Medalhões de ouro

Hulk e Willian mostram como jogadores ex-seleção podem fazer a diferença no Brasileiro; Calleri vai rivalizar?

Igor Siqueira Do UOL, no Rio de Janeiro Pedro Souza/Atlético-MG

Teve golaço, assistência, dribles e um espetáculo individual que impulsionou ótimos resultados para Atlético-MG e Corinthians. Hulk e Willian mostraram na primeira rodada do Brasileirão como medalhões que no passado já brilharam na Europa podem fazer a diferença ao longo do campeonato. Não se trata de apostar simplesmente pelo currículo. Mas o repertório deles em campo justifica a expectativa.

Para Hulk, parece até que o Brasileirão 2021 não terminou. Ele foi o grande destaque do Atlético-MG campeão do ano passado, quando também foi artilheiro da Série A com 19 gols. A largada de Hulk na edição 2022 foi com dois gols diante do Internacional. Ele só não terminou a rodada como artilheiro porque Calleri teve um jogo espetacular pelo São Paulo, fazendo três dos quatro gols da vitória sobre o Athletico no Morumbi.

Aos 35 anos, Hulk leva ao Atlético-MG o combo completo do que se espera de um jogador do porte (não só físico) dele: referência técnica, liderança expressa pela capitania e um carisma que cativa o torcedor — a simbiose é perfeita.

Já Willian, de 33 anos, foi o principal nome da vitória do Corinthians sobre o Botafogo, no Rio. Ele não balançou as redes, mas deu duas assistências para os três gols corintianos, todos marcados ainda no primeiro tempo. A intensidade de Willian representou o atropelo que o time de Vitor Pereira protagonizou no Nilton Santos. A plasticidade das jogadas decisivas durante os 45 minutos iniciais reforça a qualidade do jogador em questão.

Para os dois, foi um belo jeito de começar um Brasileirão do qual se espera muito ainda do Palmeiras, que começou perdendo, e do Flamengo, que ainda não se encontrou na temporada e estreou empatando. Dentro e fora de campo, a temperatura é alta: foram duas demissões de treinadores após a primeira rodada.

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Pedro Souza/Atlético-MG
Thiago Ribeiro/AGIF

A questão é se manter saudável

Ver Hulk e Willian brilhando por aqui, inclusive, remete a um passado recente da seleção brasileira - ambos estiveram juntos na Copa do Mundo de 2014 e Willian foi ao Mundial da Rússia, em 2018. Quando eram contemporâneos na seleção, eles, inclusive, brigavam por posição na ponta direita do ataque. Atlético-MG e Corinthians, inclusive, apostam muito em jogadores experientes com histórico de seleção, mesmo que não seja a brasileira. No Galo, tem Godín e Vargas, por exemplo, enquanto o lado corintiano conta desde o ano com Paulinho, Renato Augusto e Giuliano.

Parte fundamental dessa equação é a condição física desses jogadores que já passaram dos 30 e estão na fase final da carreira (em tese).

Hulk tem um preparo físico acima da média. O apelido não é por acaso. Ano passado, ele esteve em campo em 35 das 38 partidas na campanha do título do Galo. No primeiro jogo (Athletico), ficou fora porque pegou conjuntivite. No segundo (Santos), foi poupado por Cuca. No terceiro (Grêmio), estava suspenso - mas esse já foi na última rodada. O atacante diz que precisa abdicar de alguns "desejos":

Se perguntar, todos os jogadores querem jogar todos os jogos, mas ninguém é de ferro. A gente procura descansar, abdica de algumas coisas que a gente tem vontade de fazer, para jogar futebol. Eu gosto de tomar a minha cervejinha, o meu vinho, mas não tomo todos os dias, tem que descansar".

Já Willian é um jogador de velocidade e ganhou apelido de "Foguetinho" na seleção, dado por Tite. Mas é preciso atenção com a questão física. Diante do Botafogo mesmo, ele só jogou o primeiro tempo porque sentiu um incômodo na coxa. Por precaução, foi substituído. Em 2021, Willian perdeu sete partidas seguidas do Brasileirão por conta de um problema muscular na coxa esquerda.

No começo do Paulistão 2022, o meia chegou a ser preservado das partidas contra Santo André e Santos "para seguir o planejamento de trabalho de controle de carga e condicionamento físico". Em uma temporada intensa, com o Brasileirão terminando na metade de novembro por causa da Copa, pensar nisso é pertinente.

Os primeiros gols de Hulk no Brasileirão 2022

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Os números falam sobre ele. São números incríveis para um jogador. Atleta de primeiro nível. Por sorte, temos ele. Temos que aproveitá-lo, porque ele tem muito compromisso com o clube. Isso se pode descrever com uma palavra: humildade. Tem muita humildade. É uma estrela, mas dá exemplo.

