bem por 45 minutos nessa competição, logo na estreia, mas depois sumiu de novo. O próprio técnico reconheceu, ao revelar a lista, que o atleta não estava bem no clube, mas que ele apostaria "no momento de retomada".

Roberto Firmino é outro que estava mal no Liverpool e manteve o baixo desempenho quando vestiu a amarelinha. Everton Cebolinha deu dinâmica ao time quando entrou diante do Peru, na semifinal, mas não conseguiu nem de longe repetir o brilho que teve em 2019. Sua performance esteve mais parecida com a da temporada no Benfica, que também não foi muito boa.

Buda Mendes/Getty Images

Fim da linha?

Depois de tanta comoção pela convocação de Gabriel Barbosa, Tite finalmente cedeu à desconfiança que tinha em relação ao atacante e deu a ele uma chance. O flamenguista bateu seu recorde próprio de sequência na seleção brasileira e não correspondeu.

Se antes a questão era comportamental e tática, especialmente nas funções exercidas sem a bola, agora, o questionamento passa a ser também técnico. Nos jogos que entrou, ele ficou apagado, mesmo com companheiros com nível superior aos que encontra no clube —como Neymar, por exemplo.

A comissão técnica insistiu, disse que precisaria dar mais minutos para que ele entendesse a dinâmica da seleção, mas no mata-mata sua presença foi quase nula. Será que Gabigol vai continuar na lista para a próxima convocação em setembro para as Eliminatórias?

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