Marquinhos Gabriel vê Corinthians como favorito e sonha em ser protagonista
Apesar do nome no diminutivo e da fala tímida, em tom de voz baixo e com o olhar disperso, Marquinhos Gabriel demonstra convicção em suas palavras. Em entrevista ao LANCE!, o meia não hesitou em colocar o Corinthians como favorito ao título do Brasileirão, apontar a Seleção e o futebol europeu como sonhos para o futuro da carreira e dizer que pretende ser protagonista no Timão após ser coadjuvante em outros clubes.
Apenas em um momento o atleta de 25 anos mostrou insegurança e cautela diante da reportagem no CT Joaquim Grava...
- Pô, vai ter foto? Tinha que ter avisado antes, aí arrumava o cabelo, não vinha de boné - brincou o camisa 31, antes de ser clicado.
Após algumas poses (com e sem o chapéu), Marquinhos preferiu esconder o black power, que segundo ele estava amassado, e concedeu a seguinte entrevista:
Você teve destaque nos clubes em que passou, mas sempre como coadjuvante. No Corinthians, sua contratação foi muito esperada e badalada, e logo no início você virou batedor de pênalti da equipe e marcou gols. Chegou a sua hora de ser protagonista?
Sim, é verdade, não cheguei em outros clubes com tanto peso. Estou sentindo isso agora, mas tenho que trazer para a parte positiva, trabalhar cada vez mais, pois sei que a cobrança vai existir. Não que não existisse em outros lugares, mas agora eu sei que será maior. Minha dedicação será sempre a maior possível para que eu me mantenha em um nível alto de competitividade e até para trazer o retorno e a confiança que depositaram em mim. Preciso fazer com que esse protagonismo se torne real, mas sem esquecer o lado coletivo.
Você lida bem com essa pressão para ser protagonista ou isso pode te atrapalhar?
Todo jogador tem que ser assim, buscar o jogo, aparecer quando a equipe está perdendo. Em nenhum momento vou me omitir. Vai ter momentos que vou acertar, em outros, errar, mas nunca vou deixar de me apresentar nas horas difíceis.
Em entrevista recente, o Guilherme afirmou que receber torcedores organizados no CT gera incômodo no elenco. Você concorda com ele?
Temos de saber lidar com essa situação, nos cobrarmos mais, nos dedicarmos mais nos jogos... As coisas vão acontecer com o tempo, naturalmente. Temos atuado bem, mas em uma ou outra jogada a gente está escolhendo a opção errada. No decorrer do campeonato vamos ajustar. É uma equipe muito nova, que está sendo montada, saíram muitos jogadores, chegaram outros, mas espero que a gente possa evoluir o quanto antes.
Sua chegada ocorreu em um momento em que o Corinthians vinha bem no Paulistão e na Libertadores. Depois, porém, o clube foi eliminado das duas competições e teve de lidar com protestos por parte da torcida. Isso te chocou ou fez você se arrepender de ter escolhido o Timão em vez do Santos?
No passado eu já escutava as conversas de que aqui a cobrança era muito grande, forte... Tentei colocar isso na cabeça antes mesmo de chegar ao Corinthians, para estar preparado. Quando a fase é boa, todo mundo exalta os jogadores, mas quando não vai bem a cobrança é grande. Eu tenho me preparado também mentalmente para essas situações. Não é por pressão que dentro de campo vou deixar de correr. Vou sempre me cobrar para melhorar. Com certeza vamos dar a volta por cima e conseguir coisas maravilhosas nessa temporada.
Essas coisas maravilhosas seriam títulos, certo? Vê a equipe como favorita ao Brasileirão?
Acredito que sim, confio muito no elenco que temos aqui. Com o Tite tirando o máximo de cada jogador, temos um excelente grupo e vamos brigar pelo título. Tem que aprimorar algumas situações, mas com certeza brigaremos pelo título.
Ao ser apresentado, você apontou a chance de trabalhar com o Tite como um dos motivos para escolher o Corinthians. Como tem sido a relação com ele?
Ele trata todo mundo igual, quando ele acha que tem que chamar para um canto para conversar, ele faz, mas a maioria das conversas é coletiva. O Tite é tudo o que pensava, eu já tinha trabalhado com ele (no Internacional), mas por pouco tempo. Ele é muito correto com todo mundo, quem está melhor nos treinamentos e jogos fica no time, isso deixa o grupo do lado dele.
Qual a principal diferença que você pode destacar entre o Corinthians e os outros grandes de São Paulo que você já defendeu, Santos e Palmeiras?