Antonio Mohamed, Técnico do Atlético-MG, sobre Hulk

Ettore Chiereguini/AGIF

Calleri desponta como rival pela artilharia

A primeira rodada foi muito promissora para o atacante Calleri. O argentino do São Paulo foi absolutamente dominante no jogo contra o Athletico, no Morumbi. Três gols logo na primeira rodada já o coloca à frente da disputa pela artilharia do Brasileirão e o transforma em um potencial candidato a ficar no topo da lista ao término da competição.

Calleri voltou ao São Paulo no meio do ano passado e nunca conseguiu disputar um Brasileirão por inteiro. Em 2022, é a primeira oportunidade. Quando teve sua primeira passagem pelo tricolor, em 2016, ele só ficou seis meses, fez cinco jogos pela Série A, com três gols. O destaque maior foi pela Libertadores, inclusive. Em 2021, ele foi anunciado em 30 de agosto e chegou a atuar em 16 partidas, balançando as redes cinco vezes. Agora, em 2022, já larga com três na primeira rodada.

Diferentemente de Willian e Hulk, Calleri não tem grande experiência em seleção — disputou os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, pela Argentina, mas nunca esteve em campo pela principal.

O que há em comum é a experiência na Europa. Foram cinco temporadas no Velho Continente, uma na Premier League com o West Ham e outras quatro na Espanha, alternando entre Las Palmas, Alavés, Espanyol e Osasuna.

Ao voltar ao São Paulo, onde conseguiu uma identificação muito rápida com a torcida, ele já se colocou como um dos principais centroavantes no Brasileirão. O hit "Toca no Calleri que é gol" foi muito verdade na primeira rodada.

Além de Hulk, outros atacantes que normalmente disputam a artilharia do Brasileirão são Gabigol e Bruno Henrique, do Flamengo. É bom ficar de olho em como será o faro goleador de Raphael Veiga no Palmeiras. Quem sabe também Léo Gamalho, do Coritiba, consiga replicar a fase artilheira que teve na Série B. O primeiro dele já saiu.

Assista aos gols de Calleri no São Paulo x Athletico

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Divulgação/Site oficial do Athletico

Uma rodada, dois técnicos demitidos

Uma coincidência até cruel é que o Brasileirão 2022 começou com o brilho do protagonista do ano passado, mas também uma repetição do primeiro técnico a ser demitido: Alberto Valentim. Se em 2021 ele perdeu o emprego depois do primeiro jogo na Série A pelo Cuiabá, a saída desta vez é do Athletico, que foi a vítima do São Paulo no Morumbi.

"A gente conversou, o clube achou melhor que o trabalho fosse encerrado aqui".

Mas já no início da madrugada de hoje (11), o América-MG já gerou a segunda troca de treinador no Brasileirão. Marquinhos Santos não resistiu à derrota para o Avaí. O clube citou que foi "em comum acordo". Marquinhos chegou dar entrevista após o jogo na Ressacada, mas a decisão pela demissão for oficializada no hotel. O América disse que antecipou o fim do contrato, que seria em maio de 2022.

Vale lembrar que não há mais no regulamento do Brasileirão a restrição para demissão de treinador que vigorava ano passado — ao menos no papel. Logo, não há mais motivo para dizer se a troca foi por comum acordo ou não. O Athletico inaugurou a lista de trocas de técnico podendo fazer a mesma coisa quantas vezes desejar. O América pode seguir o mesmo caminho.

Em 2021, ano em que vigorou a restrição, o Brasileirão teve, ao todo, 21 trocas de técnico. Foi a segunda menor marca dos pontos corridos, perdendo apenas para 2012, que teve 20 mudanças de treinador. Cinco times resistiram sem mudanças de treinador: Atlético-MG (Cuca), Bragantino (Maurício Barbieri), Corinthians (Sylvinho), Fortaleza (Vojvoda) e Palmeiras (Abel Ferreira).

O regulamento foi alterado pelos clubes durante o conselho técnico da Série A, em fevereiro.

Então, lá vai a contagem que, pelo histórico do futebol brasileiro, certamente será ampliada em um futuro próximo:

Técnicos demitidos durante o Brasileirão 2022
1 - Alberto Valentim (Athletico)
2 - Marquinhos Santos (América-MG)
3 -

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Vitor Silva/Botafogo Vitor Silva/Botafogo

SAF, por si só, não ganha jogo

A torcida do Botafogo estava empolgadíssima. Fez um lindo espetáculo no Nilton Santos, encheu a casa para o primeiro jogo do Brasileirão após a passagem mais recente pela Série B e, sobretudo, o início da Série A sob a gestão de John Textor. Mas os 34.344 pagantes tiveram mais uma amostra de que ser Sociedade Anônima do Futebol (SAF), pura e simplesmente, não resolve os problemas de forma instantânea.

O Botafogo ainda precisa evoluir muito dentro de campo, ainda mais considerando a chegada de novos jogadores, como Patrick de Paula e Lucas Piazon, e o início do trabalho do técnico português Luis Castro.

Textor já tinha dito anteriormente, em entrevista ao jornal "O Globo", que "será um começo bem-sucedido" se o time não for rebaixado no primeiro ano. No Twitter, ele reforçou a necessidade de avanço com o tempo.

