Na primeira vez que eu disputei um Mundial na elite do ciclismo mountain bike, meus pais lotaram o nosso ônibus com as crianças e foram assistir à transmissão na praça. Ligaram a tela num gerador e aproveitaram o wi-fi da pracinha de Engenheiro Marsilac, bairro mais pobre e afastado da cidade de São Paulo. Até muito recentemente, nem internet em casa nós tínhamos.
Nosso lar fica na zona rural da maior cidade da América Latina. Aqui moramos eu, minha namorada, meus pais, meus dois irmãos de sangue, e duas dezenas de crianças e adolescentes acolhidos pelo Lar Nossa Senhora Aparecida, instituição que se mistura com minha família desde antes de eu nascer. Os pequenos são meus filhos. Os maiores, meus irmãos. Para todos, eu sou o Bu.
O Lar é minha casa, minha família e meu clube. Aqui, dos mais novos aos mais velhos, somos todos atletas da equipe Lar Nossa Senhora Aparecida. Os menores pedalam 10 quilômetros antes de aprenderem a amarrar os sapatos. O mais velho é campeão nacional sub-65. Eu, Luiz Henrique Cocuzzi, sou só mais um dessa equipe.
No dia 25 de julho, as luzes da nossa casa vão apagar mais tarde. Um sonho sonhado por centenas de crianças ao longo dos últimos quase 30 anos está prestes a se realizar. Pela televisão, elas vão ver pela primeira vez um ciclista do Lar disputar uma Olimpíada. Não vou dizer que é só o começo. É o meio. E, até o fim, ainda muita roda vai girar.