Eu já sabia que a cobrança aqui era muito forte, e a visibilidade no Corinthians é grande também. Se soubermos trazer isso para nosso lado, jogarmos bem, nos aperfeiçoarmos a cada dia, podemos chegar na Seleção, ir para a Europa... Mas isso é no dia a dia, é preciso doação nos treinos e jogos.
Acredita que pode ter chances na Seleção? E atuar no futebol europeu também é um sonho?
Eu tenho esses sonhos, mas é claro que isso passa por fazer uma boa temporada. Eu preciso e tenho essas ambições. Não posso deixar de lado a parte coletiva, mas se o time todo se destacar, as individualidades vão aparecer.
Você abriu mão de regalias na Arábia Saudita para ter mais chance de realizar esses sonhos?
Eu deixei bastante dinheiro de lado, posso me arrepender no futuro, mas acredito que não irei. Vou buscar essa compensação trabalhando e conquistando meus objetivos pessoais no Corinthians.
O Al Nassr dificultou sua saída?
Nessa minha volta eu cheguei lá muito bem recebido. Foi diferente da minha primeira passagem. Quando cheguei lá na primeira vez, a pré-temporada foi em Abu Dabi, então não tive nenhuma recepção da torcida. Mas desta vez centenas de pessoas foram me receber, me senti de uma forma que nunca havia me sentido, foi um carinho enorme. Mas cheguei lá já falando que queria voltar, para eles também ficaria mais fácil se eles me liberassem, porque eu não conseguiria desempenhar meu melhor estando com a cabeça no Brasil. Eles me disseram que me liberariam, mas só no meio do ano, já que a janela estava fechando e eles não teriam tempo de contratar outro jogador para o meu lugar. Eu respeitei, acatei a decisão do clube. Aí consegui antecipar minha saída, já no fechamento da janela. Agora estou muito feliz aqui no Brasil.
O Tite mudou na última semana o esquema tático. No Santos, você chegou a atuar até mais à frente, no lugar do Geuvânio. Em que local se sente mais à vontade?
A gente tem que dar preferência para o esquema que o professor usa. Não posso falar que gosto de jogar aqui ou ali, temos de nos adaptar conforme a filosofia do clube e do treinador. Claro que me sinto mais à vontade pelos lados do campo. Mas não coloco isso como uma exigência, algo definitivo, mas sim para ajudar a equipe a vencer.
Por qual lado?
Ano passado eu jogava do lado esquerdo, com muita liberdade para me movimentar. Aqui também tenho liberdade de movimentação para o centro, para chegar na área... Somos cobrados para isso, chegar na área e fazer gols. Acredito que aperfeiçoando algumas coisas, ficaremos fortes e brigaremos pelos dois títulos que vamos disputar.
Noiva contribuiu para volta do meia ao Brasil
Diversos fatores pesaram para Marquinhos Gabriel voltar ao Brasil e escolher o Corinthians. A busca por maior visibilidade, o sonho de disputar uma Libertadores, a chance de voltar a trabalhar com Tite... Mas o meia teve de lidar com uma "pressão" forte e que poucos sabem.
Diana Staudt, noiva do atleta, teve dificuldades para se adaptar à Arábia Saudita e foi uma das pessoas que mais incentivou o retorno.
O jogador teve dificuldade de se adaptar à cultura do país do Oriente Médio, e a mulher dele, ainda mais.
- A vida lá é muito difícil. Foi complicado não só para mim, mas também para minha noiva. Ela precisava usar burca, às vezes quando ia ao shopping os guardas mandavam ela se cobrir, usar lenço, que é obrigatório para quem é saudita. Ela ia sem lenço, mas como é loira, chamava mais atenção. Ela ficava nervosa com essa parte e com a questão de não poder se arrumar. Toda mulher é vaidosa, ela queria se sentir bonita e não conseguia. Isso não me ajudava também, não ficava tranquilo. Então queria voltar ao Brasil, parte financeira naquela época ficou um pouco de lado para voltar para cá - contou.
Marquinhos Gabriel foi contratado pelo Al Nassr em 2014, após breve passagem pelo Palmeiras. O clube pagou cerca de R$ 5 milhões pelos direitos dele e lhe ofereceu um contrato milionário de três temporadas.
- No começo era uma oportunidade boa para mim financeiramente, tinha possibilidade de conseguir coisas que não tinha ainda, então pesei esse lado. Agora, na segunda vez, queria voltar. Fiz um bom trabalho aqui e para ter visibilidade e alcançar um outro patamar na carreira teria de jogar no Brasil ou um outro lugar que eu pudesse ser visto - disse.
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