Obrigado a todos pelo maravilhoso apoio hoje. Não foi o resultado que queríamos. O "Botafogo Way" não será construído em um dia. Nós vamos continuar trabalhando e faremos isso certo.

Outro clube que já foi registrado como SAF na CBF e perdeu na primeira rodada foi o América-MG - parou no Avaí, por 1 a 0. O Cuiabá também tem a mesma forma de organização jurídica, mas como já nasceu como empresa, tem os processos mais desenvolvidos. Em campo, venceu o Fortaleza, no Castelão, também por 1 a 0.

Uma olhadinha na Série B permite constatar que transformar o clube em SAF não ganha jogo de imediato. O Cruzeiro começou a Série B perdendo para o Bahia por 2 a 0 e está na lanterna. Já o Vasco empatou com o Vila Nova: 1 a 1.

A opinião dos colunistas

UOL

Fla melhorou, mas a "Flamimimi" só vê defeitos

O empate (1 a 1) em Goiânia não foi o resultado dos sonhos para o Flamengo, independentemente de o Atlético ser o campeão estadual e entrar em campo empolgado. O time carioca fez sua melhor apresentação nas últimas semanas.

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UOL

Por que não jogou assim contra o Palmeiras, São Paulo?

Tivesse jogado 15% do que jogou hoje no Morumbi, jamais teria perdido a taça do Paulistão para o Palmeiras. Não mesmo, já que hoje foi um baile do time comandado por Rogério Ceni para cima do Athletico-PR. O Furacão foi varrido no Morumbi.

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UOL

Atlético-MG de Hulk começa com o pé no bicampeonato

Um gol no começo, outro no fim, diante de 37.531 torcedores. O no começo com Hulk tirando o goleiro colorado com extrema classe num toque com pé esquerdo para preparar o direito fulminante. O Galo ganhar deixou de ser novidade não é de hoje.

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Abre aspas

O Flamengo é maior que qualquer um. A gente não está aqui para fazer qualquer tipo de panela ou ter qualquer tipo de atitude desrespeitosa com o Paulo. (...) O Flamengo é muito grande. O Flamengo tem diversas páginas de Instagram, todo mundo falando uma coisa. Mas o intuito nosso é um só, o foco de buscar os nossos objetivos.

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Bruno Henrique, Atacante do Flamengo

Foi o primeiro jogo. Isso não é como começa, é como acaba. Disse antes que esse campeonato vamos encarar jogo a jogo. Foi um jogo difícil, já não bastava o pouco tempo de recuperação mais a viagem supercansativa, e aos 16 minutos estar perdendo por 2 a 0 foi muito duro. Em função de como ocorreu no início, ficamos sem energia mental e física.

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Abel Ferreira, Técnico do Palmeiras

Foram bem

  • Hulk

    Dois gols diante do Internacional, protagonismo e uma rotina muito agradável do atacante do Atlético-MG. É um dos principais nomes do Brasileirão e começou com tudo.

    Imagem: Divulgação/Flickr/Atlético-MG
  • Willian

    O cruzamento para Paulinho, de trivela, e a tabela que originou o gol de Piton (teve toque de calcanhar) coroaram 45 minutos espetaculares em campo pelo Corinthians diante do Botafogo.

    Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF
  • Calleri

    Três gols, atuação inquestionável de um São Paulo que tenta reagir após a perda do Paulistão. É um bom sinal do time de Rogério Ceni para o decorrer da campanha do Brasileirão.

    Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF
  • Mendoza

    Foi o destaque na surpreendente vitória do Ceará sobre o Palmeiras. Participou do primeiro gol e fez o segundo. Velocidade e habilidade explícitas a serviço do time de Dorival Júnior.

    Imagem: Jhony Pinho/AGIF

Foram mal

  • Willian Arão

    Mais um jogo perdido na marcação. O posicionamento dele no meio da área no lance do gol do Atlético-GO escancara a fragilidade da recomposição defensiva do Flamengo atual.

    Imagem: Gilvan de Souza/Flamengo
  • Jorge

    Atrapalhou-se todo e fez um gol contra na derrota do Palmeiras para o Ceará. O descompasso no começo da partida foi crucial para o raro tropeço do time de Abel Ferreira em pleno Allianz.

    Imagem: Divulgação/Site oficial do Palmeiras
  • Patrick de Paula

    O volante do Botafogo esteve mal tecnicamente e deixou a desejar no posicionamento durante a jogada que gerou o gol de Paulinho, o primeiro do Corinthians na vitória por 3 a 1.

    Imagem: Vitor Silva / Botafogo
  • Lucas Halter

    O zagueiro do Athletico não conseguiu achar Calleri na marcação ao longo da goleada para o São Paulo. O outro zagueiro, Pedro Henrique, também poderia estar sendo o protagonista deste espaço.

    Imagem: Divulgação/Site oficial do Athletico

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